AGRONEGÓCIO

Embrapa desenvolve película para proteger frutas e facilitar exportação

Embrapa desenvolve produto que permite ao coco verde chegar ao destino, passados 50 dias da colheita, com a mesma qualidade. Para fruticultores, revestimento biodegradável fará setor ganhar competitividade

Publicado em: 16/04/2018 07:42

Depois de higienizado, coco é submerso em um produto à base de polissacarídio e de outros compostos que mantêm as características da fruta por mais tempo. Foto: Embrapa/Divulgação

A fruticultura é uma das atividades mais relevantes do agronegócio brasileiro. A produção nacional se caracteriza pela diversidade e qualidade de safras que podem ser colhidas ao longo de todo o ano, diferencial que contribui para que o Brasil seja o terceiro maior produtor mundial de frutas. Mesmo assim, o país vende pouco para o exterior. Ocupa a 23ª posição no ranking de exportadores, ficando atrás de nações cuja extensão territorial é bem menor comparada com a nossa, como Chile e Peru. Para aumentar o comércio internacional, a solução vem da ciência, com uma nova tecnologia — uma película biodegradável que reveste a fruta, prolonga a vida útil e mantém as características naturais.

O revestimento, que é comestível, foi desenvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Por enquanto, a película pode ser aplicado somente no coco verde. Além de aumentar a durabilidade do produto in natura, a tecnologia conserva as características nutricionais da fruta, mantendo, assim, a qualidade, mesmo passados 50 dias da colheita. Na prática, a película biodegradável garante que a água de coco nacional possa ser saboreada em outros países assim como é consumida no Brasil — natural ou gelada, diretamente do coco verde.

A película biodegradável é produzida à base de um polissacarídeo e de outros compostos, que protegem a fruta, ajudam a diminuir a atividade microbiana, prolongam a vida útil e conservam o valor nutricional. A aplicação, que consiste na própria imersão do produto na solução filmogênica, é antecedida pela higienização do coco. Após a secagem, o produto está pronto para ser embalado, armazenado e transportado, até chegar ao consumidor final com com aparência vistosa e sem que a qualidade seja comprometida.

A tecnologia é de baixo custo, requer pouca mão de obra e um investimento pequeno em materiais específicos, de acordo com o pesquisador da Embrapa Agroindústria de Alimentos Antonio Gomes, responsável pelo desenvolvimento do produto. “O custo para a aplicação do revestimento no coco está estimado em R$ 0,05, a unidade, ou seja, é uma solução barata e que ajuda a não encarecer a produção”, explica Gomes.

A equipe da Embrapa trabalha agora para que o revestimento biodegradável possa ser aplicado em outras frutas. As pesquisas estão avançadas em espécies de goiaba, manga, morango e caqui. Os pesquisadores já sabem que o mesmo composto aplicado, com sucesso, no coco verde, não serve para outras frutas. Os estudos preliminares mostram resultados promissores e a Embrapa realiza cursos, palestras e consultorias sobre tecnologias e práticas pós-colheita, incluindo a do revestimento de frutas.


Mudança no cenário

Quando se fala em exportação de alimentos e manutenção da qualidade do produto, é primordial o transit time, ou seja, o tempo de trânsito do porto até a chegada ao destino. O setor de frutas sofre a pressão inerente de produtos perecíveis. Com prazo de validade mais curto, necessitam de transporte adequado e logística eficiente para ganharem competitividade. Estudos da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas) indicam que o custo para exportar para a Europa, por meio de transporte aéreo, é de US$ 1 a US$ 1,50, em média, por quilo de fruta. Já em navios, o custo médio cai para US$ 0,30, para a mesma quantidade.

A aplicação da película biodegradável nas frutas pode mudar a competitividade da fruticultura, segundo avaliação de Jorge Luiz Souza, diretor técnico da Abrafrutas. “É uma tecnologia muito relevante para o setor. Existe uma grande demanda mundial pelas frutas tropicais, mas um dos desafios que temos para exportar mais diz respeito à logística, porque o Brasil é um país continental”, explica Souza.

O tema infraestrutura e logística está entre as 10 áreas temáticas identificadas no Plano Nacional de Desenvolvimento da Fruticultura (PNDF), que serão contempladas com projetos específicos visando a minimização de gargalos e a melhoria do desempenho do setor. O objetivo é inserir a produção brasileira, com força, na Ásia, um dos mercados mais promissores para o consumo. “O Brasil tem capacidade para aproveitar o potencial desse mercado, expandindo suas exportações”, afirma o diretor da Abrafrutas.

A película biodegradável pode ser o fiel da balança entre o aumento das exportações brasileiras de frutas e a estagnação do setor, de acordo com a análise de Eduardo Brandão, assessor técnico da Comissão Nacional da Fruticultura da Confederação Nacional da Agricultura (CNA). “Essa tecnologia pode aumentar em até 30% a vida útil da fruta. Ela vem de forma muito positiva para impulsionar e dar um ganho enorme de competitividade ao setor”, enfatizou Brandão.

O revestimento foi apresentado na última reunião conjunta da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Fruticultura e da Comissão Nacional da Fruticultura. A tecnologia entusiasmou representantes das associações de produtores, exportadores e de outras entidades que vivenciam os gargalos do setor. “Quanto maior for o tempo de vida da fruta para chegar ao destino, com qualidade para o consumo, mais o setor se torna competitivo”, enfatizou o assessor da CNA.

Tamanho entusiasmo do setor tem um motivo justo — a fruticultura causa forte impacto econômico no desenvolvimento regional. Com uma área no Brasil de 2,5 milhões de hectares cultivadas de frutas, o setor emprega, em média, duas pessoas por hectare, sendo responsável pela geração de 5 milhões de empregos diretos. Estudo sobre o impacto social da atividade, elaborado pela CNA, mostra uma efetiva melhoria do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) em todas as regiões do país onde a atividade se desenvolve.

30
polos produtores

2,5 milhões
de hectares de frutas plantados

44
milhões de toneladas 
colhidas

5 milhões
de empregos diretos

US$ 836 ilhões
em exportações por ano

Fontes: CNA e Abrafrutas
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