Observatório econômico Trajetória de crescimento

Publicado em: 18/09/2017 08:00 Atualizado em: 15/09/2017 19:58

Por Fernando Dias (*)

Fernando Dias é professor do Departamento de Economia da UFPE. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação
Fernando Dias é professor do Departamento de Economia da UFPE. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação
Apesar de ainda estarmos caminhando para o fim de 2017 não restam muitas dúvidas que a corrida presidencial para 2018 já começou, e não foi discretamente. Com ao menos 3 “pré-candidatos” que “parecem” estar abertamente em campo um item de pauta passa a se tornar cada vez mais importante: crescemos ou não? Está em jogo a forma como a maioria entende o motor do crescimento no Brasil.


Mas o que é crescimento? Embora a ideia geral seja que se trata do crescimento do PIB, tecnicamente a medida mais básica de crescimento é a elevação do PIB per capita e este já anda depauperado por aqui tem um bom tempo. E crescemos? Sim, a economia brasileira cresceu após a década perdida de 1980 nos dois modelos, o do Estado passivo e ocupado com a estabilidade macroeconômica que vigorou com Itamar e FHC, e o do Estado ativo e “mais ou menos” ocupado com a estabilidade macroeconômica que vigorou com Lula e nem tanto com Dilma. E cresceu mais com o segundo grupo.

Ora, se o crescimento foi maior com a segunda abordagem porque os economistas insistem em afirmar que tecnicamente tivemos um desastre anunciado que gerou uma conta enorme para pagar? A trajetória que explica. A maioria dos especialistas afirma com razoável propriedade que o que provoca crescimento sustentado é o crescimento da produtividade e, como a produtividade é determinada basicamente no setor privado então é o crescimento deste que no final importa e nada melhor que competitividade para incentivar ganho de produtividade. É mais ou menos pacífico entre estes especialistas que crescimento sustentável depende de ganhos de produtividade induzidos pela pressão de mercados competitivos. Nosso crescimento recente foi assim? Não.

Qualquer publicação, de qualquer cor, que se consulte será taxativa que o crescimento brasileiro dos últimos anos se deu em função de uma combinação entre expansão do crédito as famílias, melhora nos mercados internacionais de commodities, expansão do gasto público e financiamento subsidiado as empresas. Um crescimento induzido na melhor tradição desenvolvimentista. Com efeito observamos um elevado crescimento enquanto os fatores de indução estiverem presentes. E quando eles foram embora paramos de crescer? Não, começamos a decrescer pois o esgotamento da capacidade do Estado vem com a necessidade de financiamento da dívida pública combinada com inflação crescente. E olha que não é a primeira vez que vemos este filme, ele passou antes com Vargas e depois teve a primeira reprise com os militares tendo em ambos os casos terminado com recessão e inflação. Agora não foi diferente.

Com efeito o padrão recente foi precisamente o mesmo e crescemos muito sem preocupação com competitividade, terminando como esperado numa tremenda recessão. O PIB que vinha caindo desde fins de 2014 começou a se recuperar a duras penas no início de 2016, e o PIB per capita ainda agoniza. Apenas para efeito de comparação se considerarmos a criação de vagas formais entre 2004 e 2017 ela chegou a 14 milhões de empregos e agora anda em torno de 10,5 milhões, retornando aos níveis de 2010. Este tipo de crescimento é por vezes chamado de “vôo de galinha”.

As dificuldades estruturais da economia brasileira permanecem, a produtividade não avança e a qualidade de nossa educação é muita baixa. E não adianta pôr a culpa no mercado, que também sofre que uma combinação de sistema tributário insano com o capitalismo de amigos que povoa a relação entre o público e privado. Mas pelo menos Pernambuco se salvou? Não, estudos recentes estimam que estaremos junto com a Bahia, Alagoas e Rio entre os poucos estados que fecham 2016 com crescimento negativo. É, a galinha até voa, mas irremediavelmente termina na panela. Melhor estudar para ser águia que engordar para acabar virando guisado.

(*) Professor do Departamento de Economia da UFPE.

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