Observatório econômico Armas e economia

Publicado em: 23/05/2016 08:00 Atualizado em: 20/05/2016 22:48

Por André Magalhães (*)

André Magalhães é Professor do Departamento de Economia da UFPE. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação
André Magalhães é Professor do Departamento de Economia da UFPE. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação
De forma simplificada, quando um país é muito bom em produzir um produto, ao participar no mercado internacional os produtores ganham e os consumidores perdem. No caso contrário, quando o país é pouco eficiente na produção de um bem, os consumidores ganham e os produtores nacionais perdem. Em ambos os casos, os ganhos são maiores do que as perdas e o resultado final é positivo.


Não é de hoje que os economistas advogam a ideia de que o livre o comércio tende a ser benéfico para os países. Os manuais de economia utilizados nas boas escolas mostram que as restrições ao comércio internacional tendem a reduzir o bem-estar da sociedade. Em um dos livros de Introdução à Economia essa ideia é colocada como um dos 10 princípios econômicos.

A discussão é geralmente feita considerando dois grandes grupos: os consumidores e os produtores. De forma simplificada, quando um país é muito bom em produzir um produto, ao participar no mercado internacional os produtores ganham, por terem acesso a um mercado maior e com um preço mais alto, e os consumidores perdem, ao terem que pagar mais caro (pagar o preço internacional) pelo produto. No caso contrário, quando o país é pouco eficiente na produção de um bem, ao entrar no mercado mundial, os consumidores ganham, ao terem acesso a um produto melhor e mais barato, e os produtores nacionais perdem, ao verem o mercado reduzido pela concorrência externa. Os economistas conseguem mostrar que em ambos os casos os ganhos são maiores do que as perdas e o resultado final é positivo.

Esse tipo de discussão geralmente é confrontada por aqueles que defendem a ideia de que permitir importações equivale a exportar os empregos nacionais. A ideia de salvar os empregos domésticos tem um forte apelo, afinal, quem pode ser contra isso? Grupos de produtores se valeram dessa lógica para arrancar benefícios dos governos de Lula e, principalmente, Dilma. Barreiras e tarifas foram colocadas em vários setores para proteger a indústria nacional. Bom para os produtores, mas não para os consumidores.

Você está se perguntando, se chegou até aqui, e as armas com isso? Bem. O caso das armas proporciona um exemplo interessante e concreto de como essa lógica protecionista pode ser ruim. No Brasil, uma lei determina que a polícia só pode comprar armas fabricadas no país, a menos que existe um modelo produzido no exterior que não tenha um similar nacional. O que se coloca como uma lei para ajudar a indústria nacional tem se transformado em um sério problema para os policiais: só há um produtor nacional e as armas produzidas são de baixa qualidade, apresentam falhas graves e tem colocado a vida dos policias em risco. Não sou a favor do uso de armas. Isso é uma questão para a polícia, mas a falta de concorrência internacional gera claras consequências negativas para os consumidores (os policiais). Os bandidos não se restringem a armas nacionais. As suas armas são melhores. O custo do protecionismo é extremamente alto aqui.

Esse problema acontece em vários produtos, roupas, brinquedos, vinhos, entre outros. É claro, geralmente os consumidores não são afetados da mesma forma, mas há sempre perdas. Precisamos mudar isso abrindo a economia, exportando e importando mais, melhorando a nossa qualidade de vida! Com a economia tão fechada perdemos todos nós.

(*) Professor do Departamento de Economia da UFPE.

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