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Observatório econômico O investimento em capital paraolímpico

Publicado em: 19/09/2016 08:00 Atualizado em: 19/09/2016 17:41

Por Paulo Aguiar do Monte (*)

Paulo Aguiar do Monte é professor de Economia da UFPB. Foto: Arquivo Pessoal
Paulo Aguiar do Monte é professor de Economia da UFPB. Foto: Arquivo Pessoal
No último dia 7 de setembro teve início no Rio de Janeiro os jogos Paralímpicos 2016, o maior evento esportivo mundial envolvendo pessoas portadoras de necessidades especiais. Estão incluídos nestes jogos os atletas com limitações físicas e/ou mental de 176 países. A origem dos jogos Paralímpicos remonta à década de 40, quando foram organizadas práticas e competições voltadas à participação de veteranos da II Guerra Mundial com lesões medulares, servindo como parte do seu processo de reabilitação.

 

Economicamente falando, os jogos Paralímpicos pode ser considerado um investimento em capital social. O sociólogo James Coleman define o capital social como sendo “os elementos de uma estrutura social que cumprem a função de servir como recursos para que atores individuais atinjam suas metas e satisfaçam seus interesses”. Nesse contexto, pode-se assumir que todo o investimento feito para as Paralimpíadas do Rio, aqui chamado de “capital paralímpico”, tenha como retorno esperado a disseminação do conceito de inclusão, permitindo a todos os indivíduos a chance de serem socialmente e economicamente produtivos.

 

De acordo com o Censo Demográfico de 2010, cerca de 45 milhões de pessoas (23,8% da população total) se autodefine como portador de algum tipo de deficiência. Para a Organização Mundial de Saúde, o número de brasileiros com deficiência chega a 20 milhões; o que por si só já é superior ao número de habitantes em países como Holanda e Hungria (ambos situados a frente do Brasil no quadro geral de medalhas das Olimpíadas do Rio 2016).

 

Apesar do principal retorno esperado do investimento em capital paralímpico ser o da inclusão, superior inclusive ao número de medalhas, cabe destacar que o investimento do Brasil, nesse evento, é um dos maiores em termos comparativos com outros países. E, que, diferentemente da posição alcançada nas Olimpíadas, nos jogos Paralimpícos o Brasil se situa entre os 10 primeiros no quadro geral de medalhas. Na última edição dos jogos, em Londres 2012, o país ficou em 7º lugar, com 43 medalhas no total (21 de ouro, 14 de prata e 8 de bronze).

 

Dentre as argumentos do sucesso nas Paralimpíadas estão desde o investimento feito pela Confederação Brasileira até a oferta de pessoas portadoras de algum tipo de deficiência, o que amplia as chances de descoberta de novos talentos para o esporte. Some-se, ainda, a falta de oportunidades que muitas destas pessoas enfrentam para conseguir um emprego no mercado de trabalho.

 

O Brasil, infelizmente, ainda não foi capaz de absorver com tratamento igual as pessoas com algum tipo de deficiência apesar de, a cada ciclo paraolímpico, os atletas brasileiros demonstrarem que seus limites não os impedem de figurarem entre os melhores do mundo. Espera-se, então, que os jogos paraolímpicos sirvam, de uma vez por todas, para incluí-las no grupo de pessoas com direitos iguais as outras. Será, sem dúvida, a maior vitória alcançada pelo Brasil.
 
(*) Professor de Economia da UFPB (Universidade Federal da Paraíba).



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