Observatório econômico Juros e Inflação em queda

Publicado em: 05/03/2017 08:00 Atualizado em: 03/03/2017 19:49

Por Marcelo Eduardo Alves da Silva (*)

Marcelo Eduardo Alves da Silva é professor de Economia da UFPE. Foto: Paulo Paiva/DP
Marcelo Eduardo Alves da Silva é professor de Economia da UFPE. Foto: Paulo Paiva/DP
A redução da Selic para 12,25% a.a. é apenas o início de um ciclo de flexibilização da política monetária. Se o processo de implementação de reformas estruturais continuar, poderemos retomar uma trajetória de crescimento sustentável de longo prazo.


O Banco Central (BC) divulgou na última semana as notas da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que decidiu pela redução da taxa básica de juros (Selic) de 13% a.a. para 12,25% a.a. Dentre as justificativas, o movimento de desinflação dos preços e a ainda fraca recuperação da economia foram os principais pontos. Some-se a isto o fato de que as expectativas de inflação se mostram ancoradas em torno do centro da meta de 4,5% tanto para 2017 quanto para 2018. Em particular, as expectativas de inflação coletadas pelo BC estão a quatro semanas em queda e os últimos números indicam inflação abaixo de 4,1% para 2017.  

Diante deste cenário de baixa inflação, recuperação ainda lenta da economia e de expectativas ancoradas, o Copom deve continuar o ciclo de flexibilização da política monetária e a Selic deve fechar o ano entre  9,0 e 9,5% a.a. Ao contrário do que muitos acreditam, os efeitos da política monetária não são sentidos de forma imediata pela economia, seus efeitos são tipicamente defasados. Portanto, ao aprofundar a redução dos juros, o BC mira não somente 2017, mas  2018 e 2019.

No radar do BC estão não apenas as questões conjunturais, mas também as reformas estruturais, em particular, a reforma da previdência. Se aprovada, a reforma ajudará em futuras reduções dos juros, uma vez que atenuará a pressão sobre a dívida pública. A minha leitura é que “a casa começa a ficar arrumada” novamente, após anos de irresponsabilidade na condução das políticas monetária e fiscal, que nos levaram a repetir “experimentalismos heterodoxos” com suas intervenções setoriais, controle de preços e contabilidade criativa, que nos legaram a maior recessão de todos os tempos.

Oxalá o remédio amargo da recessão nos ajude a expurgar de uma vez por todas os arautos da heterodoxia econômica no país, muito embora esses “mortos-vivos” ainda insistem em nos assombrar. Não há milagres em economia, se quisermos retomar o crescimento, a melhoria no ambiente macroeconômico, com inflação e lado fiscal sob controle, é uma pré-condição necessária.  E, ao contrário do que tem sido sugerido, o “feijão com arroz” na política monetária funciona adequadamente. A queda das expectativas e da própria inflação mostram que o aperto monetário do ano passado deram resultado. Com a “casa arrumada”, abre-se espaço para maiores reduções no juros e para a retomada do crescimento.

(*) Professor de Economia da UFPE.

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