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Observatório econômico Uma boa notícia

Publicado em: 15/01/2017 08:00 Atualizado em: 12/01/2017 20:55

Por Marcelo Eduardo Alves da Silva (*)

Marcelo Eduardo Alves da Silva é professor de Economia da UFPE. Foto: Paulo Paiva/DP
Marcelo Eduardo Alves da Silva é professor de Economia da UFPE. Foto: Paulo Paiva/DP
A redução dos juros pelo COPOM para 13% a.a. foi uma boa notícia, não tanto pelo tamanho, mas pela sinalização de que o BC está em sintonia com o mundo real.


Em coluna anterior, publicada no dia primeiro de janeiro (o que esperar do novo ano?), alertei para o fato de que uma das boas notícias que poderiam vir neste novo ano seria a queda nas taxas de juros. E, de fato, o COPOM confirmou esta expectativa e reduziu os juros de 13,75% a.a. para 13% a.a. A redução foi significativa e mais ousada do que esperavam os mais cautelosos (me incluo entre eles), mas diante da dificuldade de retomada da economia, da desaceleração da inflação ao final de 2016 e dos cenários para 2017 e 2018, pode-se concordar que foi uma boa notícia.  Espero apenas que não tenha sido mais uma daquelas ações apressadas para  se gerar notícias positivas.

Há quem acredite que reduzir juros é simplesmente uma questão de vontade política e que não haveria consequências negativas de decisões equivocadas. O fato é que errar na dosagem pode significar mais inflação e maiores elevações nas taxas de juros no futuro para compensar o equívoco. Isto já ocorreu no passado, particularmente quando a redução dos juros foi transformada em um instrumento político-partidário e não em um instrumento de política monetária, que é seu papel de fato.

Há pouco que se discordar da decisão de cortar os juros, alguns talvez argumentem que o BC deveria ser mais cauteloso, reduzindo-os em 0,5% e sinalizando uma queda maior para fevereiro, quando teremos a segunda reunião do COPOM. Embora seja mais cauteloso quando se trata de política monetária, o corte de 0,75% foi justificado pelo BC pelo fato da inflação ter encerrado 2016 abaixo do teto de 6,5% (fechou em 6,29%) e da convergência das expectativas de inflação para 2017 e 2018 para o centro da meta de 4,5%. Adicionaria o elevado grau de desemprego, que atinge mais de 12 milhões de pessoas, e a revisão das expectativas de crescimento do PIB para este ano. Para mim, é um sinal de que o BC está em sintonia com a realidade.

Mais importante do que a redução de 0,75%, parece-me crucial a indicação de qual deve ser a trajetória dos juros este ano. A se confirmarem as previsões de convergência da inflação, de melhora no quadro fiscal e de aprovação de reformas, os juros devem cair e quem sabe fechar o ano abaixo de 10%. Esta redução deve ajudar na retomada da economia, já que o crédito ficará mais barato, aliviando um pouco o caixa das empresas e o orçamento das famílias, muitas das quais se encontram com a “corda no pescoço” quando se trata de dívidas. Torço apenas que o BC seja coerente na condução da política monetária, sem comprometer o objetivo de fazer convergir a inflação à meta. Como disse na primeira coluna deste ano, espero que 2017 seja o ano da retomada e que o cenário político não seja um estorvo para sairmos finalmente da maior recessão que este país já experimentou. Parafraseando um bravateador famoso: “nunca antes na história deste país, vivemos uma recessão tão grande causada por uma ignorância tão grande quando se trata de política econômica”.  Torço para que o erro não se repita.

(*) Professor de Economia da UFPE.

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