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TIM descarta Oi, diz diretor da companhia italiana

Diretor da operadora italiana diz que, agora, meta é garantir entrega de resultado a acionistas

Publicado em: 04/05/2018 13:47 | Atualizado em: 04/05/2018 13:52

Foto: Divulgação

A negociação entre TIM e Oi parece ter esfriado. Ao menos foi a pista dada pelo diretor de operações da companhia italiana, Pietro Labriola, durante o lançamento de pacote de assinaturas em São Paulo. Em entrevista aos Diários Associados, o executivo disse que a prioridade da empresa é outra. Agora, ela está dedicada a estratégias para conseguir entregar resultado financeiro aos acionistas no fim do ano.

Pietro Labriola descarta o uso de parte dos R$ 12 bilhões anunciados como investimento deste ano a 2020 para qualquer outra destinação que não seja aumento de sua rede. A TIM tem acelerado a expansão da cobertura 4G e já conseguiu chegar a 100% em São Paulo e Rio de Janeiro.

Hoje, segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações, a TIM tem 24,55% de participação no mercado de telefonia móvel, com 57,9 milhões de clientes. Com isso, ocupa o terceiro lugar, colada à Claro, com 24,94%, segundo os dados de março, os mais recentes. Já a Oi detém 16,45%. Com uma possível aquisição, a operadora italiana ultrapassaria a Vivo (31,85%) e chegaria à liderança no mercado nacional. Confira a seguir, trechos da entrevista de Pietro Labriola.

Em outubro do ano passado, Stefano De Angelis, CEO da TIM, declarou que o futuro da Oi seria um tema para 2018, já que naquela ocasião não se vislumbrava solução antes de três a quatro meses. O tempo passou e a Oi ainda é o assunto principal no ambiente brasileiro de telecomunicações. A TIM ainda está no páreo?
O que tenho de confirmar é o que sempre foi falado pelo presidente (De Angelis). Nós estamos focados na entrega de resultado. Depois, fizemos uma parceria comercial com a Oi, que faz parte do dia a dia do nosso trabalho, mas nesse momento não queremos distrações, temos de ser focados. A verdade é que o resultado, e isso não é só com a TIM, depende do que você consegue entregar nos primeiros seis, sete meses. Por isso, esse ainda é o momento para não ter distrações. Tudo o que vou fazer com o resultado comercial de agosto a dezembro me ajuda para 2019. Tenho agora de entregar o melhor resultado comercial para garantir o número que foi compartilhado com o mercado financeiro. Não vai haver distrações.

Portanto, se não haverá distrações para a TIM é porque o tema Oi está fora da pauta da companhia nos próximos meses?
Continuo focado na entrega do resultado.

Mas o tema está fora da pauta?
O assunto mais importante é ser focado no resultado. Depois, como já foi falado pelo presidente da TIM na Itália, esse é um mercado que deve ter percurso de consolidação. Quando algo acontecer, vamos avaliar o que é melhor para a entrega do resultado da TIM. Vou dar um exemplo muito banal. Nós, para nos consolidarmos em 4G, temos de continuar a instalar fibra. Temos um orçamento que diz que tenho de escavar e colocar fibra. Para qualquer executivo, pode haver um questionamento se é melhor construir ou comprar algo que esteja construído. No nosso caso, temos nível de investimento já definido, resultado já comprometido com os acionistas e vamos continuar assim.

Os investimentos anunciados pela empresa seriam direcionados apenas para investir em rede, não para um outro destino, como uma aquisição?
Não, só para a rede.

O investimento total anunciado pela empresa de 2018 a 2020 é de R$ 12 bilhões. Será preciso acelerar os aportes neste ano devido ao lançamento de pacotes?
O programa continua conforme planejado, por isso vamos investir muito na construção da rede em fibra. Quando tiver um volume maior de dados, precisamos chegar com a fibra abaixo das antenas, continuar a desenvolver a rede 700 MHz 4G para ampliar toda a cobertura, esse é o desafio que temos. O futuro será todo com dados, será cada vez mais IP.

Até que ponto esse clima de instabilidade política e eleitoral no país tem influenciado na tomada de decisões?
Estamos seguindo em frente com o que já era o nosso plano. O que vemos no Brasil é a tendência de crescimento, ora com o pico acima, ora abaixo. Mas quando se vai fazer a interpolação, o Brasil sempre vai continuar a crescer, diferentemente de outras economias, como a da Argentina. Nossa estratégia é continuar a investir, porque o Brasil é uma potência. O resultado pode ser melhor ou pior por conta do contexto macroeconômico, mas no médio e no longo prazo o desempenho é sempre positivo. Nas telecomunicações, os investimentos não são feitos hoje para colher amanhã, mas, sim, pensando no retorno para daqui a um ou dois anos. O que acontece no Brasil hoje deixa a nossa empresa confiante de que o investimento é o justo e que haverá retorno.

Mas existe alguma preocupação por parte da matriz quanto a incertezas sobre qual poderá ser a política econômica do próprio governo?
No passado, a TIM teria de estar muito mais preocupada com esse tipo de contexto porque normalmente o que ocorre é que as classes sociais mais baixas é que são impactadas, que têm um gasto potencial muito mais baixo e no seu balanço entra o gasto em telecomunicação ou o gasto com o leite. No passado, quando a TIM era líder no pré-pago tinha uma exposição maior ao risco da macroeconomia. Agora que chegamos a uma base de pós-pago muito grande, temos parte da nossa receita menos conectada à macroeconomia. Isso nos deixa mais confiantes e permite continuar a investir sob uma lógica de médio e longo prazo.

Apaixonado pelos aplicativos
 
Enquanto não há definição sobre o futuro de TIM e Oi, a companhia italiana tem se esforçado para crescer. Neste ano, a expectativa de Labriola é de que a receita tenha incremento de 5% a 7%. Em parte, essa expansão virá do anúncio feito ontem. A operadora passará a oferecer pacote ilimitado de dados (VoIP) no WhatsApp. Além de apps de comunicação, como o Messenger, o cliente vai poder optar por pacote de mobilidade (com Waze e 99 Táxi), redes sociais (Twitter, Instagram e Facebook) e de video (com serviços como YouTube e Netflix).

O curioso é que até alguns anos atrás o WhatsApp era considerado um concorrente desleal entre as operadoras brasileiras, que se queixavam de que o app não tinha de cumprir as mesmas exigências, apesar de oferecer o mesmo tipo de serviço.

Labriola prefere tratar a afirmação feita pelo então presidente da Vivo e atualmente o CEO da Telecom Italia (controladora da TIM Brasil), Amos Genish, que classificou o WhatsApp como “operadora pirata”, como algo a ser superado, que fazia parte de uma outra realidade vivida há três anos. “Não faz sentido ter briga sobre a modalidade que o cliente quer mais, e isso tem de ser um aprendizado para todas as operadoras de telecomunicações”, afirmou aos jornalistas.

Para a TIM, a oferta de pacotes ilimitados de voz não é uma estratégia arriscada; até porque, lembra o diretor da operadora, quando o seu cliente usar o WhatsApp para uma chamada de voz para outra operadora, por exemplo, a TIM se livra de pagar R$ 0,05 referentes à tarifa de interconexão.

Dados apresentados pela consultoria internacional ComScore mostram que a estratégia de apostar nos benefícios com dados pode ser a mais alinhada ao que busca o consumidor. Segundo Eduardo Carneiro, diretor da empresa no Brasil, além de o smartphone ser responsável por levar a internet a grande parte da população, o tempo de uso da rede é muito grande. Hoje, segundo levantamento, o Brasil é o segundo país com mais minutos por pessoa no mobile, atrás apenas da Argentina.

As redes sociais e as ferramentas de mensagem instantânea ocupam 33% do tempo que o brasileiro passa no celular. Os apps, de forma geral, respondem por 89% do tempo que o usuário fica no dispositivo.
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