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Observatório econômico Tempos modernos

Publicado em: 02/04/2017 08:00 Atualizado em: 31/03/2017 19:31

Por Marcelo Eduardo Alves da Silva (*)

Marcelo Eduardo Alves da Silva é professor de Economia da UFPE. Foto: Paulo Paiva/DP
Marcelo Eduardo Alves da Silva é professor de Economia da UFPE. Foto: Paulo Paiva/DP
De tempos em tempos surge a questão de que com o avanço tecnológico, em particular, o aumento no uso da automação, inteligência artificial e robôs caminharíamos para um mundo com menos emprego. Seria este o nosso destino? 
 
Nos anos 30, Keynes já alertava para o fato de que nos anos vindouros o mundo conheceria um novo termo: o desemprego tecnológico. A ideia implícita é de que, assim como no filme de Charles Chaplin, a máquina substituiria o homem. Embora essas predições não tenham ocorrido na dimensão imaginada, o fato é que o recente aumento no uso da automação, inteligência artificial, e robôs industriais reascendeu o debate e o mais importante têm levado muitos a pensar sobre seus efeitos e sobre o que poderia ser feito à respeito. Caminharíamos afinal para um mundo com menos empregos?

No caso de robôs industriais, seu uso tem crescido nos últimos anos e espera-se que continuem crescendo. De acordo com dados da Federação Internacional de Robótica (IFR na sigla em inglês) existiam cerca de 1,6 milhões de unidades em operação no mundo em 2015, número este que deve chegar a mais de 2,5 milhões de unidades em 2019. Embora mais concentrada em setores específicos (indústria automotiva, indústria eletroeletrônica, etc.) a tendência é de um maior difusão dessas tecnologias para outros setores da economia.

Apesar de ser possível que a automação e o uso de robôs possa ter efeitos negativos sobre o emprego e salário em setores mais suscetíveis à sua adoção, os efeitos no agregado poderiam ser diferentes. Se, por um lado, efeitos negativos ocorreriam através da substituição, por meio da automação ou uso de robôs, de trabalhadores em atividades antes executadas por eles. Por outro, a automação aumentaria a produtividade total dos fatores (PTF), com efeitos positivos sobre o emprego e salários nos demais setores da economia. O efeito final, portanto, dependeria de qual dos dois seria o mais forte. O quê dizem as evidências?

As evidências ainda são pequenas e, de certa forma, inconclusivas. Graetz e Michaels (2015), por exemplo, mostram evidências de que o uso de robôs industriais aumentou a produtividade do trabalho e o valor adicionado utilizando dados para um conjunto de indústrias em 17 países. Eles mostram evidências de aumento na PTF, dos salários e, por sua vez, maior crescimento econômico. Eles não encontraram evidências de uma redução na quantidade total de horas trabalhadas, mas apontaram para uma redução nas horas trabalhadas de trabalhadores com baixa e média habilidades técnicas. Já Acemoglu e Restrepo (2017), utilizando dados locais (“commuting zones”) para os Estados Unidos, mostram que o aumento no estoque  de  robôs industriais reduziu o emprego e o salário nestes locais entre 1993 e 2007, o que pode sugerir a prevalência de impactos negativos da adoção de robôs industriais à medida que sua utilização se aprofunde e se espalhe para os demais setores da economia.

É ainda cedo para tirarmos conclusões definitivas, mas é interessante começarmos a pensar sobre isso. Ademais, com o envelhecimento da população mundial, o uso crescente de robôs pode ser uma maneira de manter a “bola” do crescimento da PTF “quicando”, afinal, é o crescimento da PTF que move o crescimento econômico no longo prazo.

(*) Professor de Economia da UFPE.

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