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Observatório econômico Sinais de vida

Publicado em: 11/09/2016 08:00 Atualizado em: 08/09/2016 21:44

(*) Por Carlos Magno Lopes

Carlos Magno Lopes é professor do Departamento de Economia da UFPE . Foto: Tiago Lubambo/DIvulgação
Carlos Magno Lopes é professor do Departamento de Economia da UFPE . Foto: Tiago Lubambo/DIvulgação
A recuperação da confiança, garantida a solvência, é o ponto de partida para sair da crise. Alguns sinais vitais devem ser observados: o preço dos ativos, a demanda por crédito, a valorização de títulos públicos, o aumento do consumo e dos investimentos, além da redução do desemprego. A cereja do bolo é a recuperação do grau de investimento. O resto é paisagem.


Diferentes profissões trazem consigo seus custos e benefícios. Assim, por exemplo, em encontros entre amigos ou conhecidos nos quais participa um único médico, em algum momento, que às vezes se torna longo e enfadonho, algum participante irá consultar o doutor sobre alguma doença ou pedirá uma indicação sobre remédio. Nada contra, porém há de se entender que muitos preferem tratar de assuntos amenos, ou pelo menos não relacionados ao dia-a-dia, em seus momentos de lazer, por isso mesmo sempre fui solidário às reclamações dos meus amigos médicos que, entre um gole e outro de cerveja, a contragosto, terminam falando sobre doenças e tratamentos para não criarem rusgas sociais. Eis que, de uns tempos para cá, a situação mudou: os comentários de economistas passaram a ser tão disputados quanto os de médicos. A culpada, mais uma vez, é a crise.

O fato é que todos querem saber quando a economia voltará a dar sinais de vida, isto é, quando a crise será superada e o país voltará a crescer.  A resposta a essa pergunta é condicionada e tem como pontos de partida a aprovação pelo Congresso Nacional da Lei que estabelece limite de gastos orçamentários, de forma a mitigar os riscos de que o déficit público se torne um problema estrutural, e do retorno da política monetária e cambial aos seus princípios organizadores, ou seja, ter a meta de inflação como guia e câmbio flutuante sem interferência rotineira do Banco Central. A reforma da previdência e a “flexibilização” das leis trabalhistas completam o pacote básico de reformas. Garantida a solvência do setor público, o movimento em direção ao centro da meta de inflação e a estabilidade cambial, a confiança dos agentes econômicos será restabelecida. A jornada é complexa e sujeita a turbulências, sobretudo devido ao comportamento errático do Congresso, especialmente em ano eleitoral, pois o custo do ajuste, ainda que minimizado, poderá ser alto. Por outro lado, não há plano B e a margem de manobra, depois de tantos estragos, é relativamente estreita.

O restabelecimento da confiança de investidores e consumidores, atestado de superação da crise, portanto, dependerá decisivamente do retorno dos fundamentos macroeconômicos. Perguntará o curioso leitor: ”quais são os sinais vitais de superação da crise?”.  Melhor do que observar o vai-e-vem de indicadores conjunturais, é importante observar a evolução do preço dos ativos, atualmente muito baixos; se os títulos públicos estão se valorizando; se a demanda por crédito está aumentando; se o consumo das famílias e os investimentos crescem; e se desemprego começa a cair. Esses indicadores serão acompanhados da redução da inflação e, como consequência, dos juros e em melhores expectativas do mercado em relação a juros, inflação e crescimento. A cereja do bolo, com toda a certeza, será a redução do risco-país e a recuperação do grau de investimento, na avaliação das agências classificadoras de risco. Pronto! Na próxima vez que me perguntarem quando o Brasil sairá da crise, pedirei para ler esta nota e continuarei a falar sobre amenidades.

(*) Professor do Departamento de Economia da UFPE.

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