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Mercado de trabalho Um bem para a alma...e para o currículo Empresas no Brasil começam agora a valorizar mais os profissionais que realizaram trabalho voluntário. Por isso se destaca quem já desempenhou esse tipo de atividade

Por: Gabriela Araújo

Publicado em: 25/09/2016 10:15 Atualizado em:

Estudante de direito, Carolina Nogueira percebeu os benefícios do trabalho voluntário e resolveu se engajar. Foto: Karina Morais/Esp.DP
Estudante de direito, Carolina Nogueira percebeu os benefícios do trabalho voluntário e resolveu se engajar. Foto: Karina Morais/Esp.DP

Você já participou de algum trabalho voluntário? Tem vontade? Pode ser um bom momento para pensar no assunto. Dedicar-se a algum tipo de atividade voluntária – pela qual você não recebe remuneração – pode ter muitos benefícios. Além do desenvolvimento pessoal e sentimento de solidariedade, o voluntariado é bem-visto pelas empresas na hora da avaliação do currículo do candidato.

A estudante de direito Carolina Nogueira, 20, percebeu os benefícios do trabalho voluntário e resolveu se engajar. Um amigo dela participava da Aiesec, organização mundial que desenvolve liderança através de intercâmbios, networking global e interação cultural, e a convidou para trabalhar lá. Na época, Carolina estava no segundo período da faculdade, numa fase com poucas perspectivas. Suas opções eram estagiar em um escritório ou fazer um curso de línguas, mas o voluntariado falou mais alto.

Logo quando começou a trabalhar na Aiesec, a estudante percebeu que o que fazia tinha resultados diretos na sociedade, o que deu gás para ela continuar. Carolina trabalha no setor de marketing, gerenciando as mídias sociais. “Cresço muito lá. Consigo ver como realmente se organiza um trabalho, ganhei mais responsabilidade, noção de gestão de tempo e liderança”, comenta. O resultado na vida pessoal foi organização e foco. Ela também acha que hoje é uma pessoa melhor. A experiência aponta para o futuro trabalho na área de negócios sociais, com a satisfação profissional acima da monetária.

Mas o exemplo de Carolina está longe de ser a regra no Brasil. Por aqui, o interesse pelo voluntariado ainda não é tão forte. Apenas 28% dos brasileiros já realizaram algum tipo de atividade voluntária, de acordo com uma pesquisa realizada pela Fundação Itaú Social em parceira com o Instituto Datafolha. Gilson Teixeira, doutor em planejamento estratégico de empresas e computação, diz que o voluntariado começou a ser valorizado recentemente por aqui, diferentemente de outros países.

A valorização dos profissionais que passaram pelo voluntariado tem a ver com a percepção de seu comportamento. “Elas têm um perfil individual de se doarem mais. E o que as empresas querem de fato é isso”, comenta Teixeira. As multinacionais em geral são as que mais valorizam a participação em projetos sociais, por pensarem em soluções a longo prazo, ao contrário das pequenas e médias empresas.

Como professor universitário, Gilson Teixeira tenta desenvolver nos alunos a consciência de valorização dos projetos sociais. Há dez anos ele ministra a disciplina de gestão de projetos, já tendo passado por diversas instituições. Em todas, desenvolve junto aos alunos alguma ação de voluntariado. “Ensinamos a fazer um projeto e ter sucesso, passando por todas as etapas necessárias. Seja uma ONG ou um projeto privado, sempre abordamos essa preocupação da questão social e voluntária”, diz.

A enfermeira Ana Paula Araújo, 33, começou a desenvolver trabalho voluntário em 2011, quando ficou sabendo do Projeto Videira, realizado pela ONG e Creche Casa da Esperança, localizada no bairro de Candeias. A ideia era acolher mulheres grávidas, dando apoio emocional a elas. Ana Paula se interessou e começou a participar do projeto como voluntária. Cerca de dois meses depois que estava na ONG, foi chamada para assumir a coordenação, e acabou contratada. Eles precisavam de alguém que falasse inglês e ela chamou atenção também pelo brilho nos olhos.

Após um ano, Ana Paula foi convidada para trabalhar em um hospital do Recife como enfermeira, mas já estava no cargo de diretora da Casa da Esperança. Ia ficar difícil conciliar as duas coisas. Então ela resolveu abrir mão do emprego do hospital. Com seis meses de diretoria, recebeu o desafio de se tornar presidente da ONG. Para se sustentar, ela conta com uma ajuda de custo que vem da igreja e trabalha realizando partos domiciliares. Poderia estar ganhando mais dinheiro na iniciativa privada? Certamente. Mas o foco de Ana Paula é outro. E a satisfação é grande.

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