FUTURO

A vez do jovem empreendedor

Representando quase 20% do total de empresários do país, iniciantes no mundo dos negócios não desperdiçam boas ideias

Publicado em: 18/01/2018 12:13 | Atualizado em: 18/01/2018 12:23

Daniela (E) começou a investir em aluguel de vestidos femininos. Foto: Júlio Jacobina/DP

É com boas ideias de negócios que jovens investem no empreendedorismo como forma de garantir um futuro seguro. Estimulados pelo meio em que vivem e até mesmo pelo alto nível de desemprego, eles aliam criatividade e inovação para garantir um lugar no mercado. No país, 19,7% dos brasileiros de 18 a 24 anos são considerados empreendedores iniciais, segundo pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2016, que foi conduzida pelo Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade (IBQP), e teve apoio do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

De acordo com Cláudia Azevedo, analista do Sebrae e gestora do projeto de educação empreendedora, o desemprego realmente deu um impulso maior aos negócios. “A rede de contato desses jovens  empreendedores aumenta, o nível de criatividade também, além da inovação e disposição que eles têm para investir em seu próprio negócio”, afirmou. Para Cláudia, quando os são sensibilizados a ter um contato maior com o empreendedorismo, eles passam a se enxergar como empresários.

A proprietária da DF Dress, Daniela Figueiredo, 25, começou a investir em seu negócio de aluguel de vestidos femininos para festas no início de 2016, logo após se formar em Engenharia Civíl. “A ideia surgiu da necessidade de preencher parte do meu tempo e ajustá-lo por conta do meu filho, que tinha acabado de nascer e me impossibilitou de estar atuando na minha área de formação”, disse Daniela.

Formalizada através do Instagram, a loja virtual contém fotos e vídeos de vestidos. “As clientes iam até a minha casa fazer as provas desses vestidos e, pelo fato de a demanda ter aumentado, tive que mudar a logística para não atrapalhar a privacidade das outras pessoas que moram comigo”, afirmou. Com investimento inicial de R$ 1 mil em vestidos de segunda mão, Daniela alugou um espaço físico para trabalhar.

Daniela partiu também para a chamada economia compartilhada. “Eu recebo das minhas amigas os vestidos delas, que são de boa qualidade, alugo e uma porcentagem desse aluguel fica com elas”, explicou. O modelo dispensou um investimento muito ato e ainda garantiu bom retorno.

Marketing
Outro jovem que está garantindo um futuro promissor através de práticas empreendedoras é Vinicius Galvão, 20 anos. Estudante de administração, ele fundou em abril a Citra Marketing , agência voltada a desenvolvimento de site, gestão de mídias sociais, links patrocinados e criação de landing pages (páginas mais específicas) para pequenas e médias empresas. Com um investimento inicial de R$ 500, Galvão fechou parceria com a primeira empresa só três meses após o início. “Sempre tive um espírito empreendedor, então eu quis começar. Tinha alguns conhecimentos básicos na área, e utilizando ferramentas de baixo custo mas com qualidade, comecei a levar o negócio para frente.”

Formalizado como Micro Empreendedor Individual (MEI), Vinicius conduz o seu negócio dentro de casa. “Preciso ter muito comprometimento para ter foco no meu trabalho e ser mais regrado”, acrescenta. A Cintra hoje conta com seis empresas cliente e expectativa de, até novembro de 2019, estar com um faturamento de R$ 15 mil.

Com a mesma determinação, o design Pedro Carvalho, 25, está tentando conquistar espaço com a sua empresa de assessoria digital, a Fcconect.net, aberta quando ele ainda tinha 23 anos e estava cursando Psicologia. “Eu já tive um pequeno negócio antes que não deu muito certo, mas tentei fazer diferente desta vez, separando os gastos da empresa dos gastos pessoais, para evitar os erros”, ressalta. Hoje, o seu dia a dia é de correria para que o negócio dê certo. “Ivesti, inicalmente, cerca de R$ 1 mil para colocar tudo no ar. Agora, ligo para as empresas oferecendo o meu projeto e espero que, por volta de março, eu já esteja lucrando.” 

O incentivo do ensino superior
Vinicius: falta divulgação sobre apoio das instituições superiores. Foto: Vinicius Galvão/Divulgação

Muitos dos alunos que estão em algum curso de nível superior e que empreendem, sentem que o papel das universidades e faculdades é fundamental para a elaboração de ideias e o crescimento em seus negócios. Segundo Waldir Cavalcanti, analista do Sebrae, o que sempre se pensou era que o ensino superior preparava o aluno para uma carreira profissional. “Com a escassez de empregos, essas faculdades estão começando a ver que devem apostar no ensino empreendedor, com cadeiras voltadas a isso e ações dentro do ambiente acadêmico”.

O Sebrae, hoje, tem uma parceria com seis centros de ensino superior, tanto público quanto privado, para a efetivação de postos avançados que auxiliam os alunos e a comunidade acadêmica na questão do empreendedorismo. São realizados palestras, oficinas, cursos e orientações sobre plano de negócio. Além disso, existe a jornada na faculdade, que presta serviços atendendo aos universitários de diversos cursos.

Na Uninassau e Uninabuco, instituições do grupo Ser Educacional, existe um calendário acadêmico que contempla palestras, oficinas e congressos sobre o tema, e todos os cursos contam, em sua matriz curricular, com a disciplina de empreendedorismo. Já na Universidade Católica de Pernambuco, a aposta é na empresa júnior, que leva o nome da instituição como forma de incentivo aos alunos  começarem a empreeder. “É um movimento que leva esse empreendedorismo para a universidade, em forma de parceria com as empresas para a realização de palestras, eventos, feiras, entre outras coisas”, explica Eduarda Vieira, estudante de administração que participa da empresa júnior da Unicap.

Na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), as ações empreendedoras são priorizadas através das oito empresas juniores que estão presente no campus e da ação “empreendedor residente”, que incentiva a criação de projetos sustentáveis através da tecnologia e do conhecimento. O projeto foi iniciado esse ano dentro do Centro de Tecnologia e Geociências e do  Centro de Ciências Sociais Aplicadas, e que será ampliada em 2018 a outros centros.

Para o estudante de administração Vinicius Galvão, 20, o apoio das instituições superiores ao empreendedorismo, ainda que existam, devem ser mais divulgados. “Muitas dessas universidades preparam os alunos para uma profissão. Elas têm que entender que ser empreendedor é uma possibilidade real”. Segundo ele, essa pode ser uma saída para a criação de novos postos de trabalho. “Se o negócio der certo, eu posso não só ter a minha renda como também empregar novas pessoas, gerando assim, mais empregabilidade”, finalizou.

Começando o novo mundo já na escola
Antes de o empreendedorismo ser incentivado pela vida acadêmica, existem programas que antecipam, com sucesso, a ideia nos ensinos médio e fundamental. O Sebrae, que em Pernambuco tem a parceria da Secretaria de Educação do Estado, incentiva, por níveis, essa ação nas escolas de ensino regular e técnico. Uma das ações é Jovens Empreendedores Primeiros Passos (JEEP), que aplica essa metodologia dentro do ensino fundamental, formentando a educação e a cultura empreendedoras. Há também o Despertar, que estimula o empreendedorismo no ensino médio como forma de englobar a cooperação, cidadania e a ética, incentivando as potencialidades desses alunos para a descoberta de novas oportunidades.

Foi dentro desse conceito que a educadora Ana Carla, 32 anos, foi convidada pela Escola Técnica Estadual Almirante Soares Dutra juntamente com o Sebrae para levar o programa às turmas do primeiro ano. “Fiz a capacitação de uma semana com o Sebrae e levei toda a experiência do Despertar para cerca de 80 alunos durante os seis meses seguintes. No final, apresentamos os projetos em uma feira”, explicou.

Um dos oito projetos apresentados no ano passado foi o PpCup (Pratic Personal Cup), que consiste em um copo personalizado acoplado a um balde de pipoca. A aluna Ruth Souza, do segundo ano do ensino técnico pela mesma Escola Técnica Almirante Soares Dutra, juntou-se a mais oito alunos de sua sala para sugerir a ideia. “Depois de uma pesquisa de mercado, e com a opinião de todos do grupo chegamos a esse protótipo, que felizmente deu muito certo”, pontou. Ruth, e mesmo sem dinheiro para patentear o projeto, disse que ele deu tão certo que conseguiram vender tudo e ainda receberam encomendas.

Jovens Empreendedores - No Brasil
  • 71% do sexo masculino
  • 29% do sexo feminino
  • 18% de 21 a 25 anos
  • 35% com idade entre 26 e 30 anos
  • 28% de 31 a 35 anos
  • 42% com ensino superior
  • 39% pós-graduação
  • 12% com ensino médio;
  • 25% decidiram ser empresários por identificar oportunidade de negócio
  • 25% sempre quiseram ser empreendedores
  • 18% por querer mais independência
  • 63% tem apenas uma empresa
  • 25% têm duas
  • 7% três empresas
  • 3% mais de quatro
  • 2% possuem quatro
  • 51% dos jovens empreendedores possuem micro empresa
  • 20% de pequeno porte
  • 18% são MEI
  • 9% é média empresa
  • 1% com grande
  • Faturamento
  • 29% até R$ 60 mil
  • 31%  R$ 60 mil até R$ 360 mil
  • 29%  R$ 360 mil até  R$ 3,6 milhões
  • 10% R$ 3,6 milhões até R$ 48 milhões
  • 52% desejam abrir um novo negócio em um segmento diferente
  • 25% no mesmo segmento
  • 23% não pretendem abrir nova empresa;
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