Observatório econômico O cenário de incerteza da economia brasileira

Publicado em: 12/06/2017 08:00 Atualizado em: 19/06/2017 17:58

Por Paulo Aguiar do Monte (*)
 
Paulo Aguiar do Monte é professor de Economia da Universidade Federal da Paraíba. Foto: Arquivo pessoal
Paulo Aguiar do Monte é professor de Economia da Universidade Federal da Paraíba. Foto: Arquivo pessoal
A incerteza é uma situação onde o futuro não é, nem pode ser conhecido (Frank Knight, autor do livro “Risk, Uncertainty, and Profit”).


Nesse contexto de incerteza, a tarefa do economista/analista torna-se ainda mais difícil (senão impossível) ao fazer previsões sobre o cenário econômico.

Após oito trimestres de queda, finalmente, o Produto Interno Bruto (PIB) do País apresentou alta de 1% no primeiro trimestre (janeiro/fevereiro/março) de 2017 em relação ao último trimestre de 2016, graças basicamente ao setor agropecuário que aumentou 13,4% no período. Apesar de, quando comparado ao mesmo trimestre do ano anterior, o índice ainda ser negativo (-0,4%), a ruptura do processo contínuo de queda pode criar expectativas positivas para o desempenho da economia.

De forma similar à trajetória do PIB, caminha a situação do mercado de trabalho brasileiro. A taxa de desemprego se situou em 13,6% no trimestre encerrado em abril (fevereiro/março/abril) contra 13,7% no trimestre encerrado em março (janeiro/fevereiro/março), representando, portanto, uma queda de 0,1%. Embora, quando se compara com o mesmo trimestre de 2016, a alta tenha sido de 2,4% (13,6% contra 11,2%).

Neste cenário de incertezas, números positivos e negativos, some-se ainda a variável “crise política” que vive o Brasil. Em contraponto a fala do recém-empossado ministro da justiça de que “a crise é econômica e não política”, no último dia 30 de maio a Fundação Getúlio Vargas divulgou que o Indicador de Incerteza da Economia Brasileira (IIE-BR) subiu 9,3 pontos (alcançando 128,1 pontos) no período abril-maio de 2017.

Em um país onde as instituições ainda estão se fortalecendo, a crise econômica é agravada pela crise política. Embora o Brasil tenha apresentado avanço na construção das instituições políticas, pós-período Militar, também é possível observar um fracasso no aperfeiçoamento de instituições fortes que coordene os incentivos e as restrições dos agentes econômicos e políticos; haja vista o quadro de corrupção generalizada e incerteza vivenciada.

Não restam dúvidas de que o aumento da incerteza afeta, de forma negativa, o nível de confiança e investimentos no país. Em comunicado recente acerca da redução de 1 ponto percentual da taxa de juros, na recente reunião do COPOM (Comitê de Política Monetária), a palavra “incerteza” foi transcrita cinco vezes, com a ressalva de que a culpa de tanta “incerteza” se deve a crise política e seus possíveis efeitos na economia.

Neste período de crise, o incerto é o longo prazo e o certo é a oscilação econômica no curto prazo.

(*) Professor de economia da UFPB.

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