OBSERVATÓRIO ECONÔMICO Mantras

Publicado em: 12/05/2016 08:00 Atualizado em:

Carlos Magno Lopes é Professor do Departamento de Economia da UFPE. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação
Carlos Magno Lopes é Professor do Departamento de Economia da UFPE. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação
Por Carlos Magno Lopes (*)

Não é aceitável que a relação exportações/PIB do Brasil seja de 11,2%, segundo o Banco Mundial (2014), a quinta menor do mundo, superando apenas o Sudão, Afeganistão, Burundi e Kiribati. É preciso, portanto, superar mantras retrógrados.

Cientistas estimam que o planeta Terra não mais será habitável em 1 bilhão de anos. A espécie humana deverá encontrar outro lugar para viver, levando consigo suas ideias e, certamente, seus mantras, isto é, repetições de frases e conceitos que produzem alucinações, mas não significam nada. São muitos os economistas que expressam seus pensamentos através de mantras. Esse comportamento inspira, por exemplo, defensores intransigentes da autonomia econômica e críticos do comércio internacional, o qual aprofundaria, para repetir um mantra, “a desigualdade entre o centro e a periferia” ou, ainda, “importar só serve para criar empregos lá fora”.
 
São muitas as evidências de que o comércio internacional produz ganhos expressivos no bem-estar de países que o praticam como parte de suas estratégias de desenvolvimento, como é o caso da Coréia do Sul, que até os anos 1960 apresentava indicadores econômicos e sociais bem inferiores aos do Brasil, mas que adotou modelo de crescimento induzido pelas exportações, enquanto o Brasil, como de resto a América Latina, optou pela autonomia, com ênfase no mercado interno. A mudança estrutural da economia sul coreana foi concluída com sucesso, enquanto a brasileira não consegue superar a baixa produtividade. Apegado ao fracassado Mercosul, acordos comerciais com blocos econômicos foram congelados durante mais de uma década. É preciso, contudo, reconhecer o gigantesco e profícuo esforço para a celebração de acordos bilaterais de comércio. Com efeito, depois de muito trabalho, o governo chegou a bom termo e negociou importantes acordos de comércio com Egito, Autoridade Palestina e Israel, os quais, somados, têm participação quase invisível no comércio internacional e no fluxo de comércio com o Brasil.
 
Evidentemente, competir no mercado externo não é fácil e tampouco está ao alcance de todas as empresas. No entanto, não é aceitável que a relação exportações/PIB do Brasil seja de 11,2%, segundo o Banco Mundial (2014), a quinta menor do mundo, superando apenas o Sudão, Afeganistão, Burundi e Kiribati. É preciso, portanto, superar mantras retrógrados. Afinal, em meio à atual crise, a promoção de exportações é uma importante alternativa para reaquecer inúmeros segmentos da economia brasileira, especialmente da indústria. O incremento de exportações reduzirá a capacidade ociosa da indústria, ao mesmo tempo em que garante o uso mais eficiente das máquinas e equipamentos e da mão de obra. Além disso, à medida em que as exportações crescem, a dependência das empresas em relação à demanda interna é reduzida, economias de escalas são mais facilmente alcançadas, investimentos em inovação e P&D tendem a aumentar, bem como a produtividade, inclusive do trabalho. Perguntará o aflito leitor: “as importações também não são importantes?”. Claro que são, sobretudo as de bens de capital, sem esquecer as de incenso, sem as quais os mantras não sobrevivem.
 
(*) Professor do Departamento de Economia da UFPE.


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