Observatório econômico O economês que nos persegue

Publicado em: 29/09/2016 08:00 Atualizado em: 28/09/2016 21:21

(*) Por Fernando Dias

Fernando Dias é professor do Departamento de Economia da UFPE. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação
Fernando Dias é professor do Departamento de Economia da UFPE. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação
Com este economês que poucos entendem, os economistas passam a impressão que são apóstolos das más notícias, e que só veem problemas sem nunca apontar qualquer solução. É o que parece, mas não é bem assim.


Em tempos de eleição a impressão de um leigo é que caminhamos para um país maravilhoso, onde tudo funciona e o governo tudo nos dá sem custo, sem qualquer tipo de contrapartida de nossa parte. As promessas que escutamos vão do moderado ao absurdo, passando sem qualquer pudor pelo rompimento institucional e por ignorar a constituição. Felizmente para nós existe, no mundo pós-eleição, a figura do judiciário que por mais que seja questionado nos garante um mínimo de segurança. Mas, além dele, existe também o mercado, que nos nega promessas que gostaríamos muito que fossem verdadeiras enquanto esbarram na realidade dos fatos econômicos.

Estes economistas devem ter sérios problemas existenciais, pois tudo de bom que nos prometem eles vêm e dizem logo, não pode, não tem almoço grátis. O candidato vai e diz que vai acabar com o desemprego em um ano, e lá vem o economista explicar que uma tal capacidade ociosa está baixa e o nível de investimento dos últimos anos também foi baixo e com isso o prazo de maturação das novas plantas impede uma retomada rápida do nível de emprego.

Nem bem o economista acaba com minha primeira esperança e um segundo candidato me anima: a inflação acaba este ano, e no próximo ano vamos retornar o caminho que nos fará uma potência. Outro economista aparece e vaticina: isto não é possível porque ainda temos o reflexo de uma inflação de demanda permeada de expectativas, com isso o juro não pode ser reduzido e como reflexo o investimento não pode ser retomado em larga escala. Um terceiro candidato reage e diz que o Estado vai bancar o investimento necessário, ao mesmo tempo em que controla os preços, ao qual é logo repreendido por outro economista afirmando que estando em déficit o reflexo desta ação seria no curto prazo elevar a dívida pública e a inflação, retraindo o investimento, e no longo prazo haveria crowding out e imposto inflacionário.

Com este economês que poucos entendem, os economistas passam a impressão que são apóstolos das más notícias, e que só veem problemas sem nunca apontar qualquer solução. É o que parece, mas não é bem assim. Economistas não são gestores de política pública, eles apenas interpretam a realidade econômica com bases em seus modelos, como qualquer cientista. No primeiro caso, por exemplo, o que se está dizendo é que crescemos muito nos últimos anos com baixo investimento, usando ao máximo a capacidade instalada existente e, assim, para criar os empregos que precisamos hoje precisa investir e esta ampliação da capacidade instalada não fica pronta da noite para o dia.

Já o segundo economista disse apenas que a inflação ainda está alta, e com isto os investimentos retraem por duas razões. Primeiro porque com inflação alta é difícil projetar os ganhos futuros, na dúvida se investe menos. Segundo porque inflação alta se combate aqui com juro alto, e com isto se recebe mais para manter o dinheiro parado e, consequentemente, se investe menos. Como os agentes ainda estão elevando os preços na expectativa de que os outros também o façam, não tem como suspender política de juros altos no curto prazo e isso descarta uma recuperação rápida.

Por fim, o terceiro economista apresenta a visão clássica que não se pode financiar crescimento do nada. Como o Brasil está em déficit, para ele bancar a conta teria de elevar a dívida pública, elevando os juros e isso agiria em sentido contrário ao desejado. Poderia também emitir dinheiro, mas aí o valor do dinheiro cai e a emissão inicial se converte em imposto inflacionário reduzindo a renda real disponível. Além disso, ao expandir a economia no primeiro momento há um reflexo no aumento da demanda por dinheiro, que eleva o juro e também vai no sentido contrário ao desejado. Infelizmente, não tem almoço grátis. Se alguém está prometendo bonanças imediatas na economia, não desconfie, tenha certeza que não passa de promessa vã.

(*) Professor do Departamento de Economia da UFPE.

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