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Observatório econômico Discriminação

Publicado em: 05/05/2016 08:00 Atualizado em: 09/05/2016 23:33

Por Carlos Magno Lopes (*)

Carlos Magno Lopes é professor do Departamento de Economia da UFPE. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação
Carlos Magno Lopes é professor do Departamento de Economia da UFPE. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação
Estudo do McKinsey Global Institute, considerando 95 países, dentre os quais o Brasil, estima que se a participação das mulheres no mercado de trabalho fosse idêntica à dos homens (sem discriminação), o PIB global aumentaria em USD 28 trilhões, ou 26% do PIB mundial em 2025, o equivalente às economias do EUA e da China, atualmente.


As pessoas são diferentes, o que faz com que cada um de nós tenha características únicas. São muitas as possíveis diferenças entre indivíduos, tais como aparência pessoal, preferências, interesses, valores, habilidades e aptidões, dentre muitas outras. O fato é que a “personalidade” e o comportamento social das pessoas diferem. A amplidão de atributos individuais, próprios de cada um, quando combinada com a de outros indivíduos, pode trazer benefícios inestimáveis à sociedade, mas também é fonte potencial de conflitos, resultando em tratamento desigual entre as pessoas. Poucos discordam, acredito, que a discriminação de gênero, raça e religião, por exemplo, se constitui em um problema moral e social a ser enfrentado pelas sociedades civilizadas.

A discriminação como problema econômico, contudo, nem sempre é percebida. No mercado de trabalho, na versão neoclássica, a discriminação, como a de gênero, raça e religião, é simplesmente uma questão de diferenças de preferências. Fica implícito, portanto, que as preferências do empregador discriminador não são necessariamente associadas à eficiência produtiva, isto é, pode ter custos maiores que os do empregador que não discriminador, que paga o mesmo salário para todos os qualificados para o mesmo emprego. Inúmeros estudos empíricos evidenciam que o diferencial salarial, como previsto pelos neoclássicos não desaparecem no longo prazo. Ao contrário, persistem ou são ampliados. Além da ineficiência produtiva, a discriminação no mercado de trabalho traz outros problemas: má publicidade para a empresa, custos legais e perda de mercado, devido à reação de consumidores a práticas discriminatórias.

As consequências econômicas da discriminação no mercado de trabalho não se limitam a aspectos microeconômicos. O impacto macroeconômico também é significativo. Com efeito, estudo do McKinsey Global Institute (2015), considerando 95 países, dentre os quais o Brasil, estima que se a participação das mulheres no mercado de trabalho fosse idêntica à dos homens (sem discriminação), o PIB global aumentaria em USD 28 trilhões, ou 26% do PIB mundial em 2025, o que equivale, aproximadamente, à soma das economias dos Estados Unidos e da China, atualmente. Perguntará o surpreso leitor: “Se acabar com a discriminação beneficia a todos, por que ela existe?”. São inúmeros os fatores que ajudam a responder essa pergunta, contudo, enquanto muitos governos não se empenharem em coibir práticas discriminatórias e muitas empresas não se convencerem que eliminar a discriminação aumenta os lucros, será difícil superar esse problema. Como no caso de questões ambientais, levará tempo para que governos, empresas e sociedade convirjam para o mesmo objetivo. Como a dimensão moral e social da discriminação não parece suficiente, talvez a magnitude do impacto econômico possa dinamizar o caminho das mudanças.

(*) Professor do Departamento de Economia da UFPE.

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