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Observatório econômico Além da queda da taxa de desemprego

Publicado em: 21/08/2017 08:00 Atualizado em: 17/08/2017 20:11

Por Paulo Aguiar do Monte (*)

Paulo Aguiar do Monte é professor de Economia da Universidade Federal da Paraíba. Foto: Arquivo pessoal
Paulo Aguiar do Monte é professor de Economia da Universidade Federal da Paraíba. Foto: Arquivo pessoal
A taxa de desemprego é um dos principais indicadores para medir o dinamismo de uma economia. Segundo a metodologia do IBGE utilizada em sua Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), que leva em consideração a definição da Organização Internacional do Trabalho (OIT), para ser considerado desempregado o indivíduo não deve estar ocupado no período da entrevista e ter exercido algum tipo de procura por trabalho nos últimos 30 dias anteriores a pesquisa. Somente aqueles que vendem sua força de trabalho para alguma atividade produtiva são considerados para cálculo do desemprego, excluindo-se, portanto, dessa contagem, os trabalhadores autônomos (conta-própria) e empregadores.


A taxa de desemprego (desocupação) é calculada a partir da razão entre população desocupada (aqui, considerado sinônimo de desemprego) e força de trabalho, onde nesta última estão as pessoas ocupadas e as desocupadas.

Com base nessas definições é possível destacar dois pontos importantes: 1. A dificuldade da mensuração exata do desemprego pois uma simples mudança de atitude do indivíduo (por exemplo, deixar de procurar um emprego) pode torná-lo inativo (indivíduo fora da força de trabalho) ao invés de desempregado. 2. Dado que a taxa de desemprego é calculada de forma relativa, sua variação está diretamente relacionada a variação da população ocupada e, por consequência, da força de trabalho. Portanto, uma queda da taxa de desemprego se dá pela queda relativa da população desocupada em relação à população ocupada.

Em períodos de crise é comum observar o aumento do desemprego e a redução do emprego. Fazendo um diagnóstico recente da economia brasileira observa-se que a taxa de desemprego atingiu seu ápice no primeiro trimestre de 2017 (cerca de 13,7% - um aumento de 100% nos últimos 2,5 anos), e, desde então vem apresentando uma tendência de queda (situou-se em 13,0% no final do primeiro semestre de 2017), lenta, mas gradual. A queda do desemprego neste último semestre é, sem dúvida, um indicador positivo para a economia que pode sugerir um início de recuperação da atividade econômica. No entanto, para comemorar a redução do desemprego é preciso analisar em um contexto mais amplo.

Partindo-se da composição do emprego conforme a posição na ocupação percebe-se, neste primeiro semestre da economia, que: 1. Houve uma variação positiva das ocupações empregador (1,5%) e conta-própria (1,8%). Por sinal, a categoria empregador subiu mais de 13% nos últimos 12 meses. Tais categorias, como citado acima, estão fora do cálculo do desemprego, contribuindo apenas para o somatório da população ocupada, o que pode, de certa forma, sobrestimar a redução da taxa de desemprego. 2. Houve uma variação positiva do número de trabalhadores empregados no setor privado sem carteira (4,3%) e queda do número de trabalhadores empregados no setor privado com carteira assinada (-0,2%). Estes números indicam um aumento da precarização das relações de trabalho, dado que há mais trabalhadores sem carteira, por conta própria e empregador, que não têm garantias trabalhistas.

Em suma, a redução da taxa de desemprego é benéfica para a economia, mas deve ser observada com relativa moderação. No início da retomada do crescimento econômico é relativamente comum que o mercado de trabalho se ajuste distante da forma considerada mais adequada. A necessidade do trabalhador em encontrar uma fonte regular de rendimento é o seu caminho mais curto de sair da situação de extrema vulnerabilidade.

Concluindo, o aumento do ritmo da atividade econômica é primordial para a redução do desemprego. E a criação de postos de trabalhos qualificados, com aumento de renda real, continua sendo fundamental para a melhoria das condições de vida do trabalhador.

(*) Professor de Economia da Universidade Federal da Paraíba.

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