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Primeira infância e o futuro

Publicado em: 29/01/2018 08:00 | Atualizado em: 24/01/2018 20:02

Por Marcelo Eduardo Alves da Silva (*)

Marcelo Eduardo Alves da Silva é professor de Economia da UFPE. Foto: Paulo Paiva/DP
Investir na primeira infância é fundamental para o futuro de nossas crianças e do país também. Políticas públicas importam, mas os pais têm papel fundamental.


Estudos recentes mostram a importância do investimento em educação nos primeiros anos da infância, em particular, dos zero aos seis anos. A máxima de que as crianças são o nosso futuro é verdadeira, o detalhe é que esse “futuro”, para elas, começa ao nascer. É na primeira infância que a atividade cerebral se desenvolve e comprometimentos nessa fase, afetam a vida futura. O fato é que a maior parte das crianças brasileiras vive em domicílios de renda baixa, está sujeita à subnutrição, é exposta com maior frequência à violência e vive em localidades com pouco acesso a serviços públicos (saneamento básico, transporte público, escolas, iluminação pública, serviços médicos, etc.). Todos esses elementos afetam o desenvolvimento da criança e tendem a perpetuar diferenças de renda entre as famílias, ao criar um círculo vicioso de pobreza. Se, por um lado, políticas públicas são importantes, por outro, decisões individuais também importam, quando se trata de investir na primeira infância.

Quando se trata de políticas públicas vale o óbvio:  investimento em creches, escolas públicas de qualidade, parques e campos esportivos, bibliotecas públicas, etc. O interessante é que não precisamos de nada surpreendente ou que demande grandes investimentos, apenas focar os recursos e políticas naquilo que importa. Ao olhar para muitas de nossas cidades é frustrante ver, por exemplo, a baixa disponibilidade de equipamentos públicos de lazer e esportes, e de bibliotecas públicas. O mundo desenvolvido tem muito a ensinar. É interessante observar, por exemplo, como as bibliotecas públicas fazem parte do dia-a-dia das famílias nesses países. Visitas frequentes às bibliotecas fazem parte da rotina. A preocupação com a prática de esportes nas escolas e nas comunidades também é interessante. Com raras exceções, nossos esforços têm sido limitados nessas áreas.

Nas decisões individuais, vale o óbvio também, em particular, a importância dos pais. Estudos revelam que crianças que convivem com os pais e deles recebem atenção têm maior probabilidade de ter menos problemas de comportamento e apresentam, em média, melhor desempenho na vida escolar e no mundo do trabalho. Não precisa ser um especialista para entender isso, tampouco compreender que a “formação em casa” é importante, mas a mensuração quantitativa disso sempre foi e, continua sendo, um desafio. Afinal, muitos outros elementos estão em jogo, mas hoje temos maior convicção de que os pais são importantes na formação da criança. Tempo é importante, mas não adianta muito ficar assistindo TV com as crianças, sem interagir. Leitura, brincadeiras, instrução e outras formas de interação são atividades que contribuem e muito na formação das crianças. Parafraseando um antigo slogan “não basta ser pai (ou mãe), tem que participar”.

(*) Professor de Economia da UFPE.
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