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Observatório econômico O PIB nem foi 8 nem 80

Publicado em: 11/06/2017 08:00 Atualizado em: 26/06/2017 17:29

Por Fernando Dias (*)

Fernando Dias é professor do Departamento de Economia da UFPE. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação
Fernando Dias é professor do Departamento de Economia da UFPE. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação
Tivemos nas últimas semanas a publicação do PIB do primeiro trimestre de 2017 e com ela a informação que a recessão finalmente acabou. O governo comemorou como uma vitória da nova linha de política econômica que tirou o país da pior recessão da era republicana, mas a oposição questionou os resultados e vaticina que continuamos ladeira abaixo. Nem 8 nem 80 como diriam os mais velhos.


Primeiro vamos as tecnicalidades. Recessão é definida pelos economistas como a queda no PIB trimestral após dois trimestres negativos consecutivos, e permanece enquanto o este não apresenta taxa positiva. Tecnicamente se sai da recessão no primeiro resultado positivo não importa se tivemos um semestre negativo ou dois anos, como foi nosso caso. Então sim, tecnicamente saímos da recessão.

Pode se creditar isto a nova orientação de política econômica? Em parte, sim, mas com ressalvas. Quando observamos a composição dos indicadores do PIB do primeiro trimestre fica claro que desempenho do setor agrícola exportador teve maior destaque, seguido pela indústria, enquanto o principal componente do PIB que é o consumo ainda teve resultado negativo. No que se refere ao setor agrícola, com exceção do ajuste cambial que favoreceu os exportadores, pouco efeito se pode creditar a orientação de política econômica sobre o resultado do mesmo. Já na indústria temos uma combinação de melhores expectativas e crescimento vegetativo.

A oposição tem então razão quando diz que o resultado é ilusório? Não, ele não é ilusório, mas é ainda muito tênue. Uma crítica que vem sendo feita é que não faz sentido no século XXI o Brasil ter no setor de commodities agrícolas um de seus centros dinâmicos. A este respeito David Ricardo, um dos pais da ciência econômica, se reviraria no túmulo já que ele centenas de anos atrás já no ensinava que o que determina o mix da balança comercial de um país é a vantagem comparativa e, em termos de setor agropecuário, não precisa ser especialista para saber que este é um segmento que somos um dos grandes players globais.

Por que tênue? Por que os principais componentes do PIB, consumo, investimento e gasto do governo, ainda refletem danos do passado e incertezas do presente. O consumo, que é o maior componente, depende tanto da renda das famílias quando das expectativas do futuro e das taxas de juros. Ora, apenas os juros estão caindo, mas nos demais determinantes temos desemprego ainda alto e muita incerteza, e isto sugere que o vigor do consumo ainda não virá nos próximos meses. E o investimento? Este é afagado por juros em queda e solapado por incertezas quanto ao futuro. Porém, como ficamos dois anos em recessão, a necessidade de reposição age positivamente junto ao investimento mesmo que aponte neste caso para crescimento vegetativo.

E os gastos do governo? Este, a depender da nova linha de condução de política econômica, deveria cair. E, diga-se de passagem, ao menos a União tem feito todo o esforço para que ele caia de fato. A exceção da previdência, cujos caminhos futuros estão atrelados a reforma, as demais despesas estão sendo de fato cortadas dentro do compromisso da União com a PEC dos gastos. Se depender dos gastos do governo e da disposição atual da administração federal não será por aí que o PIB vai crescer, muito pelo contrário.

Desta forma a manutenção de taxas positivas do PIB, dentro da atual linha de política econômica, depende quase que inteiramente do mercado. A união não tem mostrado disposição de obter resultado a fórceps para pagar a conta depois. Do lado da condução de política monetária estão fazendo a parte deles, e com inflação sob controle os juros caem com vigor. Já do lado de prover ambiente estável e livre de incertezas...aí estamos ainda distantes de um cenário confortável.

(*) Professor do Departamento de Economia da UFPE.

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