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Observatório econômico O desastre mora ao lado

Publicado em: 15/08/2016 08:00 Atualizado em: 12/08/2016 18:09

(*) Por Marcelo Eduardo Alves da Silva

Marcelo Eduardo Alves da Silva é professor de Economia da UFPE. Foto: Paulo Paiva/DP
Marcelo Eduardo Alves da Silva é professor de Economia da UFPE. Foto: Paulo Paiva/DP
A crise venezuelana tem tomado ares de desastre econômico e de calamidade humanitária. É um exemplo típico de que erros de política econômica podem levar um país ao suicídio econômico.


Todos temos acompanhado com perplexidade o que vem ocorrendo na Venezuela ultimamente. Falta simplesmente tudo, desde papel higiênico até produtos alimentícios. Só não falta gasolina, burrice governamental e sofrimento para as famílias. É um absurdo, quase surreal, a crise venezuelana. O fato é que por mais que achemos um absurdo, a crise é real. Ela tem origem, como quase sempre, em erros de política econômica implementados por um governo que escolheu o populismo para se manter no poder e tentou reinventar a economia, algo que populistas de plantão no Brasil tentaram fazer sem sucesso no país recentemente.

Desde Chávez, o governo venezuelano decidiu intervir nos mais diferentes setores da economia, iniciou uma verdadeira cruzada contra empresas privadas, fossem estrangeiras ou nacionais, interferiu no sistema de preços, no câmbio, fez políticas equivocadas de desapropriação de terras, e por ai vai. Todas essas ações reduziram a produtividade, afugentaram os empresários e estão destruindo o que ainda resta da estrutura econômica da Venezuela, deixando o país à beira de uma crise humanitária. O resultado todos temos acompanhado perplexos. O lado surreal é que ainda há quem defenda o regime venezuelano, atribuindo a crise a uma conspiração internacional patrocinada pelo americanos ou seja lá quem for o culpado da vez.

Toda essa história me faz lembrar de Milton Friedman. Ele foi um dos economistas, ao lado de Hayek e tantos outros, que defenderam que o sistema de preços em uma sociedade livre, representava as escolhas e interesses de indivíduos livres e, portanto, era avesso a intervenções governamentais. Tais ações interfeririam nas liberdades individuais e, assim, reduziriam o bem estar social. Ele ainda costumava dizer que existiam sérios limites para o tamanho do bem que os governos poderiam fazer, mas que quase não existiriam limites para o tamanho do mal que eles poderiam infligir. É exatamente isto que estamos observando. Erros e mais erros de política econômica, intervenções no sistema de preços, fizeram a Venezuela chegar ao ponto que chegou. Friedman argumentava que havia uma inerente ineficiência nas ações do governo e, em uma de suas tiradas mais sarcásticas, disse que se “o governo fosse colocado como responsável para administrar o deserto do Saara, em cinco anos faltaria areia!”

Compartilho a desconfiança sobre a eficiência das ações governamentais, mas também não tenho dúvidas de que os governos possuem um papel a desempenhar e que os mercados não são uma resposta para tudo. Também creio que os governos devem sempre buscar o interesse social, mas  não acredito que boas intenções sejam uma garantia de que as intervenções farão mais bem do que mal. No caso venezuelano creio que a situação seja ainda pior, tenho dúvidas das “boas” intenções e tenho convicção dos equívocos de política econômica que levaram o país ao suicídio econômico.

(*) Professor de Economia da UFPE.

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