Observatório econômico O desafio da produtividade

Publicado em: 03/07/2017 08:00 Atualizado em: 06/07/2017 16:06

Por Marcelo Eduardo Alves da Silva (*)

Marcelo Eduardo Alves da Silva é professor de Economia da UFPE. Foto: Paulo Paiva/DP
Marcelo Eduardo Alves da Silva é professor de Economia da UFPE. Foto: Paulo Paiva/DP
No momento em que fatos da vida política ocupam a maior parte do nosso tempo, não podemos deixar que questões urgentes nos impeçam de focar naquilo que é importante.

É difícil pensar em qualquer outra coisa, que não seja como resolver o nosso imbróglio político. A sensação é que o buraco não tem fim e aqueles que poderiam nos auxiliar na saída, parecem ser os primeiros a cavá-lo. Embora urgente, não podemos deixar que isso nos impeça de focar no que é importante. Apesar dos pesares, demos os primeiros passos na questão previdenciária, ao menos estávamos discutindo, na trabalhista e também na questão que considero mais desafiadora: o aumento de nossa produtividade.

A produtividade é, em linhas gerais, medida pela quantidade de bens e serviços que produzimos dividida pela força de trabalho. Quanto maior, maior nossa capacidade de produzir bens e serviços e, em consequência, nossa riqueza.  A produtividade, portanto, é a variável chave para explicar o desempenho econômico de um país ao longo do tempo. O problema é que nossa produtividade é baixa e, o pior de tudo, é que tem crescido pifiamente nos últimos anos.

Em relatório recentemente (Systematic Country Diagnostic - 2016), o Banco Mundial mostra evidências de que nossa produtividade cresceu, em média, apenas 1,6% ao ano, entre 2001 e 2013. Outros países, também ditos emergentes, conseguiram muito mais sucesso. Esse é o caso da China com 9,6%, da Turquia e Rússia com 3,5% e Colômbia com 2,1%. Ou seja, estamos ficando para trás. O relatório aponta ainda que a maior parte dos 2,4% de crescimento médio anual da renda real per capita, entre 2000 e 2010, pode ser atribuída à expansão da força de trabalho e, quase nada, à produtividade. Isso é emblemático porque num cenário de envelhecimento da população e de queda na fertilidade, o que nos moveu para frente nos últimos anos, não terá a mesma força nos anos vindouros.

No trabalho “On the evolution of Latin America TFP”, publicado na Economic Inquiry, em 2013, Pedro Ferreira e coautores argumentam ainda que várias distorções políticas, incluindo a política de substituição de importações, a ampla intervenção do governo e barreiras competitivas domésticas e internacionais, estão por trás da nossa baixa produtividade. O Banco Mundial acrescenta ainda  a baixa qualidade de nossa infraestrutura, o acesso limitado ao crédito, e o ambiente de negócios complicado. Assim como Ferreira e coautores, o Banco Mundial aponta ainda a ausência de competição entre as empresas. Empresas só investem em aumento da produtividade quando se sentem compelidas a isto e não há nada mais disciplinador do que a competição seja por empresas nacionais ou estrangeiras.

Infelizmente, somos um país burocrático, com mentalidade cartorial sufocante, onde abundam alocações ineficientes de recursos e incentivos errados por todos os lados, com “meias-entradas”, jeitinhos, privilégios especiais, onde nossas melhores mentes disputam a “ferro e fogo” o alto clero da burocracia governamental. Trocam a inovação e o empreendedorismo pelo “carimbo”.  A lista de desafios é enorme, não precisamos atacar tudo de uma só vez, mas, ao menos, precisamos começar. Melhorar o marco regulatório, o ambiente de negócios, o acesso ao crédito, remover distorções e diminuir o peso do Estado me parecem os primeiros passos dessa longa jornada. Acrescentaria ainda melhorar a formação de nossa mão-de-obra, tendo uma visão mais prática da educação.

(*) Professor de Economia da UFPE.



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