Projeto 'Concorrência' ameaça futuro da Hemobrás Fábrica de derivados que pode ser criada no Paraná enfraqueceria empresa localizada em Goiana

Por: Rochelli Dantas - Diario de Pernambuco

Publicado em: 16/06/2017 08:13 Atualizado em:

Conclusão da fábrica de Goiana está prevista para ocorrer totalmente em 2019.  Foto: Annaclarice Almeida/DP
Conclusão da fábrica de Goiana está prevista para ocorrer totalmente em 2019. Foto: Annaclarice Almeida/DP
Um investimento milionário corre o risco de ser esvaziado antes mesmo de ter sido concluído. O projeto em questão é a fábrica da Empresa Brasileira de Hemoderivados (Hemobrás), localizada em Goiana, Zona da Mata Norte pernambucana. Criada em 2004, a fábrica tem como meta diminuir a dependência brasileira no setor de derivados de sangue. Até dezembro, o governo federal já investiu R$ 818 milhões no empreendimento, cuja conclusão só deve acontecer em 2019. Acontece que, mesmo sem ter concluído o projeto, o Ministério da Saúde já discute um outro empreendimento para produção de hemoderivados, desta vez no Paraná. Com isso, a produção do chamado fator VIII recombinante, produto mais rentável a ser produzido em Goiana, poderá não acontecer em solo pernambucano, como projetado desde o início. 

Segundo informações do Ministério da Saúde, a proposta em análise é fazer um consórcio entre a Tecpar, o Instituto Butantan e a Hemobrás, em parceria com a empresa suíça Octapharma. Pelo modelo, a ideia é que a Tecpar atue com a produção do fator VIII recombinante, enquanto Butantan e Hemobrás produzirão os demais produtos plasmáticos. A proposta prevê um investimento de US$ 500 milhões, feito pela Octapharma, sendo US$ 200 milhões para a Hemobrás.

O fator VIII recombinante é, assim como o similar fator VIII (que utiliza plasma sanguíneo na fabricação), destinado ao tratamento de hemofilia A, distúrbio na coagulação do sangue. Ambos são importados atualmente. O recombinante, por sinal, é muito mais oneroso aos cofres da União justamente por não utilizar o sangue como matéria-prima. O processo de tranferência tecnológica do fator VIII recombinante teve início em 2013, quando a Hemobrás conquistou, junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a aprovação do registro do fator VIII recombinante. Com isso, a estatal vinculada ao Ministério da Saúde passou a deter o registro desse tipo de produto no Brasil. 

Para obter a certificação, em paralelo à construção do parque fabril, a Hemobrás firmou um convênio para transferência de tecnologia junto com o LFB - Laboratório Francês de Fracionamento e Biotecnologia. Sendo assim, atualmente, a Hemobrás coleta nos hemocentros brasileiros o plasma excedente das doações de sangue, após a devida qualificação de tais estabelecimentos, faz a triagem e o armazenamento dessa matéria em sua fábrica e, posteriormente, envia para a França, de onde retorna como produtos hemoderivados, incluindo o Fator VIII. Uma vez no Brasil, esses medicamentos são distribuídos gratuitamente aos usuários do SUS.

Segundo dados obtidos via Lei de Acesso à Informação, desde que iniciou a exportação do plasma brasileiro, a Hemobrás já enviou para o parceiro tecnológico 786.240 bolsas, que serviram de matéria-prima para a produção de quase 1 milhão de frascos de hemoderivados. 

“A Hemobrás foi criada com o objetivo de garantir a autossuficiência em derivados de sangue no Brasil e já é uma realidade. O que vai acontecer com o investimento já realizado? Por que investir em um novo projeto se a fábrica nem foi concluída?”, questiona o líder da oposição e ex-ministro da Saúde, Humberto Costa (PT). O senador pediu esclarecimentos ao Ministério da Saúde e convocou o titular da pasta, Ricardo Barros para responder perguntas sobre o tema.


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