Observatório econômico Fechadura econômica

Publicado em: 31/07/2016 08:00 Atualizado em: 29/07/2016 21:04

(*) Por André Magalhães

André Magalhães é professor do Departamento de Economia da UFPE. Foto: Paulo Paiva/DP
André Magalhães é professor do Departamento de Economia da UFPE. Foto: Paulo Paiva/DP
Como os velhos hábitos não morrem facilmente, o governo federal se prepara para reduzir a importação de produtos via sites internacionais. A ideia é fechar a “brecha” que permite importar produtos com valores abaixo de US$ 50,00 sem pagar impostos. É mais um movimento para aumentar arrecadação e ajudar a indústria nacional. Mas é um movimento para piorar o bem-estar do consumidor nacional.


Vivemos na era da integração global. Temos acesso a informações a coisas que acontecem do outro lado do mundo. Os jovens tem amigos em todos os continentes. Conversam com eles, trocam ideias. Conhecem as tendências mundiais. Quando um produto novo é lançado em outro país, as pessoas podem comparar o que está “lá fora” com o que temos aqui no País. E, naturalmente, parte dessas pessoas pode querer comprar alguns desses produtos.

Com tanta informação circulando seria de se esperar que os países estivessem indo na direção de facilitar as trocas internacionais, permitindo que os seus cidadãos tivessem acesso a uma maior variedade de produtos, a mais qualidade e a preços menores. Mas esse não é o caso. Pelo menos não aqui. O Brasil sempre foi um país relativamente fechado ao comércio internacional. Particularmente as importações. Nós até gostamos de exportar nossos produtos. Sim, queremos que os outros comprem o que vendemos. Mas, quando o assunto é comprar o que os outros produzem a conversa é bem diferente.

No nosso passado recente a situação já foi bem mais complicada, é verdade. Durante as décadas do governo militar o país viveu sob um regime da política de substituição de importações. Basicamente, tudo que pudesse ser produzido aqui não podia ser importado. Proibição pura e simples. O objetivo? Gerar o desenvolvimento da indústria nacional e criar empregos aqui. Algo nobre, não? Não! O resultado? Anos de atraso do desenvolvimento da indústria que, protegida, não fazia investimentos em ganhos de produtividade e tecnologia. Anos consumido produtos de baixa qualidade e caros. Anos prejudicando o consumidor.

A abertura econômica da década de 1990 mostrou a todos o quanto se perdeu com isso. De lá para cá as coisas mudaram de forma significativa para o consumidor. A indústria nacional também evoluiu. Foi, de certa forma, forçada a isso. Quem viveu as duas fases entende muito bem a comparação. As gerações mais novas, pós década de 1990, já cresceram em um cenário melhor. Eles não tem ideia dos carros, computadores e outros produtos que fomos obrigados a usar naquela época.

Os tempos mudaram certo? Sim, mas nem tanto. Como os velhos hábitos não morrem facilmente, o Governo Federal se prepara para reduzir, a já restrita, importação de produtos via sites internacionais. A ideia é fechar a “brecha” que permite importar produtos com valores abaixo de US$ 50,00 sem pagar impostos. Parece pouco, mas talvez não seja. É mais um movimento para restringir compras, aumentar arrecadação e, por que não, ajudar a indústria nacional. Tudo isso é bonito, mas poucos lembram que esse é um movimento para piorar o bem-estar do consumidor nacional. É um movimento ruim. A teoria econômica nos ensina que os ganhos da indústria e do governo são menores do que as perdas dos consumidores nesses casos. Mas, quem vai se preocupar com os consumidores? Afinal, abertura econômica é bom para os outros! Será?

Como os velhos hábitos não morrem facilmente, o Governo Federal se prepara para reduzir a importação de produtos via sites internacionais. A ideia é fechar a “brecha” que permite importar produtos com valores abaixo de US$ 50,00 sem pagar impostos. É mais um movimento para aumentar arrecadação e ajudar a indústria nacional. Mas é um movimento para piorar o bem-estar do consumidor nacional.

(*) Professor do Departamento de Economia da UFPE.

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