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Observatório econômico Limpando a sujeira

Publicado em: 28/08/2016 08:00 Atualizado em: 24/08/2016 20:21

Por Marcelo Eduardo Alves da Silva (*)

Marcelo Eduardo Alves da Silva é professor de Economia da UFPE. Foto: Paulo Paiva/DP
Marcelo Eduardo Alves da Silva é professor de Economia da UFPE. Foto: Paulo Paiva/DP
O planeta terra tem dado sinais de que não poderá por muito mais tempo continuar servindo de “depósito de lixo” da humanidade. Uma lição do jardim da infância me parece cada vez mais útil: precisamos limpar a nossa bagunça.


Nos anos 70, alguns economistas questionaram se existiriam limites ao crescimento econômico impostos pela escassez de recursos. A tecnologia ofereceu uma resposta contrária de que isto poderia ocorrer, ao menos inicialmente. Como um amigo costumava brincar “o pen-drive salvou mais árvores do que qualquer ambientalista poderia imaginar”. De fato, a tecnologia permitiu o crescimento com menos uso de recursos em termos per capita, mas conseguirá a tecnologia nos livrar de outro limite: a capacidade do planeta de servir como  “depósito de lixo”?

Quando se trata de resíduos sólidos, os números são astronômicos. Coletivamente os centros urbanos geram mais de 1,3 bilhão de toneladas de lixo por ano, o que dá cerca de 1,2kg por pessoa por dia, de acordo com o Banco Mundial. Além da geração de lixo, outro problema é o quanto é tratado antes de ser lançado de “volta” ao ambiente. E aqui me recordo de uma velha lição do jardim da infância: precisamos limpar a nossa bagunça.  A tecnologia pode ajudar, mas ações governamentais, aliadas com educação, me parecem mais do que desejadas, são urgentes.

Para quem teve a oportunidade de conhecer algumas de nossas praias, rios, e matas na infância, visitar estes lugares hoje só causa tristeza. O adensamento urbano desorganizado, a falta de planejamento e de interesse governamental, a “cultura” de descompromisso com o meio ambiente nos legaram, em pouco tempo, um meio ambiente pior. Nossos rios recebem diariamente uma enorme quantidade de esgoto não tratado e de lixo que seguem o curso para nossas praias. Muitos imaginam que basta “empurrar” o problema para frente que tudo se resolve. Ledo engano, não há nada mais certo que o princípio da reciprocidade na natureza, colhemos o que plantamos. Anos e anos de esgoto e sujeira em rios como o Beberibe e o Capibaribe destruíram e continuam a destruir a nossa beleza natural.

De acordo com a PNAD, em 2014, apenas 41% dos domicílios no Nordeste possuíam ligação com rede coletora de esgotos. E isto não quer dizer que este esgoto é tratado, mas apenas “coletado”. Precisamos parar de aceitar e contribuir com a ideia de que o planeta tem uma infinita capacidade de servir de “depósito de lixo”. Universalizar a coleta e o tratamento do esgoto e do lixo é um objetivo ambicioso, mas deve começar enquanto temos tempo. Além disto, obrigar prédios de apartamentos, residências, escolas, e empresas a disponibilizarem recipientes de lixo recicláveis pode ser um início. Estabelecer metas claras de alcance da coleta e tratamento de lixo e esgoto para os municípios e penas duras para gestores que não cumprirem as metas em determinado prazo seria outro. Os governantes devem ser responsabilizados, mas todos devem colaborar. Como diz o ditado “costume de casa vai à praça”. Tenho esperança de que a lição de “limpar a nossa bagunça”, que ensinamos aos nossos filhos, possa ser aplicada ao meio ambiente.

(*) Professor de Economia da UFPE.

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