Entrevista 'Pense em ser feliz enquanto ainda é tempo', aconselha Timothy Gallwey, o 'pai' do coaching Em entrevista exclusiva ao Diario, o autor de The Inner Game fala sobre a importância de construir a felicidade agora

Por: Aline Moura - Diario de Pernambuco

Publicado em: 05/08/2017 08:45 Atualizado em: 05/08/2017 14:35

Timothy Gallwey é conhecido como o criador do método do coaching. Foto: Juarez Matiaz/ Divulgação
Timothy Gallwey é conhecido como o criador do método do coaching. Foto: Juarez Matiaz/ Divulgação

Conhecido mundialmente como criador do coaching, método muito usado no ambiente profissional para se descobrir e desenvolver o potencial das pessoas, Timothy Gallwey virá ao Recife no próximo dia 17 de agosto para participar do seminário "A essência da liderança e o aprendizado por experiência", no Cinemark, no Shopping RioMar. Em entrevista exclusiva ao Diario de Pernambuco, ele falou sobre o evento, sobre a equipe que tem formado no Brasil para multiplicar esse aprendizado e sobre o jogo interior existente em cada um de nós - aquele capaz de nos levar à derrota ou à vitória.

Timothy é um dos maiores mestres vivos do nosso tempo, autor dos best-sellers The inner game of tennis e The inner game (O jogo interior). Nos próximos dias, ele fará um tour por seis cidades do país e a capital pernambucana será anfitriã de sua recepção no Nordeste. Ele era estudante de literatura em Harvard, nos Estados Unidos, quando decidiu trancar a faculdade, na década de 1970, para se tornar capitão de uma equipe de tênis da mesma universidade. Durante os treinamentos, ele percebeu que alguns talentos eram limitados por um jogo que se passava dentro da mente, com interferências como medo e autocrítica em excesso.

O conceito idealizado por Timothy ultrapassou as quadras de tênis para transformar o dia a dia de grandes empresas como a AT&T, a Apple, a Coca-Cola e Harley-Davidson, que atingiram uma alta performance de maneira diferenciada, valorizando a essência de cada "jogador". Ele mesmo contou à reportagem que jamais teria aprendido sem as derrotas e rejeita a tese de que ganhar seja "tudo". Como um homem que valoriza a essência de cada pessoa, ele também falou sobre a depressão, que tem incapacitado milhares para o mercado de trabalho na última década e sobre a importância de se desacelerar, em determinados momentos, para se fazer uma autorreflexão. Para ele, é importante pensar em ser feliz agora.

Entrevista // Timothy Gallwey


- Sr. Timothy, o senhor vem ao Recife pela primeira vez para falar sobre o Jogo interior (The inner game). Gostaria de saber o que as pessoas podem esperar dessa experiência?
Elas podem esperar uma nova consciência e perspectiva sobre o Jogo interior, através dos sentimentos, mentalidades e objetivos, com impacto na sua qualidade de vida, bem como na qualidade do seu trabalho e dos relacionamentos. Eu também falarei sobre oportunidades para se aprender em seu ambiente do dia a dia.

- O senhor estudava literatura em Harvard e depois se tornou capitão de uma equipe de tênis na mesma universidade. Como foi levar a experiência do mundo esportivo para o mundo corporativo?
Não foi difícil fazer essa mudança do jogo interior original, porque ele explora como o diálogo interno teve impacto no desenvolvimento e desempenho do tênis. Todo jogo exterior tem que alcançar um objetivo exterior que não necessariamente é meu objetivo. O jogo exterior tem que superar os obstáculos no caminho de forma que o sucesso seja desempenhado. Mas as dinâmicas do jogo interior são simples e comuns a todos os jogos exteriores. A parte mais difícil é perceber o quanto é importante aprender as habilidades do jogo interior se você quiser ter sucesso na vida - o que é uma combinação de realizações internas e externas. Eu aprendi que, quanto menos eu sabia em particular um jogo exterior, mas fácil era transferir para os jogadores daquele jogo em particular, porque o praticante do jogo procuraria como poderia aprender com aquela experiência, em vez de ser informado por alguém que interpreta o papel de especialista. A informação sobre como fazer algo melhor é melhor aprendida com a própria experiência. O jogo interior foca em como aprender com a experiência para diminuir as interferências internas, tais como medo, dúvidas, expectativas, etc.

- A essência do Inner game é o aprendizado, que deve se aliar ao prazer. O senhor acha que as pessoas estão mais abertas a aprender e descobrir seus talentos?
Bem dito. Se você simplesmente aprende algumas técnicas para aprender uma habilidade particular, então você vai praticar melhor aquela habilidade. Mas é difícil de aprender sem se julgar constantemente sobre o que você está fazendo certo ou errado. Quando você aprende a desenvolver qualquer talento, o aprendizado pode ser aplicado e desenvolvido na vida em geral. Os resultados desse aprendizado são um maior contentamento (alegria) e maior capacidade para desenvolver qualquer talento ou potencialidade que você tem. Nós fomos designados para aprender com a experiência e é agradável se, em algum momento particular, você desempenha bem ou se conscientiza de ter cometido um erro. Você aprende com ambos e pode corrigir os erros sem autojulgamento. Os erros são parte do processo de aprendizagem. Podemos falhar. Então você continua andando em busca de seus sonhos, da direção desejada.

- Seu primeiro Livro, o Inner game of tennis, foi publicado em 1973, e se transformou num best-seller. Houve necessidade de alguma adequação diante de toda essa mudança que aconteceu na sociedade, com o aumento da velocidade de informação e das pressões sobre o indivíduo?
Quanto mais rápida a taxa de mudanças (no mundo) exterior, mais uma mentalidade sólida, clara e calma é necessária. Desde 1974, as profissões de coaching executivo, de coaching de vida, bem como a psicologia do esporte evoluíram e estão sendo aprendidas cada vez mais e mais universalmente. É divertido e funciona.

- Antes de idealizar o Inner game e entender que as pessoas precisavam aprender de forma mais natural, o senhor teve alguma experiência de perder no jogo interior?
É claro. Como aprender a vencer se você não aprende a perder. Você acha que os campeões de tênis aprendem mais do que os perdedores e se divertem mais? Aprender a crescer e a se divertir é uma vitória real. Apenas uma única pessoa pode vencer uma partida de tênis. Esse vencedor é conhecido no último ponto. Durante a partida, quem aprende mais, quem se diverte mais? Pode ser o vencedor ou o perdedor da partida. É por isso que é importante que o indivíduo defina o que "ganhar" significa para ele como indivíduo. É fácil vencer o jogo exterior. Basta apenas selecionar os competidores menos eficientes que você. O gerente de futebol Vince Lombardi se tornou famoso por dizer que "ganhar não é tudo; é tudo!" Se você parar para pensar sobre isso, ele está dizendo que o jogo que as pessoas jogam são mais importantes que os jogadores desse jogo. Não é bem assim. Nós somos condicionados a querer vencer, mas não sabemos claramente o significa ser um vencedor.

- O senhor está montando uma equipe no Brasil para multiplicar o coaching e torná-lo mais acessível às pessoas que querem passar por uma mudança na vida. Qual o seu sonho com este projeto?
O sonho é simples. Evoluir durante o tempo que você está vivo. Indivíduos e equipes podem evoluir ou estagnar ou até mesmo passar adiante. Evoluir, para mim, significa se tornar mais humano.

- A depressão hoje é a maior causa de incapacitação no mundo, segundo a OMS, e o número de casos aumentou 20% na última década, de 2005 para 2015. Na sua experiência como criador do Inner game e pai do coaching, porque está tão difícil ser feliz?
Olhe para uma criancinha. Ela não foi à escola, pode nem sequer conhecer sua língua nativa, mas veja o quanto ela se diverte todos os dias, desde que sejam atendidas determinadas necessidades básicas. A depressão surge quando você está tentando ser o que você não é, quando você se concentra no que você não tem. Há muitas coisas que as crianças não têm. E elas estão felizes com o que eles têm, por natureza, e à medida que evoluem, não só se tornam mais felizes, mas também podem tornar os outros felizes. Mas, se você jogar o jogo, "eu tenho que ser o melhor", você falhará continuamente em sua própria mente, e terá um tempo miserável sem sucesso. Estamos condicionados a sermos super-homens, a sermos famosos, invulneráveis a ferir ou sofrer, e só somos úteis ao fazer algo heroico.

Bem, vamos tirar uma lição da criança, onde você pode ver como nós somos projetados de forma como estamos condicionados. Nós precisamos de prazer, de amor, precisamos apreciar tudo o que temos em virtude de estarmos vivos. À medida que crescemos, podemos aprender a ajudar os outros a serem felizes. "Por que a identificação é tão difícil de ser feliz?" Porque você tem que aprender a ser quem e o que você é - um ser humano que pode sentir grande prazer ou uma grande dor. Escolha o prazer e a satisfação, e não a máscara de como seguir o que lhe dizem que deveria ser. Em resumo: no tipo de mundo em que vivemos, é muito importante pensar por si mesmo. Você tem uma faxineira que ama fazer o seu trabalho. Quando perguntei por que ela estava tão feliz, ela simplesmente disse: "Eu sou a dona da minha vida. E foi assim que escolhi ser feliz. Evito as coisas que me deixam infeliz e persigo o que me deixa feliz". Ela era uma imigrante sem educação formal, mas quase sempre feliz e apaixonada por sua vida.

- O Brasil passa por uma crise econômica muito grande. Como as empresas podem despertar melhor o talento das pessoas?
Durante a atual desaceleração da economia, é um bom momento para diminuir a velocidade, e pensar e aprender o que você quer mudar quando as coisas estiverem melhores. Seria uma tragédia não passar algum tempo desta vez pensando nisso, percebendo quais mudanças você quer fazer em sua vida - interior e exterior. Caso contrário, uma vez que a luz verde continue, você vai se encontrar dizendo a si mesmo: "Estou muito ocupado para fazer tudo o que tenho a fazer. Estou estressado por não ter tempo suficiente e não ser feliz. Pense nisso: Pense em ser feliz enquanto você ainda tem algum tempo!"

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