Observatório econômico Agenda, não pessoas

Publicado em: 10/07/2017 08:00 Atualizado em: 10/07/2017 19:02

Por André Magalhães (*)

André Matos Magalhães é professor do Departamento de Economia da UFPE. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação
André Matos Magalhães é professor do Departamento de Economia da UFPE. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação
O Governo Temer derreteu. Os apoios políticos estão indo embora. A conhecida habilidade do Presidente não parece mais suficiente para evitar as investigações e a sua consequente saída. É o fim do mundo? É ruim para a economia e para o País?

Pessoalmente, eu acredito que o presidente deveria ter saído antes. No momento em que foi pego na gravação a situação ficou inviável. Foi uma armadilha? Claro que foi. O problema é que ele caiu fácil nela. Caiu porquê está acostumado, assim como outros atores públicos, a agir dessa forma.

Temos que manter o governo em nome da estabilidade econômica? Não! Meu cenário ideal é Temer saindo rapidamente e alguém assumindo com o entendimento que a agenda econômica precisa ser mantida. Precisamos controlar os gastos públicos. Precisamos caminhar com as reformas. A trabalhista, que está adiantada, e a previdenciária, que corre o risco de ficar esquecida. Precisamos tomar atitudes agora que evitem que o Governo Federal, e os governos estaduais, se tornem um Rio de Janeiro ou um Rio Grande do Sul.

A agenda que precisa ser cuidada. Não necessariamente o Governo. Defender governos ou governantes corruptos em nome de um bem maior ou, simplesmente, na ideia do “rouba mas faz” deveria ser coisa do passado negro. Infelizmente não é.
Não deveríamos confundir isso. A manutenção do atual Presidente pode, ao contrário, sabotar o processo de reformas, na medida em que ele precisa ceder a todos para se segurar ao cargo.

A saída de Temer não significa, entretanto, que os governos anteriores estavam certos. Também não significa que as gestões passadas não eram corruptas. Lembremos que ainda vivemos a continuidade de um grupo político, parte dele pelo menos. Os erros e trapalhadas econômicas das gestões do Presidente Lula e da Presidente Dilma não devem ser esquecidos. A política econômica desastrosa, leia-se a Nova Matriz Econômica, dessas gestões nos trouxe até a crise em que estamos. Elas não devem ser esquecidas. Devem ser lembradas para nunca mais serem repetidas.

O que esperar então? Enquanto a situação política não for resolvida, as questões econômicas vão avançar de forma lenta, ou mesmo parar. De alguma forma os mercados já se ajustaram para o cenário de instabilidade política. Como resultado, não vemos grandes variações nos indicadores econômicos. Ao mesmo tempo, a inflação está sob controle, os juros estão caindo (mais lentamente do que se gostaria, mas estão caindo) e o PIB parou de encolher. Começamos a ver uma luz no final do túnel da crise econômica.

Talvez em termos médicos seria possível dizer que o paciente está estável e dá sinais de melhoras. O caminho a seguir depende do que irá acontecer no campo político. A permanência do atual Presidente tende a não ser benéfico para o quadro geral. E mesmo que fosse positivo do ponto de vista econômico, seria péssimo em qualquer outro sentido. Precisamos ser intolerantes com relação a corrupção. Precisamos pensar em agendas positivas para o País e não em pessoas. Seremos mais fortes mais saudáveis no curto e no longo prazo dessa forma.

(*) Professor do Departamento de Economia da UFPE.

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