Observatório econômico O solitário líder

Publicado em: 17/07/2017 08:00 Atualizado em: 14/07/2017 20:04

Por Carlos Magno Lopes (*)

Carlos Magno Lopes é professor do Departamento de Economia da UFPE. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação
Carlos Magno Lopes é professor do Departamento de Economia da UFPE. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação
Uma orquestra filarmônica é composta por especialistas em diversos instrumentos musicais, coordenada por um maestro, cuja função principal consiste em interpretar partituras e garantir a perfeita execução do que elas expressam. Acontece que, como tudo na vida, nem sempre o planejado é o realizado. Assim, por exemplo, um único violinista, dentre vários tocando em conjunto, pode errar em uma nota. Exceto aqueles com ouvidos caninos perceberão o deslize. Imagine, agora, o virtuoso solista desafinando. Nesse caso, burburinhos de desaprovação serão ouvidos em todos os recantos do recinto e é possível que algum movimento social organize algum tipo de protesto. Problema maior, contudo, é quando o líder, quer dizer, o maestro, não tem senso de ritmo ou muda a execução de um instrumento. Quando isso ocorre, os músicos dispensarão o maestro e passarão a tocar marchinhas de carnaval.


A recente reunião do G-20, que reuniu os líderes das vinte maiores economia do mundo, contou, pela primeira vez, com a participação do presidente norte-americano Donald Trump, representante do país mais poderoso do mundo e, portanto, o principal líder do encontro. Na pauta, questões de interesse mundial foram objetos de avaliações e debates pelos diversos chefes de Estado. Um dos pontos de maior interesse consistia em reafirmar os compromissos assumidos na reunião de Paris, relativos à implementação do acordo que trata de medidas a serem adotadas para frear o aquecimento global.

Confirmando promessas de campanha, Trump não concordou com os dezenove outros chefes de Estado e negou-se a aderir aos termos firmados pelo acordo de Paris. A justificativa para essa atitude isolacionista é de que não há evidência científica que confirme o aquecimento global e que ao implementar ações para conter tal tendência, causaria desemprego e reduziria o crescimento da economia americana. Ambos os argumentos são fraudulentos. Chefes de Estado de dezenove países acreditam nas evidências científicas relativas ao aquecimento do clima que lhes foram disponibilizadas. Nos Estados Unidos, não é fácil encontrar algum cientista de primeira linha que sustente tal ideia, apesar de prontamente defendida por petroleiras e mineradoras de carvão que querem operar em áreas de preservação ambiental, mas não produzem ciência.

Do ponto de vista econômico, a adesão plena ao acordo de Paris, ao contrário da posição de Trump, não comprometerá o crescimento da economia americana, pois estimulará a inovação tecnológica e o desenvolvimento de novos produtos e serviços, além de criar inúmeras oportunidades de negócios em atividades de elevado valor agregado e conteúdo tecnológico. Perguntará o estupefato leitor: “Então, o país que mais polui nada fará para conter o aquecimento global?”. Tudo indica que sim. Trump parece não se dar conta de seu distanciamento em uma questão crítica, não apenas dos mais importantes países do mundo civilizado, inclusive, quem diria, da China, outro grande poluidor. Desse jeito, Trump acabará como líder de si mesmo, isto é, será o maestro de uma orquestra sem músicos.

(*) Professor do Departamento de Economia da UFPE.

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