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Pesquisa Taxa de desempregados fecha em 11,1 milhões, a maior desde 2012 No período de um ano, o país perdeu 3,2 milhões de vagas, o equivalente a quase toda a população do Uruguai

Por: Célia Perrone

Publicado em: 30/04/2016 08:25 Atualizado em:

A população que está à procura de emprego no país atingiu a marca de 11,1 milhões (10,9%) de pessoas no trimestre encerrado em março. No confronto com igual período do ano passado, houve aumento de 3,2 milhões desocupados ou 39,8% a mais. É como se quase toda a população do Uruguai (3,4 milhões) fosse demitida no espaço de um ano. A taxa é a maior desde o início da série da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnad Contínua), em 2012. Só nos três primeiros meses do ano, o desemprego bateu à porta de mais 2 milhões de pessoas, alta de 22,2% em relação  período imediatamente anterior, de outubro a dezembro de 2015. As informações foram divulgadas ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

“Os dados mostram um retrocesso de três anos no mercado de trabalho. Os problemas no cenário econômico afetam diretamente o profissional com carteira assinada e o empurra para a informalidade”, explicou Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE. Ele cita a indústria para ilustrar o estrago. “Esse setor perdeu 645 mil vagas no trimestre. Em janeiro, fevereiro e março de 2015 detinha 14,4% das vagas formais. Hoje representa 12,9%”, relatou.

Segundo o técnico, foi recorde. “Quando temos uma queda tão abrupta, isso denota uma deterioração muito expressiva da perda de qualidade dos postos remanescentes e queda da formalidade. Esta foi compensada em parte pelo trabalhador por conta própria, que registrou taxa de 25,6%, alta de 6,5% em relação ao ano passado.”

É o caso da ex-operadora de caixa Crislane Oliveira dos Santos, de 24 anos, que tem dois bebês em casa para sustentar — um menino de 2 anos e uma menina de 1. Há seis meses desempregada e separada do pai das crianças, aceitou vender bolos em frente ao Ministério do Trabalho. “Já mandei milhares de currículos, mas não consegui me recolocar ainda”, conta. “Vendendo bolo ganho R$ 40 líquidos por dia. Antes o meu salário era de R$ 900 mais R$ 300 de vale-refeição. O dinheiro em casa diminuiu muito”, resigna-se.

Rendimento

A triste experiência de Crislane faz parte da estatística do IBGE. O rendimento médio foi de R$ 1.966, queda de 3,2% em relação ao mesmo trimestre de 2015, quando chegava a R$ 2.031. Já a massa de rendimento circulando no mercado teve um tombo de R$ 7,3 bilhões. “Em 2015 a massa era de R$ 180,8 bilhões. Este ano está em R$ 173,4 bilhões. Isso afeta o consumo que vai repercutir no comércio, na indústria e a tendência é aumentar mais o desemprego, alimentando esse círculo vicioso”, pontua Azeredo.

O número do IBGE veio pior que a projeção da Tendências Consultoria que era de 10,6%”, revelou Rafael Bacciotti, analista de Mercado de Trabalho da entidade. Ele prevê que o processo de deterioração tende a evoluir ao longo de 2016, dado que a atividade econômica ainda não mostra sinais de recuperação. “O movimento de queda não se reverte este ano. A resposta do mercado de trabalho tende a ser mais lenta”, avaliou.

O economista Rodrigo Myamoto, do Itau Unibanco, registra que é a 17ª queda seguida do emprego na Pnad Contínua. “A fraqueza da atividade econômica deve contribuir para a continuidade da deterioração no mercado de trabalho. Este quadro reforça o encolhimento no consumo das famílias em 2016”, sintetizou.

 



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