contribuição

Perto do fim do prazo, 14,8 milhões de contribuintes já declararam o IR

Contribuintes têm pouco mais de uma semana para enviar as declarações de renda de 2018 à Receita

Publicado em: 23/04/2018 11:00 | Atualizado em: 23/04/2018 11:03

Com várias fontes de renda, o engenheiro Ricardo Langsch pediu ajuda para preencher o modelo completo. Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press

A uma semana do fim do prazo de entrega da declaração do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) 2018, milhões de contribuintes ainda não cumpriram com a obrigação fiscal. Os computadores da Receita Federal receberão os informes até as 23h59 do próximo dia 30, uma segunda-feira. Estão na mira da Receita cerca de 28,8 milhões de contribuintes, mas, até as 17h da última sexta-feira, tinham prestado contas ao Leão cerca de 14,8 milhões.

Há contribuintes que, por diversos motivos, deixam tudo para a última hora. Também há aqueles que esperam deliberadamente o fim do prazo. São pessoas que têm direito à restituição do IR e preferem ficar no fim da fila de recebimento. É que, nesse caso, a correção do valor pela taxa básica Selic pode ser compensadora. Tributaristas, entretanto, alertam: fazer a declaração na última hora pode deixar o contribuinte tenso e, portanto, sujeito a cometer erros, esquecer informações ou não encontrar um documento, o que aumenta a probabilidade de cair na malha fina da Receita.

Quem perde o prazo de entrega da declaração paga multa de até 20% do imposto devido, com valor mínimo de R$ 164,74. “Se o contribuinte não conseguir prestar contas exatas ao Leão dentro do prazo, mesmo assim deve enviar o documento para evitar a multa e, em seguida, fazer uma declaração retificadora com as informações corretas”, recomenda a consultora tributária Elvira de Carvalho.

A médica Tamara Goes, 37 anos, diz que deixou a prestação de contas para a última semana do prazo por falta de tempo para juntar a papelada. Ela conta que, geralmente, consegue organizar e enviar a documentação ao contador logo no início do prazo aberto pelo Fisco, que começou em 1º de março. “Desta vez, me atrapalhei. Acho muito chato esse negócio de declaração de imposto, mas o problema foi mais de sentar e tirar um tempo para fazer esse tipo de coisa”, diz Tamara, que acredita já ter encontrado o último recibo de que precisava.

Nutróloga, Tamara trabalha numa clínica que emite uma nota fiscal para cada paciente e retém o imposto correspondente. Já o tributo calculado sobre o que ela recebe no consultório particular é recolhido mensalmente por um contador, que envia os CPFs dos clientes para a Receita Federal. “Médico não tem ideia dessas coisas de imposto. Tinha que haver um sistema de cruzamento melhor, para a gente não ter que juntar tanto documento”, critica. “Acho que o governo quer todo esse controle para cobrar mais imposto de quem emitiu a nota.”

Sandro Rodrigues, da Attend Assessoria, Consultoria e Auditoria, de São Paulo, é taxativo: “Não deixe para transmitir sua declaração no último dia”. “Leve em conta que o sistema da Receita Federal pode ficar sobrecarregado e, com isso, acarretar transtornos ao contribuinte, inclusive, com a impossibilidade de encaminhamento, gerando, por conseguinte, multas pela perda do prazo legal e sobre as parcelas de quem tem imposto a pagar”, diz o contabilista.

O supervisor nacional do Imposto de Renda, Joaquim Adir, diz que, com o avanço tecnológico, “não há mais sobrecarga nos computadores” do Fisco, como ocorria até há pouco tempo, provocando a rejeição de declarações nos últimos momentos do prazo. No entanto, reforça a recomendação para que todos não deixem para cumprir a obrigação na última hora.

A vice-presidente do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), Sandra Batista, adverte que uma declaração preenchida com pressa pode custar o sossego futuro do contribuinte. “O melhor é fazer tudo com tranquilidade, verificar se as informações estão completas ou se faltam documentos. Se houver dificuldade, o melhor é contratar um profissional para evitar a malha fina”, afirma.

Casa de ferreiro...

Por vezes, mesmo quem tem por ofício alertar os contribuintes sobre os prazos legais acaba ficando no fim da fila. É de praxe para Jakson Aires, contabilista, 36 anos, deixar para entregar a própria declaração de IR no fim do período estabelecido pela Receita. O motivo, porém, não é falta de atenção. É que ele precisa, primeiro, dar conta das encomendas de clientes.

Aires já despachou o informe da esposa, funcionária pública, que tem direito à restituição. “Para ela receber mais rápido, porque é melhor o dinheiro no nosso bolso do que no bolso do governo”, explica. Mas a declaração dele ficou para depois. “Geralmente, deixo para a última semana porque tenho imposto a pagar e é indiferente se pago no início do prazo ou no fim. Fiquei aguardando informações de instituições financeiras, acabou faltando um ponto ou outro, e não quero cair na malha fina”, diz o contabilista.

A consultora Elvira de Carvalho também aconselha o contribuinte retardatário que separe algum tempo, de forma a ler com calma o que pede o programa da Receita Federal, que pode ser baixado pela internet em computadores, tablets e celulares. “O velho dito popular sobre a pressa ser inimiga da perfeição é muito bem aplicado ao caso da declaração do Imposto de Renda”, comenta.

Elvira lembra que são muitos os dados solicitados e que a pessoa precisa saber, entre outras coisas, qual o modelo de declaração mais favorável. Se o contribuinte tem poucas despesas, é solteiro, por exemplo, sem muitas opções para abater o tributo, a melhor opção é utilizar o modelo simplificado, no qual terá direito a deduzir 20% do valor dos rendimentos tributáveis, até o limite de R$ 16.754,34.

Para pessoas como o engenheiro Ricardo Peixoto Langsch, 64 anos, que tem várias fontes de renda, é mais vantajoso preencher o modelo completo para, dessa forma, usufruir dos vários tipos de desconto e reduzir a mordida do Leão. “Não estou atrasado, estou no prazo”, defende-se Langsch, ao ser questionado sobre o motivo de não ter ainda encaminhado o documento ao Fisco. “Geralmente, estou sempre entre os últimos, porque fico esperando documentos. Aí, começo a alinhavar, faço rascunhos, vou preenchendo e fazendo um check list”, ou seja, listando o que falta, diz ele, que acabou de se aposentar do serviço público.

Além de aposentadoria, Langsch, que é viúvo, tem como renda a pensão da falecida esposa, rendimentos de um fundo de pensão fechado e aluguéis de imóveis de sua propriedade. “Cada renda tem tributação específica, tive de recorrer ao meu irmão, porque não sabia fazer”, explica. Para compensar, no modelo completo, ele tem direito a várias deduções do imposto, como as despesas com o plano de saúde e gastos com um dependente menor de idade que acabou de adotar, filho da atual companheira.
Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.
MAIS NOTÍCIAS DO CANAL