Perfil

A carona que mudou a vida de Boris Berenstein

Boris sonhava em ser pediatra. Mas quando um médico perguntou que especialidade gostaria de seguir, respondeu radiologia e as portas se abriram

Publicado em: 20/05/2018 17:00

Aos poucos, o médico vai desacelerando no ritmo de trabalho e passando o bastão dos negócios para o filho Leon Foto: Marlon Diego/DP (Foto: Marlon Diego/DP)
Aos poucos, o médico vai desacelerando no ritmo de trabalho e passando o bastão dos negócios para o filho Leon Foto: Marlon Diego/DP (Foto: Marlon Diego/DP)
O ex-soldado romeno Leon e a ex-prisioneira de um campo de concentração nazista Pola se conheceram após o fim da Segunda Guerra Mundial e, para viver esse amor longe dos conflitos em seus países, buscaram no Recife, onde já moravam os dois irmãos dele, o refúgio para uma vida mais em paz. De uma história na qual a superação norteou os passos da família na vontade de vencer na vida, os primeiros movimentos profissionais de Boris Berenstein foram quase como uma carreira invertida, iniciada por um MBA imposto pela vida, como ele gosta de narrar essa etapa de sua trajetória.

Durante a entrevista, o próprio Boris  faz e serve uma xícara de café à equipe do Diario de Pernambuco - e lembra que poucos donos de grandes empresas tomam atitudes como essa - como, mesmo que inconscientemente, forma de provar que seguiu seus sonhos e seu nome não se tornou referência em vão. Aos 12 anos, ele começou a ajudar o pai a entregar marmitas em caminhos íngremes nas ladeiras de Olinda.

Logo depois, era o responsável em mexer no sistema de notas e contas, já que o patriarca ainda não dominava o idioma. Mais à frente, entrou na universidade e, como estudante de medicina, viu seu destino se transformar em uma simples carona. “Eu tinha o sonho de ser pediatra. Mas, no carro, durante uma carona, um médico-professor me perguntou o que eu iria fazer e respondi de pronto que radiologia, talvez influenciado pelo recebimento de uns resultados de uns exames que meu pai tinha feito na semana anterior”, relembra.

Veio a oportunidade do primeiro estágio na área e, a partir daí, um outro sonho nasceu: o de ter a sua própria clínica. E, com isso, de humanizar o atendimento, principalmente em um setor da saúde considerado mais frio e distante do paciente. Foi daí que surgiu a clínica Boris Berenstein. Hoje, 30 anos após a primeira unidade, a marca já possui seis unidades em funcionamento (Olinda, Derby, Boa Viagem, Shopping Guararapes, Cabo de Santo Agosinho e Arcoverde, no Sertão do estado). Uma nova unidade vai abrir as portas no Shopping Patteo, em Olinda, em agosto deste ano, e mais duas estão previstas para Piedade e Paulista, ambas com inauguração somando investimentos na ordem de R$ 22 milhões.

Com 55 anos de trabalho e 30 anos da clínica própria, comemorados neste mês de maio, o médico e gestor começa a passar o bastão de seu negócio para a família, em um processo de sucessão que já dura cinco anos. Durante esse período, passou a dividir seu tempo e se dedicar não só à gestão da empresa que leva seu nome, como também aos netos e aos esportes, como o tênis. Boris parece daqueles apaixonados que dificilmente vai abrir mão do que realmente ama. Ou não totalmente. Nesta entrevista, ele fala de sua trajetória de sucesso e revela os planos para o futuro da sua clínica e também da sua vida pessoal.

Entrevista - Boris Berenstein

O início
De 1971 a 1973, eu era estagiário. Quando me formei, trabalhei com radiografia, onde estagiava e, depois, me tornei sócio da clínica. Mas, em 1988, tudo mudou. Eu me desliguei do grupo e comecei a carreira solo com minha clínica do Derby. Inclusive, morei no local por quase dois anos. A clínica funcionava no térreo e eu morava no primeiro andar. Eu precisava me dedicar mais à clínica. Vendi um carro e com o dinheiro comprei mais um aparelho. Sempre olhei mais a empresa do que a pessoa física. No fim, a realidade foi melhor do que o sonho. No começo, realizávamos 300 exames no mês. Hoje, quase 30 mil.

Desafios
Vencer os planos econômicos. Muitos equipamentos são importados. Dificuldade sempre existe. Tem que criar solução. No início, o capital humano também era muito difícil. Hoje, com medicina e cursos de formação técnica criou uma maior oportunidade. Mas as crises são difíceis. O país hoje ainda passa por uma crise. O setor menos atingido foi saúde, afinal, comida, saúde e produtos farmacêuticos não podem ter crise. Então, acreditamos nisso e nos preparamos para o crescimento dos usuários do plano de saúde.

Unidades
O público da clínica hoje é 95% dos usuários de planos de saúde. A unidade do Derby representa 50% do nosso movimento. Mas acreditamos que precisamos de uma maior capilaridade da rede. É o que chamamos ‘sempre perto de você’, sob aspecto afetivo e de comodidade. No próximo ano, inauguraremos projetos em Piedade e Paulista. Neste ano, estamos transferindo a unidade de Olinda para o Shopping Patteo. Acreditamos nesse modelo de shopping porque tem mais segurança e estacionamento. Estamos investindo R$ 22 milhões nessas três unidades.

Interior
Pode ser uma opção. A questão é que tem que ter capital humano, que é muito difícil. Por enquanto, só estamos em Arcoverde. Mas há alguns modelos sendo estudados para levar atendimento também aos municípios do interior.

Atendimento
Sempre gostei de acompanhar o desempenho, ver o movimento da clínica e identificar como fazer para atender mais e melhor. Sempre gostei da parte médica e gestão. A gestão está na minha raiz. Nunca fiz um MBA em gestão, mas tive o trainee com meu pai. É esse o perfil do médico que buscamos. Nosso desafio é humanizar o atendimento. Não adianta ter o melhor sistema, a melhor imagem, se você não tiver dado o ‘bom dia’ para o paciente. Existe uma barreira do paciente e do médico mas procuramos humanizar esse atendimento com mais qualidade.

Sucessão
Há alguns anos não sou só médico. Já me envolvo na sucessão, me preocupo com a empresa, com as pessoas e com a família. Existe um protocolo de família onde trabalhamos para evitar geração de conflitos. Eu gosto de trabalhar e é difícil deixar mas tenho que renovar algumas coisas e oxigenar. Por isso, temos uma consultoria na preparação da sucessão que trabalha tanto o sucessor quanto o sucedido e a família. Temos que preparar os acordos de família, senão vou criar um litígio muito grande. O risco é grande.
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