Segurança

Após proibição do amianto, Eternit vai pedir recuperação judicial

Alvo de polêmica nas últimas décadas, amianto foi proibido pelo Supremo Tribunal Federal em novembro do ano passado

Publicado em: 21/03/2018 09:25

 O objetivo, segundo a companhia, é tentar manter suas atividades, apesar de estar proibida no Brasil. Foto: Gustavo Henrique Denzin Tonoli/divulgação

Uma das marcas mais tradicionais do setor de materiais para construção, a Eternit informou à BM&FBovespa, na manhã de ontem, que recorrerá à recuperação judicial, inclusive de suas empresas controladas. O objetivo, segundo a companhia, é tentar manter suas atividades, apesar de estar proibida no Brasil desde o fim do ano passado a produção que tenha como matéria-prima o amianto.

A Eternit alegou no fato relevante que a decisão foi tomada em função dos efeitos negativos da economia no setor da construção civil, as discussões legais sobre a extração, industrialização, uso, comercialização, transporte e exportação do amianto, que, segundo o texto, vem “limitando o acesso da companhia à concessão de novas linhas de crédito”. Além disso, informa a empresa, houve uma queda na demanda e nos preços do amianto, nos mercados nacional e internacional, o que afetou a rentabilidade do negócio.

Em novembro passado, o Supremo Tribunal Federal (STF) proibiu toda a atividade ligada ao amianto na sua variedade crisotila — extração, industrialização, distribuição e comercialização. Essa matéria-prima é usada principalmente na fabricação de telhas e caixas-d’água e a extração e o manuseio durante o processo de produção causam doenças graves. Por isso, foi banida no Brasil.

Apesar de a disputa na Justiça ser antiga, a Eternit preferiu apostar na possibilidade de o produto ser liberado para exportação. Antes da decisão do STF, a empresa havia informado ao mercado que deixaria de usar o amianto até o fim de 2018. No entanto, continuaria a explorar o mineral, por meio da Sama, uma de suas empresas controladas, para exportar produtos para países que não proibissem o uso da matéria-prima.

Paulo Henrique Tavares, professor titular na área de engenharia de materiais do Ibmec-BH, avalia que faltou à Eternit tomar uma decisão estratégica de abandonar o amianto quando o produto começou a ser proibido em vários mercados internacionais e se iniciaram as primeiras denúncias no Brasil sobre os danos causados à saúde. “Deveriam ter investido em novas tecnologias, como outros fizeram”, avalia.

O especialista lembra que hoje os dois principais produtos que antes eram feitos com amianto – caixa-d’água e telhas – são fabricados com materiais à base de plástico, como o polipropileno e o polietileno.

“Claro que há um custo quando se decide fazer a transição de um tipo de produto para outro, já que é preciso investir em pesquisas, maquinário e treinamento. Mas esse custo se dilui com o tempo. Teria sido a forma de preservar a empresa”, avalia. Por se tratar de um assunto polêmico há décadas, Tavares acredita que as empresas que usavam o amianto, como a Eternit, deveriam ter se preparado com o tempo para fazer a transição para outra matéria-prima aos poucos, o que minimizaria o impacto dos investimentos.

Hoje em dia, países da União Europeia, Estados Unidos, Chile, Argentina e El Salvador fazem parte do grupo que baniu o uso do amianto. Mas ainda estão entre os importadores o Vietnã, Venezuela e África do Sul.

O uso do amianto, acrescenta o professor do Ibmec, é o tipo de decisão que compromete não apenas o futuro financeiro de uma empresa, mas também a obtenção de certificações nacionais e internacionais, já que muitas delas levam em consideração aspectos ambientais e sociais na hora de creditar uma companhia. “O mal que o amianto faz não é uma especulação, é um fato. É como acontece com a indústria do cigarro. Não dá para dizer que os casos de câncer não foram causados pelo mineral”, adverte. A empresa foi procurada pela reportagem, mas não retornou o contato.

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