Observatório econômico O elefante e a lebre

Publicado em: 24/04/2016 08:00 Atualizado em: 22/04/2016 20:48

Por Fernando Dias (*)

Fernando Dias é professor do departamento de Economia da UFPE. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação
Fernando Dias é professor do departamento de Economia da UFPE. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação
Pelo seu gigantismo paquidérmico, que vem desde a segunda guerra mundial, espera-se que a Economia norte-americana se mova cada vez mais devagar enquanto os ágeis países em desenvolvimento sejam lebres tentando alcançá-la. Mas não é bem isso que vem ocorrendo!


Questões de crescimento são tão antigas na literatura econômica quanto seu primeiro clássico, A Riqueza das Nações, e desde então inúmeros economistas têm tentado explicá-las. Em função da natureza multifacetada do fenômeno econômico é incrivelmente difícil estabelecer os parâmetros exatos que podem explicar o crescimento e, consequentemente, traçar linhas de base para guiar a formulação de políticas que inequivocamente levem a ele.

Atualmente, o gigante da vez é a economia norte-americana, um paquiderme se comparada às economias que a seguem e apresentando o maior PIB absoluto e um dos maiores PIB per-capita do planeta. Pelo seu gigantismo paquidérmico, que vem desde a segunda guerra mundial, espera-se que ela se mova cada vez mais devagar enquanto os ágeis países em desenvolvimento sejam lebres tentando alcançá-la. Mas não é bem isso que vem ocorrendo.

Com efeito, dados do Banco Mundial para a América do Sul, por exemplo, mostram que se considerarmos Brasil (o maior), Argentina (a mais europeia) e a Venezuela (o oriente médio na América), apenas o Brasil apresenta desempenho significativamente superior aos Estados Unidos. Para os outros dois países, o desempenho é praticamente o mesmo do elefante. Mesmo no caso do Brasil, o que faz a diferença mesmo é o período do milagre econômico, se nele mantivéssemos a média da época (4%) também empataríamos com nossos vizinhos.

O que fazer? Na década de 1980 se sugeriu um conjunto de 10 medidas conhecidas como o Consenso de Washington e são elas: disciplina fiscal, redução dos gastos públicos, reforma tributária, juros de mercado, câmbio de mercado, abertura comercial, investimento estrangeiro direto, privatização, desregulamentação dos mercados e direito à propriedade intelectual. Tais medidas, em que pese terem sido taxadas de corolário neoliberal, se constituíram em um guia aplicado em diversos países nas décadas seguintes.

Funcionou? Não completamente. Ficou claro que apenas seguir um corolário não é suficiente para provocar uma espiral de crescimento, assim como que havia lacunas nas sugestões iniciais tais como investimentos em capital humano e desenvolvimento das instituições. Por outro lado, o desempenho das nações também sugeriu que se afastar completamente destes ideários, do ponto de vista puramente econômico, geralmente leva a resultados desanimadores. A necessidade de adaptar as soluções disponíveis à realidade local se mostra determinante para um padrão de crescimento a ser traçado, elevando a importância da boa governança para o desenvolvimento das nações. Em outras palavras, ser conservador demais é pouco efetivo, mas apelar para o exotismo costuma levar ao desastre.

E como fica, então, a nossa corrida? Bem, em tese somos a lebre querendo ser rica como o elefante, mas para alcançá-lo precisamos ser estratégicos. Ao contrário do que se pensa, elefantes são velozes e resistentes. Já as lebres explodem em velocidade mas cansam logo, não vão ganhar do elefante em uma corrida de longa distância. É preciso correr com sabedoria para se transformar em um paquiderme, e não morrer de exaustão no meio da pista enquanto o velho elefante se distancia.

(*) Professor do Departamento de Economia da UFPE.

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