OBSERVATÓRIO ECONÔMICO O fim de um ciclo

Publicado em: 22/08/2016 08:00 Atualizado em:

Fernando Dias é professor do Departamento de Economia da UFPE. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação
 (Fernando Dias é professor do Departamento de Economia da UFPE. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação
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Fernando Dias é professor do Departamento de Economia da UFPE. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação
Por Fernando Dias (*)
 
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Os países que se propõem a sediar eventos como Copa e Olimpíadas têm sempre em mente que o custo é elevado e que o retorno depende do plano de investimento se bem executado para não acabarem com uma manada bilionária de elefantes brancos na mão.
 
A olimpíada acabou e, como ela, acabou um ciclo de grandes investimentos em eventos esportivos que começou com os jogos Pan-americano de 2007, a Copa das Confederações de 2013, a Copa do Mundo de 2014 e por fim os jogos olímpicos de 2016. Finalizando com uma sequência de Copa e Olimpíadas, o Brasil sediou os maiores eventos esportivos e, de fato, os maiores eventos de massa atuais no mundo. Com um custo combinado que supera os R$ 70 bilhões, o que ficou?
 
A organização de megaeventos é sempre muito disputada. Diversos motivos podem ser elencados, como status, incentivo ao turismo, autopromoção nacional e etc. Os países que se propõem a sediar estes eventos têm sempre em mente que o custo é elevado e que o retorno depende do plano de investimento se bem executado para não acabarem com uma manada bilionária de elefantes brancos na mão.
 
Quais são os retornos? Há dois que são os principais, o gasto induzido pelo evento em si e a “herança” do evento na forma de aparelhos públicos. Os estudos realizados sobre o saldo final resultando não são unânimes, o que sugere que houve eventos vantajosos e eventos desvantajosos para seus promotores. De novo o planejamento e a execução do plano de investimento se mostram fundamentais. No caso do Brasil, especificamente, os estudos prévios sempre mostraram que tanto a Copa quanto a Olímpiada dariam retorno, porém todos utilizaram como premissa que os aparelhos resultantes seriam entregues.
 
Na Copa ficou evidente que não foi o caso, muito pelo contrário. Boa parte das obras da Copa não foram entregues até hoje, e algumas nem saíram do papel. O legado da Copa terminou por ser basicamente as arenas da Copa, algumas se mostrando viáveis e outras elefantes brancos. Melhorias houveram, mas nada comparado ao planejado. Novos estudos são escassos, mas os mais otimistas julgam que o efeito induzido (gastos dos turistas e consequente impacto na economia) chegou a empatar o investimento, ficando no zero a zero.
 
Na Olimpíada, aparentemente, será um pouco melhor. Embora alguns aparelhos não tenham sido entregues como particularmente as obras da Bahia da Guanabara, o percentual de entrega certamente foi maior que o da Copa e ainda centralizado no Rio de Janeiro. Do ponto de vista de imagem externa foi muito superior ao esperado, e os temíveis incidentes com Zika Vírus e violência não aconteceram. Exceções a alguns assaltos e um óbito por acidente de trânsito, pareceram mais jogos na Suíça que no Rio de Janeiro.
 
E a mobilidade, o nó mater na Copa e que era esperado ser ainda mais danoso na Olímpiada? Resolveram. Após seguidas baterias de testes em dava tudo errado os organizadores foram corrigindo os problemas, sem deixar de tirar da manga a mágica solução prevista por Senador Romário para a Copa que é a de decretar feriados nos dias críticos.
 
Seguindo uma tradição que veio desde a Rio-92 a cidade do Rio de Janeiro mantém uma tradição de conciliar megaeventos com uma cidade que é notória internacionalmente tanto pelas belezas naturais quanto pela violência digna das guerras do Oriente Médio. Nenhum destes eventos mudou esta realidade, mas todos trouxeram à sua maneira alguma herança positiva. Valeu a pena? Esta é uma pergunta difícil de responder sem ter a disposição os dados sobre os negócios a serem gerados por este último evento a fechar o ciclo. Considerando os anteriores pelo menos poderemos dizer que no final não perdemos dinheiro, mesmo que sem ganhar grande coisa. Mas com certeza ganharemos as histórias, do fatídico 7x1 da Copa passando pelos inesperados ouros da Olímpiada até o conto do assalto, que favoreceu a imagem da polícia brasileira através do mundo pela ação de americanos farristas e suas estórias mirabolantes para enganar as namoradas.
 
(*) Professor de Economia da UFPE. 




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