Observatório Econômico Que venha logo o Carnaval

Publicado em: 23/01/2017 08:00 Atualizado em: 25/01/2017 22:12

Por Fernando Dias(*)

Fernando Dias é professor do Departamento de Economia da UFPE. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação
Fernando Dias é professor do Departamento de Economia da UFPE. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação
Em 2017 o Carnaval virá apenas em 28 de fevereiro, e embora ainda estejamos no início do ano, o evento vem se tornando cada vez mais aguardado pelos empresários. O motivo é que este certamente foi um dos piores Natais dos últimos anos, daqueles para você esquecer e rezar para nunca mais acontecer de novo. As razões são bem conhecidas: recessão, preços altos, renda baixa, expectativa baixa e incerteza sobre o futuro.


O período de Natal e Ano Novo é sempre muito esperado pela economia pois ele aglutina várias características que individualmente são importantes para alavancar vendas, e juntas formam um espetáculo. É período de férias, as pessoas recebem o reforço do 13º, a tradição leva a comprar presentes e as férias levam as pessoas a viajar com a família. Mas sem dinheiro pouco dá para fazer, e com o crédito caro e o futuro incerto é natural que as pessoas pensem muitas vezes antes de gastar.

E o que pode mudar até o Carnaval? Ao que tudo indica, não muita coisa, porém o Carnaval é a maior festa popular do país e mesmo em anos ruins, como em 2017, leva milhões de pessoas a se deslocarem e, consequentemente, a gastarem. Tomadas pelo espírito momesco elas aceitam mais risco e injetam recursos que hoje são mais que bem-vindos na economia, mesmo que restritos ao setor de turismo. Paciência, nem tudo é perfeito!

O Nordeste, em particular, é uma das regiões mais beneficiadas. Não temos aqui o estilizado Carnaval carioca que arrasta milhares de europeus ricos e endinheirados para a arquibancada de cimento da Sapucaí, mas temos as ruas de Olinda e Recife, os blocos de Salvador e as praias de Fortaleza que arrastam milhões de brasileiros não tão endinheirados. Hotéis, pousadas e casas cheiras, estabelecimentos cheiros e moeda circulando na economia, tudo aquilo que precisamos no momento.

Quanto é isto em números? Eis algo difícil de estimar. Não que não haja estimativas oficiais, elas existem, mas por serem frutos de metodologias distintas não é muito preciso usar a totalização das mesmas. Por exemplo, o governo de Pernambuco declara 1,7 milhão de turistas em 2016, uma estimativa bem acima do cerca de 1 milhão na Bahia e do mesmo número no Ceará. Em termos de valores, as estimativas oficiais para estes 3 estados sugerem cerca de 3 bilhões gerados no período. Não é tanto quanto as vendas de Natal, mas por ser uma festa de caráter popular a realização deste gasto termina sendo feita de forma mais dispersa e, via efeito multiplicador, acaba tendo um papel de importância similar para a economia local.

Resta questionar se o potencial desta festa para a economia está sendo plenamente aproveitado. A resposta é, a princípio, negativa. Em função de deficiências claras de infraestrutura o potencial de gasto do turista pode não ser obtido, e quanto menos desenvolvida a área que ele frequenta, menor tende a ser o gasto médio deste visitante. No entanto, por ser um evento de curta duração a princípio não se justificaria elevados investimentos em equipamentos de infraestrutura e qualificação, salvo em áreas onde o direcionamento turístico possa ser exercido ao longo de períodos maiores e com muitas outras atrações. Dado que estes investimentos não vêm sendo feitos, em qualquer situação se conclui que há espaço para elevar a receita global do evento.

E o que fazer até o Carnaval? No andar do noticiário econômico, o melhor parece ser enxugar o que puder em custos e torcer para durar até lá pois, ao que tudo indica, a saída do túnel é mais longe do que se imaginava.

(*) Professor do Departamento de Economia da UFPE.

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