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Observatório Econômico Autodestruição Por Carlos Magno Lopes*

Publicado em: 13/11/2016 08:00 Atualizado em: 11/11/2016 21:11

Carlos Magno Lopes é Professor do Departamento de Economia da UFPE. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação
Carlos Magno Lopes é Professor do Departamento de Economia da UFPE. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação

O mundo testemunhou, recentemente, duas manifestações de eleitores que podem trazer profundas consequências para a estabilidade econômica mundial: a aprovação da saída do Reino Unido (Brexit) da União Europeia e a eleição de Trump. Apesar de distintos, em ambos os casos, os resultados dessas consultas populares foram recebidos por sentimentos que vão da perplexidade à resignação, não apenas por parte das sociedades dos países envolvidos, como pelo resto do mundo civilizado. Em regimes democráticos, a decisão da maioria é irrecorrível, ainda que baseada em argumentos fraudulentos ou simplesmente na mentira. O problema é que as escolhas dos eleitores de um determinado país podem afetar negativamente o bem-estar de outras sociedades, especialmente quando envolvem relações comerciais.

Trump anunciou que irá revisar os acordos comerciais dos Estados Unidos, os quais seriam prejudiciais ao seu país, pois resultaram em desemprego, sobretudo na indústria. Em casos nos quais a renegociação for impossível, propõe o rompimento unilateral do acordo. Estariam, portanto, sujeitos ao rompimento de acordos comerciais todos os países que possuem acordos de livre-comércio com os Estados Unidos. O México, talvez, seja o país que teria mais a perder, mas, só na América do Sul, Chile, Colômbia e Peru também possuem acordos comerciais com os Estados Unidos. A China, que lamentavelmente sustenta artificialmente, a depreciação do yuan, contudo, ainda que não tenha acordo comercial com os Estados Unidos, é seu principal alvo: ameaça impor tarifa de importação de 45% sobre  seus produtos. Com o México, é mais generoso, reduz esse aumento para apenas 35%. Essa é a solução encontrada para trazer de volta os empregos industriais perdidos pelos trabalhadores americanos. Trump se esquece que os países potencialmente afetados, que são muitos, podem retaliar com igual intensidade. Por outro lado, se resolver proteger todos os setores da indústria americana que perderam mercado nos últimos anos, promoverá a ineficiência em larga escala. Assim, produtos americanos só serão competitivos em seu próprio país, além do que a tributação excessiva sobre as importações poderá resultar em inflação em seu país.

É curioso que os benefícios do livre-comércio não tenham sido levados em consideração por Trump, tampouco que o desemprego industrial nos Estados Unidos tenha em mudanças tecnológicas sua principal causa, as quais alijaram grande parte dos trabalhadores de suas atividades tradicionais. A questão é saber se Trump fará o que disse durante a campanha. Perguntará o estupefato leitor: “Será que Trump cumprirá suas promessas de rejeição ao livre-comércio e apoio ao protecionismo?”. Se depender de Wall Street, a resposta é não. Se depender da grande maioria de seu partido e do establishment americano, a resposta também é não. Só seus eleitores acreditam que sim. As apostas já começaram.

* Carlos Magno Lopes é professor do Departamento de Economia da UFPE

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