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Marie Mercié

Confecção de moda cresce no meio de engenho em Itambé

Com 33 anos de operação, MM Special, que funciona em um engenho localizado em Itambé, emprega 300 funcionárias da região

Publicado em: 16/06/2018 16:22 | Atualizado em: 16/06/2018 16:23

Mércia Moura iniciou a confecção em 1985 e hoje atende a todo o país e também já iniciou exportação. Foto: Rodrigo Lobo/Divulgação (Foto: Rodrigo Lobo/Divulgação)
Mércia Moura iniciou a confecção em 1985 e hoje atende a todo o país e também já iniciou exportação. Foto: Rodrigo Lobo/Divulgação (Foto: Rodrigo Lobo/Divulgação)
Quando trabalhamos um sonho, fazemos algo sustentável”. Essa foi a resposta de Mércia Moura quando questionada sobre o crescimento de sua marca, Marie Mercie. Comodismo nunca foi seu forte. Oriunda de uma tradicional família do interior pernambucano, Mércia cresceu em Timbaúba, cidade da Zona da Mata pernambucana. Aos 12 anos passou a frequentar um colégio interno no Recife, só para meninas. Casou no mesmo ano em que passou no vestibular para a faculdade de desenho industrial da Universidade Federal de Pernambuco. O curso ficou pelo meio do caminho ,mas foi justamente do casamento que surgiu o negócio. Ou melhor, do local onde moravam.

Mércia e o marido moravam no engenho Pangauá, na cidade de Itambé. Um lugar com 1,5 mil hectares. Mesmo após a chegada dos filhos (Paulo Gustavo, Filipe e Marisa), Mércia sentia falta de algo que fosse além das atividades de dona de casa. Nos arredores do terreno do engenho, ela conheceu Nelita, uma costureira da região. Além dela, Penha, Aldenita, Tezinha e Vera, todas funcionárias da fazenda. Foi daí que surgiu o negócio. “Reuni as meninas, coloquei todo mundo em uma caminhonete e digiri até a casa de uma tia que trabalhava com moda para aprendermos o básico do ofício. Decidimos trabalhar com camisas e batizei a marca de MM Special, selo hoje usado para o atacado. Meu sogro, vendo meu empenho, me ofereceu a casa-grande do engenho, que estava desocupada, para que eu pudesse iniciar a produção”, conta.

A empresa iniciou em 1985 com a produção de blusas femininas. A inspiração para os desenhos das peças estava na década de 1970. “Foi uma época que eu vivi. Então eu pesquisei e montei a coleção. Meu primeiro cliente foi Assis Farinha, que estava à frente da loja Ele e Ela. Ele aceitou dar uma olhada no material e aí comprou. Foi o nosso começo”, relata cheia de orgulho. Um ano depois, já eram mais dez costureiras contratadas. “Nesse ano, minha mãe soube de uma feira de confecção na Alemanha aonde iriam algumas marcas do Brasil e me incentivou a participar. Enviamos uma coleção de uns 12 modelos. A MM Special foi a única empresa do Nordeste que participou e recebeu encomendas. E aí começamos de fato a crescer”.

E assim a casa-grande do engenho Pangauá foi ficando de lado e se transformou em uma confecção de grande escala. Hoje são mais de 300 empregados diretos, sendo 180 costureiras. Por dia, são produzidas 1.100 peças. “Por ano são três coleções lançadas. Os desenhos são enviados para a nossa distribuidora e a produção das peças saem de acordo com a demanda. O que vai acabando nas lojas, nós vamos repondo. Todo dia repomos as peças nas lojas, de acordo com a demanda que temos”, relata.

Capacitação

Com o crescimento da confecção e da necessidade de uma mão de obra qualificada, Mércia deu início a um outro projeto dentro dos terrenos do engenho: uma escola de capacitação. Todas as mulheres que frequentam ganham um salário mínimo. “Grande parte dos funcionários chegou na empresa sem saber de nada do escopo de trabalho, mas hoje não pensa em fazer outra coisa da vida, apenas acompanhar o crescimento da marca”, diz. Por ano são abertas três turmas, cada uma com capacidade de 12 meninas. Os cursos têm duração de um quadrimestre.

Lojas físicas para varejo são consolidação do projeto

A primeira loja da MM Special foi inaugurada em São Paulo, no Bom Retiro. A unidade se tornou o carro-chefe da confecção, funcionando até hoje, sempre voltada para o atacado. Em 2002, surgiu a segunda marca, a Maria Mercié, com vendas exclusivas para o varejo. E aí mais duas lojas físicas foram inauguradas, uma no Shopping Recife e outra no RioMar. As duas unidades receberam um investimento de R$ 3 milhões.

“As lojas são a base para o nosso projeto de franquias. Não lançaremos agora, mas está no nosso planejamento. Estamos fortalecendo clientes nos pontos de vendas que já existem. Antes da franquia, investiremos no e-commerce, isso deve vir este ano. Estamos formulando e pensando neste projeto. Também avaliamos a possibilidade de inauguração de uma loja física em São Paulo voltada para o varejo. Está nos nossos planos”, conta Mércia Moura.

No ano passado, a empresa registrou um crescimento de 20% nas vendas. Este ano, a expectativa é manter o ritmo de crescimento. “Novembro de 2017 foi o melhor dos últimos cinco anos. O ano passado percebemos que nossas pesquisas foram muito acertivas”, afirma Mércia. Pelos cálculos da empresária, 90% do que é fabricado é enviado para São Paulo e de lá é distribuído para outros mercados. “Quase 40% do que se distribui lá, fica em São Paulo”, calcula. Fora do país, a empresa já vende os produtos para Argentina, Chile, Angola, Estados Unidos, França, Portugal e Canadá.

Independente do mercado, a MM tem como carro-chefe as camisas femininas. Entre as características das peças estão informações de moda regionais, como transparências de rendas, renascenças, bordados e rechilieu. “Cada produto passa pelas mãos de, no mínimo, dez pessoas até ficar pronto. Isso dura um tempo médio de 15 dias devido o cuidado artesanal dedicado a cada peça”, enfatiza a empresária.

As inspirações para cada coleção vêm do mundo e da região. São lançadas anualmente três coleções com cerca de 80 peças cada: inverno, verão e uma coleção cápsula para alto verão inspiradas nos principais desfiles das semanas de moda de Paris, Londres e Nova York e também regionalismo do Nordeste.

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