OBSERVATÓRIO ECONÔMICO Por que os juros são tão altos no Brasil?

Publicado em: 13/06/2016 08:00 Atualizado em: 10/06/2016 21:00

Por Marcelo Eduardo Alves da Silva (*)

Marcelo Eduardo Alves da Silva é professor do Departamento de Economia da UFPE. Foto: Paulo Paiva/DP
Marcelo Eduardo Alves da Silva é professor do Departamento de Economia da UFPE. Foto: Paulo Paiva/DP
Gastando quase 8% do PIB com juros e com uma dívida pública batendo os 70% do PIB, o Brasil se encontra numa encruzilhada: ou resolvemos o problema fiscal ou em breve nos veremos numa situação de insolvência. Reduzir a dívida e o peso dos juros me parece crucial, mas para isto precisamos equacionar os fatores que nos levam a ter uma dívida pública elevada e a pagar juros tão altos.


A dívida bruta do setor público alcançou R$ 4.039,3 bilhões em abril (67,5% do PIB). No acumulado do ano, já pagamos cerca de R$ 109 bilhões em juros e, em doze meses, a conta passou de R$ 464 bilhões (7,76% do PIB). Numa comparação internacional, o Brasil tipicamente fica entre aqueles com maiores taxas de juros. É pouco razoável imaginar que poderemos investir mais (e melhor) em áreas estratégicas como saúde, educação, pesquisa, programas sociais, dentre outros, gastando quase 8% do PIB com pagamentos de juros. Entender o porquê dos juros serem tão altos no Brasil me parece um problema de primeira ordem.

As taxas reais de juros brasileiras já foram mais altas, superando os 25% de juros anuais em 1998/1999, no auge da crise no mercado cambial. Após isto, as taxas começaram a apresentar um declínio, mas ainda estamos numa posição pouco confortável numa comparação internacional. Algumas explicações têm sido sugeridas. Pelo lado fiscal, com um governo que gasta muito e, em alguns momentos, gastando mais do que arrecada, a dívida tende a crescer e quanto maior a dívida maior o prêmio (taxa de juros) que os poupadores exigem para financiar o governo. Além disto, a nossa taxa de poupança doméstica é baixa (em torno de 16% do PIB) e, portanto, quanto maior a demanda por poupança, maiores tendem a ser os juros.

Incerteza jurídica, o receio de que os contratos não serão cumpridos ou risco de expropriação, ausência de independência completa do Banco Central, histórico de inflação alta e de episódios de calote (ou de reestruturação da dívida, um nome mais elegante para calote parcial) também contribuem para uma maior taxa de juros. Há ainda quem acredite que o fato do mercado de crédito ser segmentado, com grande participação do BNDES, implicar que o Banco Central precise manter as taxas de juros mais elevadas do que o normal para poder combater a inflação.

Todas estas razões têm sido objeto de discussão e deveriam interessar a todos. Como disse, não temos como investir mais em áreas estratégicas pagando o que pagamos de juros. Dar um calote seria uma saída, mas isto significaria dar um calote nos poupadores domésticos e apesar de sugestiva geraria uma crise ainda maior. Reduzir o déficit governamental é essencial, além é claro de buscar alongar o prazo da dívida e tentar captar recursos mais baratos. Porém, para reduzir o déficit, precisamos atacar os fatores que fazem com que o governo gaste mais do que arrecada. Limitar o crescimento dos gastos públicos, retomar a política de geração de superávits primários e encaminhar as reformas da previdência e  tributária são condições essenciais para que isto aconteça.

(*) Marcelo Eduardo Alves da Silva é professor do Departamento de Economia da UFPE

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