Expansao

Academia Selfit quer chegar ao topo

Terceira maior rede de academia do país atualmente, a pernambucana Selfit, nascida em 2013, projeta ser a primeira do Brasil em no máximo cinco anos

Publicado em: 16/09/2018 14:00 | Atualizado em: 14/09/2018 17:17

Leonardo teve a certeza que estava na hora de empreender e apostou nesse futuro. Foto: Marina Curcio/ Esp. DP (Foto: Marina Curcio/ Esp. DP)
Leonardo teve a certeza que estava na hora de empreender e apostou nesse futuro. Foto: Marina Curcio/ Esp. DP (Foto: Marina Curcio/ Esp. DP)
Aos 34 anos, formado em economia e administração, Leonardo Pereira decidiu que era hora de empreender. Acumulava no currículo 1 ano e quatro meses como executivo de uma companhia nos Estados Unidos, antes de regressar a Pernambuco, em 2009. O que observou na temporada fora do país foi determinante para escolher seu futuro. Em 2013, quando era preparado para assumir a presidência de um grupo local de soluções tecnológicas, resolveu que seu negócio não era aquele e avisou aos seus chefes que ia investir no segmento de academia de ginástica. A reação, lembra Leonardo, foi de até um certo descrédito, de acharem que, por ser uma operação “simples”, a concorrência do negócio próprio não seria um empecilho para o futuro de Leonardo na empresa. Mas os planos do agora empresário eram mais audaciosos e, meses depois, já somavam algumas unidades na Bahia, Pernambuco e Paraíba.

Em 2015, com o reforço financeiro de um fundo de investimento (HIG Capital), a Selfit ganhou musculatura e acelerou sua escalada em progressão geométrica. Hoje, é a terceira maior do país. No fim de 2019, chegará à segunda posição, e a meta é ser a número um do Brasil em 2022 ou 2023 (a líder hoje é a Smart Fit). “Hoje, é a empresa do segmento fitness que mais cresce no Brasil (153% em faturamento anual”, diz Leonardo, CEO do grupo e sócio do também pernambucano Nelson Lins, que, inclusive, pode se dar ao luxo de ter lista de espera para novos alunos em algumas unidades, como a da Avenida Rosa e Silva. Quando perguntado sobre essa trajetória ascendente, de uma rede nordestina ser a terceira maior do país e projetar a primeira colocação, Leonardo respondeu de pronto: “Eu sou olindense (risos)”.

Entrevista: Leonardo Pereira

Mudança
Em 2012, tinha comprado uma pequena fábrica da minha tia. Meus primos tinham intenção de vender o negócio, pois não queriam tomar conta porque são advogados. Eu comprei com minha esposa. A empresa era de material cirúrgico muito utilizado nos hospitais e indústria de alimentação, como toucas, luvas, e eu me envolvi no negócio, apesar da minha esposa ficar mais à frente. Paralelamente, também em 2012, eu era diretor de operações de uma companhia local, na época com cerca de 10 mil funcionários, e estava sendo preparado para ser presidente. Ao longo desse processo, decidi abrir uma academia de ginástica. No Brasil, a taxa de penetração, ou seja, de pessoas que praticavam atividade física era em torno de 2%. Eu gostei de empreender e via uma oportunidade de negócio e decidi investir. Na companhia, quando eu disse que queria me desligar para investir em academia de ginástica, disseram: “Vá lá, é uma operação simples, não vai atrapalhar”. 
 
Transição
Nessa história, passei quatro meses tentando convencê-los que precisava me desligar. Eu já tinha me decidido. Fizemos um business plan e abrimos a primeira academia dentro do Grupo Pão de Açúcar, em Salvador, porque, no que tinha estudado, era onde fazia mais sentido para a gente. Tínhamos uma meta de alunos para chegar em 2 anos e conseguimos isso em 45 dias. Gerou um caixa muito interessante e vi que realmente era um grande negócio. 

Inspiração
O que me fez entrar nesse segmento? Na Califórnia, em São Francisco, as academias eram muito intensivas em equipamentos. E você tinha naquela época, 2011, 2012, o advento da classe C, o aumento de renda e o deslocamento e penetração de consumo muito grande no Brasil. E aí resolvemos que tínhamos que implementar uma academia muito intensiva em equipamentos, com preço razoável. No estudo que fizemos, ficou claro que o que gerava mais margem de contribuição era musculação. Então focamos nisso com um pouco de ginástica. Então fomos a primeira academia do Brasil a empregar esse sistema de entregar muito valor, com uma experiência bacana, com um custo competitivo. É o formato que lá fora é conhecido como low cost. Sentimos a transformação das pessoas, aqui era muito carente, e observamos que as pessoas começaram a sentir que podiam fazer parte desse processo, porque, historicamente, quem faz essas atividades têm melhores condições econômicas. Ainda se tem o conceito que, no Brasil, para as pessoas com um pouco menos de educação, atividade física é supérfluo. Nos países nórdicos, a taxa de penetração (quem pratica) é de 21% a 23%, enquanto que no Brasil é de 4,7%.

Uma rede
Sempre pensei de uma forma maior, pensando em rede, um sonho grande. Em dois anos, abrimos cinco unidades de academia: três em Salvador, uma aqui no Recife (em 2013), e uma em João Pessoa. Sempre pensei que poderíamos crescer mesmo na crise, mas os bancos fecharam as portas dos seus créditos. Nosso negócio é muito intensivo em capital. Uma academia de ginástica custa de R$ 3,5 milhões a R$ 4,5 milhões para montar a estrutura operacional. A manutenção média por mês custa R$ 200 mil. Muitos fundos de investimento batiam na nossa porta. Mas nossa geração de caixa ainda era pequena e não fazia sentido para mim. No fim de 2015 e início de 2016, fechamos com um fundo chamado HIG Capital, que entrou com um aporte significativo (não pode revelar os valores). De lá para cá, saímos de cinco unidades para aproximadamente 45 e teremos, até o fim do ano, 52. Estamos presentes em todas as capitais do Nordeste, em Manaus (AM) e Belém (PA), e estamos em construção em Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo. Hoje, é a empresa do segmento fitness que mais cresce no Brasil. O crescimento é de 153% a cada ano no faturamento. 

Cartão de visitas
Já temos, inclusive, lista de espera para a entrada em algumas unidades, como a da Avenida Rosa e Silva. Temos máquinas muito mais voltadas para o bem-estar e menos exposição a lesões; se o cliente faltar 15 dias, por exemplo, mandamos e-mails; temos pesquisas de satisfação; E temos uma obsessão e paixão pela experiência dos nossos hóspedes. Nossa inquietação é quase crônica. Nosso propósito é ser mais que uma academia de ginástica. É estar conectado à vida das pessoas. É importante, além do aspecto educacional, que as pessoas entendam que a academia não é uma questão exclusiva, ela pode ser um complemento. Uma pessoa pode ir à praia, fazer uma atividade ou praticar um esporte, mas a academia pode ser algo complementar e diferenciado. Você precisa de massa muscular, sobretudo a partir de determinada idade. O condicionamento físico até a década de 1950 tinha outro conceito. Alguns achavam que fazia mal ao coração. 
 
Mercado
Por que no Brasil existem 35 mil academias? Nos EUA, são 38 mil. Nos EUA, a média de alunos é 1.600 por academia, no Brasil, 278. Aqui, forma-se muito educador físico e, ainda que não se tenha a formação para empreendedorismo, partem para abrir uma academia. Em Portugal, cerca de 12% pertencem aos principais grupos de donos de academia como nós. No Brasil, isso representa 3%. Quando olhamos o número de alunos, em Portugal, 55% estão nas grandes academias. No Brasil, 8% estão nas grandes redes. No mundo inteiro, a tendência é o achatamento dessas academias periféricas que ainda se mostram crescente aqui no Brasil, mas isso chegará aqui também. Existe saída, como os estúdios personalizados, as academias de pilates, que são uma tendência legal. 

Novidades
Anuncio aqui de antemão: seremos a primeira rede 100% conectada do Brasil. Teremos 100% da rede com WiFi de alta qualidade. Isso melhora sem dúvidas a forma de execução da experiência. Não temos porque não oferecer se o nosso cliente gosta e se demonstra necessidade. Temos um mapa de calor por meio de onde sabemos quais as máquinas preferidas ou mais ocupadas, isso faz com que você adapte a forma como está a unidade de academia e atender de acordo com a demanda. As máquinas preferidas são as importadas. A preferência é que tenha um temporizador e contador, a máquina que diz por quanto tempo você está nela. Para os homens, puxadores de costa e o flight voador são os preferidos. Para as mulheres, as máquinas perseguidas são flexora e os equipamentos de glúteo.

24 horas
O funcionamento por 24 horas é uma realidade em grandes centros urbanos do Brasil, inclusive no Nordeste. As razões para uma operação ininterrupta são necessidade de verticalização e proximidade, até porque o deslocamento tende a ser mais curto de madrugada, e nós temos de 100 a 200 alunos em média. Mas, em movimento, está longe de ser algo razoável (financeiramente). É mais pela experiência. No Recife, apenas a unidade da Rosa e Silva funciona assim. 
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