Diario nos Bairros

A boate dona da noite recifense

A Fun House, na Torre, imperou na vida norturna da capital nos anos 1990, com 11 ambientes para diversas tribos. Lotação de cinco mil pessoas era recorrente

Publicado em: 05/06/2018 10:01 | Atualizado em: 05/06/2018 10:05

Severino Mendonça relembra com saudosismo os tempos de proprietário do local. Foto: Peu Ricardo/DP

Falar da boate Fun House com quem a frequentou é certeza de saudosismo. Lembranças de um local eclético e quase sempre com casa cheia. O espaço funcionou no bairro da Torre de 1993 a 2001. No auge, ostentou mais de 4 mil metros quadrados divididos em 11 ambientes. À frente do negócio, o empresário multisetorial Severino Mendonça lembra dos bons tempos de quando fazia aquela máquina da noite rodar. Para se ter ideia, operava com quase 200 funcionários para dar conta, em lotação quase recorrente de mais de 5 mil pessoas. Passados os anos, Mendonça confessa não ter mais gás nem idade para resgatar um projeto do tipo, mas se orgulha dos elogios que recebe até hoje, quase 20 anos depois de encerrar as atividades.

“A casa veio de uma conversa informal com o empresário Beto Kelner, que é muito criativo e com quem eu já era sócio na boate Doctor Freud. Minha primeira experiência na noite, mas que eu não estava na linha de frente, porque tocava outras empresas. E eu sou proprietário de um imóvel, que era alugado à então boate Balacuda, que dava indícios de fechar. Quisemos transformar em uma nova casa. Era o início da Fun House”, lembra. Inicialmente com quatro ambientes, a Fun House contava com a atriz e humorista pernambucana Fabiana Karla, que fazia a animação de alguns espaços.

Até hoje, o mapa ainda está na cabeça de Severino. “Ao entrar, o primeiro ambiente era o Woodstok, para quem gostava de rock, depois vinha o African Bar, onde tocava uma música mais intimista dos anos 1970 e que já era conectado ao Mexican Bar, que tinha um som mais caribenho, onde as pessoas subiam no balcão, com bebida”, destaca. “Algumas cortinas dividiam espaços. Eram 20 centímetros de separação entre eles e não tinha mistura de sons. Depois, você chegava no Black Out, onde a música eletrônica reinava e só abria de meia-noite. Em seguida, o Espaço Brasil, com samba, pagode e outros ritmos brasileiros. Era casa lotada”, pontua.

Os shows eram um evento à parte. “Recebemos o norte-americano Billy Joel duas vezes e muito grupos nacionais de sucesso da época, como Pato Fu, Milton Nascimento, Edson Cordeiro, Jota Quest, entre outros. Reginaldo Rossi era frequente. Eram 3,5 mil pessoas só na área de shows”, ressalta. 

Seguindo o tour, também tinha o Espaço Havaí. “Era um ambiente aberto, que consegui de uma casa que comprei ao lado e ganhei mais 800 metros quadrados para a boate. Era lindo o espaço, com garçonetes a caráter com o clima havaiano, com uma parede formando uma cachoeira que formava uma cortina de água e luz. No mesmo espaço, coloquei uma fonte”, lembra. “Na saída desse ambiente, ocupei uma casa, dessa vez alugada, com mais 400 metros quadrados, onde criamos o Espaço Country, também ambientado, trajes no perfil e, para arrematar, eu coloquei um touro mecânico. E o sertanejo nem tinha todo o cartaz que tem hoje.” A estrutura ainda contava com dois restaurantes: o Japan Club e o Espaço Italian. “A Fun House tinha até um sexy shop”, recorda Severino.

A noite também era motivo de lembranças não tão boas. “A casa foi assaltada duas ou três vezes. Levaram a renda toda. Em uma noite roubaram até o cofre da boate, que tinha uns 200 quilos. Não sei como, mas sei que levaram”, lembra, hoje rindo.

A boate funcionava de quinta a domingo. Na época, Mendonça trabalhava em São Paulo, onde operava uma empresa de transporte de valores para as regiões Sudeste e Sul, uma indústria no segmento de plástico e iniciava na área de informática. “Passava até a quinta em São Paulo e depois vinha para o Recife para a noite da Fun House”, recorda. Esse pacote de multiatividades também foi determinante na hora de decidir fechar. “Era um custo fixo alto e não era minha atividade principal. Não ganhei dinheiro e não perdi. Era a ideia de curtir e fazer a noite que seduzia”, pontuou. 

Se apostaria de novo em um projeto do tipo, ele decepciona os saudosos da geração: “Toda casa noturna tem um tempo de vida.”
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