Mercado imobiliário Idosos encontram dificuldades para financiar imóveis O principal fator que encarece este tipo de financiamento é que, para os bancos brasileiros, o prazo limite para o parcelamento é 80 anos

Por: Thatiana Pimentel

Publicado em: 05/11/2016 10:57 Atualizado em:

Rose Rodrigues, diretora da Escola Moderna Nossa Senhora do Loreto, em Boa Viagem, tem 65 anos e, recentemente, comprou um imóvel para um de seus quatro filhos. Ao contrário de grande parte da população, o financiamento bancário não foi sua primeira opção. A professora e empreendedora admite que preferiu realizar a negociação diretamente com a construtora, uma vez que, para ela, o sistema bancário dificulta o crédito para pessoas com mais de 60 anos. “Tenho amigos que tentaram e, pelas condições, é realmente inviável. Os bancos oferecem um prazo curto e taxas altas. Nas construtoras, consigo condições melhores”, revela.

O principal fator que encarece este tipo de financiamento é que, para os bancos brasileiros, o prazo limite para o parcelamento é 80 anos. Assim, uma pessoa com 65 anos, por exemplo, tem pouco mais de 15 anos para quitar seu financiamento, enquanto que o prazo máximo da Caixa Econômica – principal banco de crédito imobiliário – é de 35 anos para pessoas de até 45 anos.

“Isso implica em uma entrada grande, prestações mais altas e um seguro, que é obrigatório para todas as idades, também mais caro”, explica Frederico Mendonça, sócio da imobiliária Arrecifes e autor de livros sobre o mercado imobiliário. Segundo ele, o prazo limite de 80 anos é resultado de uma conta que passa pela expectativa de vida, atualmente em 75,2 anos, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“O que prevejo é que, nos próximos 30 anos, esse cenário vai mudar. A pirâmide populacional, que hoje tem uma base maior de jovens, vai ficar cada vez mais com uma quantidade maior da população na terceira idade. Com isso, haverá uma adequação tanto do sistema financeiro quanto das próprias construtoras para oferecerem produtos mais específicos (linhas de crédito) e preparados para a idade (apartamentos acessíveis para quem tem dificuldade de mobilidade).”

Genildo Valença, diretor de política habitacional da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário de Pernambuco (Ademi-PE), adianta que, para quem tem pretensão de adquirir um imóvel e já esteja com mais de 60 anos, deve buscar dar a maior entrada possível. “Como o prazo de financiamento é menor, acaba que, muitas vezes, mesmo com uma renda alta, o idoso não consegue financiar o valor do imóvel que realmente quer porque o banco vai limitar esse valor considerando o prazo e as parcelas podem comprometer, no máximo, 30% do orçamento”, reforça.

Como exemplo, entramos na simulação da Caixa Econômica. Para uma pessoa com 32 anos, que ganhe R$ 6 mil de renda bruta, é possível financiar um imóvel em até R$ 182 mil, com um prazo de 360 meses (parcelas de R$ 1,8 mil). Já uma pessoa com 65 anos com o mesmo salário e com o mesmo valor de parcelas conseguirá financiar um imóvel de apenas R$ 145 mil, com um prazo de 179 meses.

Por tudo isso, para Rose Rodrigues, a melhor opção é negociar pessoalmente com as construtoras. “Como já comprei mais de um imóvel com a mesma empresa, criei uma relação pessoal e isso facilita a negociação. Apesar disso, mesmo para quem não tem essa relação, vale a pena buscar opções nas construtoras porque o sistema financeiro dificulta muito o financiamento para quem tem mais de 65 anos. Deveria ser o contrário, não é?”, questiona a professora.

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