Internacional Brexit provoca pânico e eleva incerteza dos mercados internacionais Saída do Reino Unido da União Europeia deve enfraquecer a economia britânica e a dos países da região, preveem analistas. Ministro da Fazenda garante que Brasil está sólido. Banco Central promete manter funcionamento dos mercados

Por: Correio Braziliense

Publicado em: 25/06/2016 10:45 Atualizado em: 25/06/2016 10:51

Transeuntes observam indicadores financeiros em Tóquio: onda de baixas causou perda de US$ 1,1 trilhão apenas nas bolsas da Europa. Foto: Kazuhiro Nogi/AFP
Transeuntes observam indicadores financeiros em Tóquio: onda de baixas causou perda de US$ 1,1 trilhão apenas nas bolsas da Europa. Foto: Kazuhiro Nogi/AFP

O referendo que aprovou a saída do Reino Unido da União Europeia (UE), por 51,9% dos votos, abalou os mercados internacionais. O clima de pânico começou pela manhã, assim que saiu o resultado da votação, e foi se alastrando ao longo do dia por todo o globo. Da Ásia até as Américas, as bolsas de valores mergulharam fundo no vermelho. Na Europa, houve queda de até 12,5%. O espanto foi ainda maior porque as pesquisas de opinião mais recentes apontavam que os britânicos votariam pela permanência na UE, o que havia aumentado o otimismo dos analistas em relação aos investimentos de risco.

Estimativas das agências internacionais indicaram que as principais bolsas europeias acumularam, somente ontem, perdas de US$ 1,1 trilhão com a derrocada  no valor das ações. A Bolsa da Londres teve uma das menores baixas: 3,15%. A queda foi de 6,99%, bem maior em Lisboa: de 6,82% em Frankfurt; de 8,04% em Paris; de 12,36% em Madri; e de 12,48% em Milão. Na China, Xangai caiu 1,3%. No Japão,  Tóquio escorregou 7,92%. Em Nova York, os índices Nasdaq e Dow Jones declinaram 4,12% e 3,38%, respectivamente. O Brasil não ficou imune, mas a retração de 2,8% na Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) não reverteu totalmente os ganhos na semana, que fechou no azul em 1,15%. No ano, a alta acumulada é foi 15,59%.

A libra chegou a cair 10% em relação ao dólar, atingindo o menor patamar desde 1985, mas encerrou o dia com queda de 8,1%, cotada a US$ 1,364. Na avaliação do economista da Órama Alexandre Espirito Santo, o pânico dos mercados foi altamente compreensível. “Todos estavam trabalhando com uma probabilidade muito baixa de saída do Reino Unido. Não dá para avaliar os mercados nos próximos dias, mas, com certeza, o impacto será muito ruim para a economia britânica, que deverá perder em média 3% do PIB per capita nos próximos dois a três anos”, avisou. Para ele, os efeitos no Brasil, que está em recessão, são incertos, pois dependem da permanência do atual governo para serem positivos. “Se a presidente Dilma Rousseff voltar, será ainda mais difícil haver qualquer retomada econômica”, afirmou.

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, minimizou os impactos da Brexit e afirmou, em nota divulgada no início da tarde, que “a situação do Brasil é de solidez e segurança porque os fundamentos são robustos”. Além disso, assegurou que o país “está preparado para atravessar com segurança períodos de instabilidade externa”. Mais cedo, o Banco Central, também em nota, informou que “está monitorando continuamente os desenvolvimentos nos mercados global e doméstico em razão da decisão manifestada pelos cidadãos britânicos no plebiscito de ontem (quinta-feira) e, caso necessário, adotará as medidas adequadas para manter o funcionamento normal dos mercados financeiro e cambial”.

Desmantelamento

A economista Monica de Bolle, pesquisadora do Peterson Institute for International Economics, em Washington, demonstrou preocupação com o clima dos mercados nos próximos dias. Para ela, a queda nas bolsas deverá se repetir na semana que vem até que seja definido como será o processo de saída do Reino Unido do bloco europeu. Ela lembrou que há risco de desmantelamento da Grã-Bretanha, pois Irlanda do Norte e Escócia, que votaram pela permanência na UE, podem aproveitar para buscar a independência. “Isso será péssimo para a Inglaterra, pois a economia deles se resume a petróleo e gás, que estão na Escócia, e serviços financeiros, em Londres. Certamente perderão muita força econômica”, destacou. “Não há dúvidas de que não haverá ganhador nessa história.”

O Banco Goldman Sachs previu um “enfraquecimento significativo no crescimento” da UE e do Reino Unido após o resultado desse referendo, com fortes riscos de desvalorização das respectivas moedas. “A volatilidade vai continuar, com o dólar mais forte e a libra e o euro mais fracos nos próximos dias”, afirmou a instituição em relatório divulgado ontem, destacando o franco suíço e o iene japonês, além do dólar, como moedas consideradas seguras nesse clima de incerteza.

O economista-chefe para mercados emergentes da Capital Economics, Neil Sheraring, avaliou que o Brexit causará insegurança no ambiente geopolítico e econômico dos países em desenvolvimento, podendo incentivar a ascensão de governos populistas, principalmente, na Europa Central e na Oriental. “O impacto econômico poderá ser menor do que muitas previsões anteriores”, destacou.

Para Caio Megale, economista do Itaú Unibanco, a curto prazo, a dúvida é grande, mas a intensidade do impacto ainda não dá para medir. “Neste ambiente, a política monetária global deve ser mais expansionista. A longo prazo, a perspectiva para a economia mundial parece mais frágil. As incertezas devem permanecer elevadas durante a reformulação da região”, resumiu.


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