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Observatório econômico Vocações e potencialidades

Publicado em: 11/08/2016 08:00 Atualizado em: 10/08/2016 23:05

(*) Por Carlos Magno Lopes

Carlos Magno Lopes é professor do Departamento de Economia da UFPE. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação
Carlos Magno Lopes é professor do Departamento de Economia da UFPE. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação
Locações e potencialidades econômicas parecem existir às centenas nos estados brasileiros, por isso mesmo ganham imensos espaços midiáticos de governos e servem como insumo básico para lobbies dos mais diversos. Não é prudente atribuir potencial econômico a atividades de baixo ou nenhum dinamismo, notadamente quando os recursos são escassos. Investidores não são fáceis de enganar.


Vocação, como definida em dicionários, possui inúmeras acepções, tais como: predestinação, inclinação, propensão, tendência e terreno a que a árvore se adapta muito bem. Potencial, por outro lado, não fica nada a dever: é a capacidade ou habilidade para realizações ou desenvolvimentos futuros. “Vocações” e “potencialidades” econômicas parecem existir às centenas nos estados brasileiros, por isso mesmo ganham imensos espaços midiáticos e servem como insumo básico para lobbies dos mais diversos. Acontece, porém, que em muitos casos as potencialidades estão tão distantes que só um poderoso telescópio, daqueles que procuram por galáxias longínquas no universo podem enxergar.

No já distante ano de 2004, profetas e visionários concluíram que o sertão iria virar um mar, só que de biodiesel. Haviam descoberto um novo e revolucionário potencial para o Nordeste. A mamona foi identificada como o insumo básico, afinal, a mamona é uma planta rústica e cresce em qualquer lugar, como um mato qualquer, e sua produção beneficiaria a agricultura familiar. A pobreza no semiárido nordestino seria rapidamente erradicada. Era necessário, contudo, que o governo liderasse mais uma conquista histórica, para tanto foi criado o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB) e chamada a Petrobrás, a estatal de plantão de mil e uma utilidades. Só esqueceram de combinar com os russos, isto é, com os investidores, que optaram pela gordura animal e pela soja como insumos. Não mais se fala em mamona no Nordeste e os sertanejos nas áreas rurais continuam pobres.

Recentemente, o Plano Plurianual 2016-2019 do Piauí anunciou ao distinto público que o estado possui potencial para o turismo (Delta do Parnaíba) e para a agricultura familiar. Não revelou, contudo, que o aeroporto Prefeito Dr. João Silva Filha, em Parnaíba, passou 14 anos sem receber voo regular e, é atendido, atualmente, por uma única empresa, que só presta serviço na alta estação e cujos voos não são diários. Além disso, o fluxo e equipamentos turísticos são insignificantes. Também não se conhece estatísticas ou competências que fazem da agricultura familiar piauiense detentora de competências especiais. A ovinocaprinocultura, há décadas, é reconhecida como atividade de grande potencial por todos os estados nordestinos, curiosamente, contudo, estima-se o abate clandestino em cerca de 90%, o chamado “frigomato”. A carne é de má qualidade e não atende às exigências sanitárias. Sobram órgãos públicos de fomento à atividade, porém nenhum grande frigorífico dedica-se ao abate de ovinos e caprinos na região, por absoluto desinteresse. Os frigoríficos uruguaios festejam.

Não é prudente atribuir potencial econômico a atividades de baixo ou nenhum dinamismo, notadamente quando os recursos são escassos. Investidores não são fáceis de enganar. Perguntará o incrédulo leitor: então porque o fazem? Devido ao ufanismo de governos e interesses de lobistas. É por essa razão que existem milhares de vocações e potenciais econômicos em todos os lugares.

(*) Professor do Departamento de Economia da UFPE.

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