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Observatório Econômico O que esperar do novo ano? Por Marcelo Eduardo Alves da Silva*

Publicado em: 01/01/2017 08:00 Atualizado em: 29/12/2016 14:29

Marcelo Eduardo Alves da Silva é professor de Economia da UFPE. Foto: Paulo Paiva/DP
Marcelo Eduardo Alves da Silva é professor de Economia da UFPE. Foto: Paulo Paiva/DP
O ano de 2016 foi difícil, com desemprego em alta, queda na renda e economia indo ladeira abaixo. Ufa, finalmente acabou, mas o que esperar de 2017?

Após ter fechado o ano de 2015 com queda de 3,8%, as expectativas são de que o PIB tenha encerrado 2016 com queda em torno de 3,5%. No final de 2015, quando já experimentávamos o estrago feito pelo descontrole fiscal, as expectativas eram de que o PIB fecharia 2016 com queda de 2,95%. A queda do PIB será um pouco maior, mas ao menos temos o alento (ou esperança) de que a fase mais profunda da recessão tenha chegando ao fim. Como de costume, todos se perguntam: o que esperar do novo ano?

Previsões são sempre falhas, principalmente no início do ano, mas ao menos fornecem um guia do que deveremos esperar. As expectativas hoje são de que o PIB deva crescer em torno de 0,5%, não é muito, é verdade, mas ao menos não será negativo. A recuperação porém, não ocorrerá logo no início do ano, mas ao longo dele. Um ponto positivo da recessão destes dois últimos anos é que a inflação dá sinais de queda. Se isto se confirmar, abrirá espaço para reduções mais substanciais da taxa de juros e contribuirá para a recuperação da economia, sem pressionar a inflação.

O lado fiscal ainda preocupa, particularmente as finanças estaduais. O problema dos estados é mais sério do que se imagina. Ele não reside numa questão conjuntural – queda nas receitas estaduais, mas estrutural. As despesas com pessoal (ativos e inativos) cresceram de forma insustentável e se nada for feito, muito deles entrarão em colapso, como já ocorreu com alguns.

Ainda há muita incerteza sobre como o governo federal se comportará em relação a essa situação. A menos que ele reverta o comportamento do Congresso Nacional, que retirou as contrapartidas dos estados, a bomba-relógio estourará em breve. Estados mais irresponsáveis precisam tomar o remédio mais amargo.

Há a esperança de que a reforma da previdência avance, apesar da dura resistência que enfrentará no Congresso. À despeito das críticas que se possam fazer ao modelo proposto, ao menos o debate será colocado à mesa. Há questões paralelas é verdade, como as renúncias fiscais e a inclusão dos militares. Espero que isto entre na discussão também. Há outros sinais positivos como, por exemplo, o anúncio de que o governo seguirá com um conjunto de minirreformas, que visam reduzir a burocracia, distorções e facilitar o acesso ao crédito. São medidas de longo prazo, de certo, mas não menos importantes quando se trata de melhorar o ambiente de negócios.

Do que dependerá a nossa retomada? Diria que da melhora do quadro fiscal e das expectativas dos agentes econômicos. O equacionamento das despesas federais e dos estados, a reforma da previdência e a redução dos juros abrirão espaço para a retomada. A economia já dá sinais de recuperação, resta saber se a “política” ajudará ou se será um estorvo com os desdobramentos da Lava-Jato. Se o governo seguir na linha das reformas e não ceder ao populismo, poderemos fechar o ano melhor do que a mais otimista das previsões. Espero estar certo. Feliz 2017!

* Marcelo Eduardo Alves da Silva é professor de Economia da UFPE

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