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Entrevista

'Privatizar vai reduzir a corrupção no Brasil', diz empresário

Em entrevista, Marcos Arbaitman afirma: "Precisamos ter na política a tranquilidade que estamos vivendo no campo econômico"

Publicado em: 26/03/2018 08:00

Foto: Arbaitman/Divulgação (Foto: Arbaitman/Divulgação)
Foto: Arbaitman/Divulgação (Foto: Arbaitman/Divulgação)
O empresário Marcos Arbaitman tem 79 anos e é uma dessas pessoas que enchem a boca para falar do que o entusiasma. Ele se declara um apaixonado pelo Brasil. “Enquanto outros países têm frio e neve, aqui o clima é bom o ano inteiro. O Rio de Janeiro é a cidade mais bonita do mundo e o litoral brasileiro é o mais lindo”, essas frases que ele diz parecem sair do coração. Outro tema que adora são as privatizações. Se dependesse dele, o governo federal iria se desfazer de quase todas as estatais que tem. “Empresa é para iniciativa privada”, afirma.

Advogado por formação, Arbaitman tem três companhias: uma de turismo corporativo, outra de eventos e uma terceira de tecnologia ligada ao turismo. O carro-chefe é a Maringá Turismo, uma das maiores agências de viagens corporativas do Brasil e há mais de 50 anos no mercado. Juntas, as três empresas faturaram R$ 1,1 bilhão em 2017. Fora isso, preside o Conselho de Gestão do Turismo de São Paulo e faz parte de 21 entidades ligadas a artes.

Também ocupa cadeiras em conselhos do Metropolitan Opera House de Nova York, Museu de Arte Moderna de São Paulo, a Fundação Osesp (da Orquestra Sinfônica de São Paulo), Masp, e preside a Fundação Cultural Exército Brasileiro. “Sou encantado por arte”, diz o empresário, que se diz fã “das 29 óperas de Verdi” e das pinturas do russo Marc Chagall. Nem tudo são flores, porém.

Nesta entrevista, Arbaitman fala com preocupação sobre a crise de insegurança no Rio de Janeiro e sobre a corrupção nas esferas governamentais — dois temas que, segundo ele, precisam estar presentes no debate presidencial. “Em ano de eleições, eu, como empresário, espero apenas que o povo eleja alguém honesto. Competência vem depois.”

Como o senhor avalia a economia em 2018?
Senti nos primeiros meses um crescimento bastante importante com relação ao que tivemos nos últimos dois anos. Vários clientes nossos, que tinham reduzido gastos com viagens, eventos e tecnologia, voltaram. Há um crescimento absolutamente claro, principalmente na área de eventos. A perspectiva é a melhor possível.

Quais as projeções de aumento para cada uma das suas empresas?
A Lemontech deve crescer 22,5% neste ano, depois de um bom crescimento no ano passado. A Maringá Turismo vem de uma queda de quase 9% em 2017 e, neste ano, estimamos alta de quase 12%. E, para a Central de Eventos, está até difícil fazer uma projeção precisa, dado o número de empresas novas que assinaram contratos. Mas posso dizer que será superior a 26% em relação ao ano passado.

A que se deve essa retomada?
Primeiro, à questão cambial. Há algum tempo o dólar está na faixa de R$ 3,30. Essa previsibilidade dá certa tranquilidade a quem viaja e a quem exporta — situação de muitos de nossos clientes. A queda dos juros também favorece a retomada. Estamos com a Selic mais baixa da história. Espero que isso permita aos bancos reduzir os juros, que hoje são absurdos.

E o cenário político?
Precisamos ter na política a tranquilidade que estamos vivendo no campo econômico. Estamos numa corda bamba no campo político. Neste ano de eleições, eu, como empresário, espero apenas que o povo eleja alguém honesto. Isso é o mais importante. Competência vem depois.

Quais os temas mais urgentes a serem debatidos nas eleições?
O interesse nacional tem que ser salvaguardado. Precisamos falar do problema da insegurança. Veja o que está havendo no Rio de Janeiro. Para o turismo brasileiro, o Rio é fundamental e precisa ser salvo. Mas o maior debate, que pode transformar o Brasil, diz respeito às privatizações e ao combate à corrupção.

Por quê?
Temos 155 estatais federais. Por que tantas? Ora, sabemos a quem muitas delas servem. A Petrobras foi transformada em cabide de empregos, pessoas foram nomeadas para arrecadar “fundos de campanha”, o que, na verdade, não passa de corrupção. Não tenho dúvidas de que, privatizando, diminuiríamos a corrupção de forma natural. O fato de o juiz Sérgio Moro ter sido eleito o Homem do Ano (prêmio concedido pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos) pelo lado brasileiro, e o prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, pelos americanos, é sintomático. Elegemos um homem que é destaque na luta contra a corrupção. Os americanos elegeram um político que abriu mão do salário como prefeito e transformou Nova York. Mas tenho fé de que vamos eleger deputados, senadores, governadores e um presidente que querem servir e não “se servir”.

Não é um otimismo exagerado?
Fui secretário de Turismo em São Paulo. Vi que é possível ser um servidor público honesto. Acho que existem muitos brasileiros que já ganharam muito dinheiro e agora poderiam dedicar sua inteligência e capacidade para servir à população.

Quem o senhor citaria?
Alckmin, João Doria, Flavio Rocha, Luiz Felipe d’Ávila. Eles são empresários e honestos.

Muitos eleitores criticaram João Doria por ter dito que era “gestor” e não um político, e por ter descumprido a promessa feita de que iria ficar os quatro anos na prefeitura. Isso não é um sintoma da velha política?
João Doria foi um empresário de sucesso e quis prestar um trabalho público. Nessa função, não basta ser um gestor. Ele é político. Aliás, todos nós somos políticos, pelo menos quando votamos. Não é possível imaginar o Brasil sem suas instituições políticas. É errada essa imagem que se criou no Brasil de que política é algo ruim.

Mas o próprio Doria rejeitou a imagem de político.
Ao entrar num partido e se candidatar, ele se tornou um político. Ele sabe que é um político e as atitudes dele são políticas.

Ele errou, então?
Não diria que errou. Acho que ele se expressou mal. Ele quis dizer que iria lá para trabalhar, para melhorar a cidade.

O senhor preside o Conselho de Gestão do Turismo de São Paulo. As privatizações anunciadas por Doria vão sair?
A privatização do Anhembi (pavilhão de exposições) vai acontecer. Queremos valorizar o espaço e permitir que grupos nacionais e internacionais entrem com grandes investimentos e a cidade seja beneficiada. O Autódromo de Interlagos está bem encaminhado. E estamos atuando em outras frentes. O Pacaembu deve ser concessionado. Quanto ao Parque do Ibirapuera, queremos fazer algo parecido com o Central Park. A prefeitura arrecada e a iniciativa privada cuida do parque. A ideia é termos um espaço bem cuidado que não custe nada para a população.

Por que privatização é um tema tão espinhoso no Brasil?
Temos um movimento contrário muito forte. Pega a Petrobras. Parte dos funcionários ligados a sindicatos tem medo de que ela seja privatizada. Empresa privada é séria, demanda trabalho. Estatais são diferentes. Primeiro porque têm o princípio inacreditável da estabilidade. Trabalhando ou não, a pessoa tem estabilidade na função. Isso não existe. Sou favorável a desestatizações onde for possível. Quem cuida de empresa é a iniciativa privada. Governo cuida de saúde, segurança e educação.

E por que os políticos têm medo de abordar o tema?
Porque não rende votos. Pelo contrário. Participei do governo Covas e, logo de cara, disseram para ele que não havia dinheiro para pagar salários. E que quatro estatais — Eletropaulo, Cesp, Congas e CPFL — deviam R$ 28 bilhões. O Covas falou: “Vamos privatizar”. No começo ele não era favorável, mas viu os benefícios que São Paulo teria com elas. Então, passou a levantar a bandeira das privatizações e foi atacado por isso. Num evento, jogaram cadeiras nas costas dele. É por isso que os políticos têm receio em falar de privatização.

Mudando de assunto: o que falta para o turismo brasileiro deslanchar?
Primeiro, é preciso tirar o foco da publicidade. O governo faz propaganda lá fora para atrair o turista. Mas, quando o New York Times coloca na capa um caso de violência no Rio de Janeiro, esse trabalho perde a eficácia. Então, antes de comunicar, é preciso investir em segurança. É preciso criar as condições para que o turista estrangeiro queira vir ao Rio, a cidade mais bonita do mundo. Ele precisa vir com a certeza de que será bem tratado, terá bons hotéis — e que vai se locomover com segurança. O general Braga Netto (responsável pela intervenção federal na segurança da capital fluminense) disse que o Rio precisa de US$ 3 bilhões para investimentos. Eu diria que é o mínimo. Se colocar o Rio em ordem, esses US$ 3 bi voltam em um ano. Falo do Rio, mas outras cidades também precisam receber investimentos em segurança, como Fortaleza e Recife.

Desse jeito poderemos aumentar o fluxo de estrangeiros no Brasil?
Sim. Israel, um país muito menor que o Brasil, recebe 14 milhões. A França recebe 83 milhões, a Itália, 76 milhões e a Espanha está próxima de 73 milhões. Nós estagnamos na casa dos 5 milhões. Desses, quase um milhão vem da Argentina, país vizinho. Também vale ressaltar que boa parte desse fluxo não é de turistas a lazer. Muitos vêm para trabalhar ou participar de feiras corporativas. O país com o litoral mais lindo do mundo está engatinhando no turismo.

Privatização
"Empresa privada é séria, demanda trabalho. Estatais são diferentes. Primeiro, porque têm o princípio inacreditável da estabilidade. Trabalhando ou não, a pessoa tem estabilidade na função. Isso não existe”

Eleições
"Nesse ano de eleições, eu, como empresário, espero apenas que o povo eleja alguém honesto. Isso é o mais importante. Competência vem depois”

Segurança
"O governo faz propaganda lá fora para atrair o turista. Mas quando o New York Times coloca na capa um caso de violência no Rio de Janeiro, esse trabalho perde a eficácia. Então, antes de comunicar, é preciso investir em segurança”
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