Observatório econômico A sabedoria chinesa

Publicado em: 22/01/2017 08:00 Atualizado em: 20/01/2017 20:06

Por Carlos Magno Lopes (*)
 
Carlos Magno Lopes é professor de Departamento de Economia da UFPE. Foto: Tiago Lubambo
Carlos Magno Lopes é professor de Departamento de Economia da UFPE. Foto: Tiago Lubambo
Na evolução da civilização ocidental é possível identificar momentos de extraordinária grandeza, de estagnação e de retrocesso. O mesmo ocorre do lado oriental. Em tempos recentes, com a queda do Muro de Berlim, o modelo ocidental assumiu a hegemonia quase total em relação a princípios e valores que regem a civilização. Neste cenário, a globalização da economia tornou-se uma condição necessária para o progresso humano e material dos povos. O liberalismo havia, ainda que tardiamente, se consagrado como a única das alternativas. Acontece que história não havia se preparado para a reencarnação de Jânio Quadros, desta vez, nos Estados Unidos. Ele tem nome e sobrenome, além de hotéis espalhados pelo mundo: Donald Trump.

 
Eis que o cerne da política econômica de Mr. Trump é promover a desglobalização da economia, a panaceia para todos os males que afligem os trabalhadores americanos, especialmente a baixa classe média branca. A receita para restaurar o padrão de vida dos “blue collars” e demais desempregados, em decorrência de avanços tecnológicos, é de uma simplicidade franciscana, senão vejamos. O protecionismo comercial inviabilizará a importação de bens produzidos no exterior, porquanto os tornariam mais caros que os fabricados domesticamente. Assim, a indústria americana contrataria mais trabalhadores e os salários, naturalmente, aumentariam. Todos sairiam ganhando como o aumento dos lucros e dos salários. Os perdedores seriam os países que atualmente exportam para os Estados Unidos, que roubam os empregos dos americanos. É simples assim. Muitos acreditam nesse argumento. Isso é conhecido como “post-truth”, ou seja, quando fatos objetivos são menos influentes em moldar a opinião pública que o apelo à emoção e à crença pessoal” (Oxford Dictionary).
 
Adam Smith, convencido que suas ideias haviam triunfado e provado os benefícios do livre-comércio, apesar do desserviço prestado por alguns de seus seguidores, resignou-se diante de tantas ideias estapafúrdias. Afinal, dava como concluída sua magnífica contribuição. O que pode ser o início de uma reação, contudo, não tardou. No Cantão Grisões, precisamente na comuna de Davos, na Suíça, ecoaram palavras que lhe produziram certo conforto. O presidente chinês Xi Jinping, cujo país é reconhecido como protecionista, afirmou, sem identificar o destinatário de suas palavras: “Seguir o protecionismo é como se trancar em uma sala escura. O vento a chuva são mantidos do lado de fora, como também a luz e o ar”.  Perguntará o curioso leitor: “Será apenas mais um milenar provérbio chinês?”. Não há como saber. No entanto, da mesma forma que a eleição de Mr. Trump pode ter dado um susto na história, uma eventual transformação da China em ícone do livre-comércio também terá um impacto monumental nos rumos da moderna civilização. O mundo pode virar de cabeça para baixo.

(*) Professor de Departamento de Economia da UFPE.

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