Seu bolso Você sabe por que os ovos de Páscoa são caros? Entenda as razões Demanda alta, sazonalidade e tradição da época fazem com que os consumidores paguem valores elevados no produto, dizem especialistas

Por: Augusto Freitas

Publicado em: 10/03/2016 09:50 Atualizado em: 10/03/2016 10:39

Em países onde não há a tradição da Páscoa o chocolate é bem mais barato; Nos EUA, por exemplo, um ovo de chocolate custa cerca de US$ 1,99, algo em torno de R$ 7. Foto: Alcione Ferreira/ Arquivo DP
Em países onde não há a tradição da Páscoa o chocolate é bem mais barato; Nos EUA, por exemplo, um ovo de chocolate custa cerca de US$ 1,99, algo em torno de R$ 7. Foto: Alcione Ferreira/ Arquivo DP

Faltando 18 dias para a comemoração do Domingo de Páscoa, data bastante significativa e rentável para a indústria de chocolates, a pergunta é: você já comprou o famoso ovo para presentear alguém? Se a resposta for sim, saiba que provavelmente poderia ter economizado na compra; se não comprou, possivelmente, e se estiver disposto a entender como as empresas chegam aos preços, altos por sinal, talvez mude de ideia. Ainda mais considerando a inflação atual em dois dígitos.

A análise passa, de antemão, por um ponto primordial para entender o valor que você paga pelos ovos de Páscoa. E ele é bem simples: a tradição da data. Entenda-se, então, a simbologia que envolve a época e a sua afeição às pessoas aliada à questão religiosa, ou seja, a ressurreição de Jesus Cristo. Mas o que isto tem a ver com preços? Na teoria e na prática da microeconomia, tudo. A razão é simples também: economicamente falando, demanda maior requer preços mais elevados.

“Para entender como as empresas chegam aos valores, vale avaliar certas equações matemáticas, considerando, entre outros itens, a elasticidade preço-demanda, custo marginal de produção e transporte, lucros e receitas. Em outros países com menos apego à data, o mesmo ovo, fabricado no Brasil, com custo de transporte maior, é mais barato. Nos Estados Unidos, por exemplo, um ovo de chocolate custa cerca de US$ 1,99, ou em média R$ 7”, explica Wanderson Martins, economista graduado pela Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV/EESP).


Exemplo: imagine que um ovo de chocolate custa R$ 40 e, a esse preço, é possível vender 1000 ovos. Se o valor subir R$ 4, espera-se que sejam vendidos menos de 1000 ovos, já que algumas pessoas desistirão de comprar por conta do aumento de preço. Suponha, então, que 200 pessoas deixem de comprar e a demanda cai para 800 pessoas. O preço subiu 10%, enquanto a quantidade demandada caiu 20%. Nesse caso, a elasticidade é 20%/10%=2.

“O brasileiro dá muita importância ao ovo de Páscoa que os estrangeiros não dão. Isso não acontece apenas com o ovo de chocolate, mas com outros produtos em geral no mercado brasileiro. Os consumidores são muito sensíveis a mudanças de preços. Se a elasticidade preço-demanda é menor, isso significa que o mercado é pouco sensível a mudanças de preço”, esclarece Martins, que também é colaborador do blog Terraço Econômico.

Valores
Segundo economista, o preço de uma mercadoria pode ser calculado a partir do custo marginal de produção. Isso significa o quanto a fábrica gasta para produzir e transportar uma unidade de ovo de Páscoa. Em outro exemplo imaginário, suponha que para a fábrica a produção e transporte de um ovo de páscoa custe R$ 10 e que o mercado é extremamente sensível ao preço, ou seja, muito elástico. Se a indústria gasta os mesmos R$ 10 reais para fabricar e transportar o ovo, mas com o mercado pouco sensível ao preço, a tendência é você pagar o quanto for pelo ovo.

“A culpa é nossa, dos consumidores, que compramos os ovos. Prevalece, no fim das contas, mesmo em tempos de crise econômica, a simbologia da data. É o que chamamos na economia de 'excedente do consumidor', que é a disposição do quanto ele vai pagar pelo produto. As empresas conhecem os consumidores e sabem como determinar os preços”, reforça a professora de economia da Faculdade Boa Viagem (FBV/DeVry), Amanda Aires.

Além da questão analítica e cálculos matemáticos, outro ponto também é determinante para a definição dos preços. O ovo de Páscoa tem como principal matéria-prima o cacau, uma das principais commodities, vulnerável ao câmbio. Para a Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (Abicab), os motivos que influenciaram no aumento dos preços, além da inflação, são aumento da moeda norte-americana, uma vez que “o cacau é vendido em dólar nas bolsas de Nova Iorque e Londres”, além do açúcar e leite, impostos, contratações temporárias para a data e aumento do combustível.

Em 2015, segundo a associação, a Páscoa foi responsável pelo acumulado de 19,7 mil toneladas de chocolate produzidas pela indústria e chocolaterias, o que correspondeu a cerca de 80 milhões de ovos de Páscoa em todo o Brasil. O país é o terceiro maior consumidor e produtor do mundo de chocolates, atrás apenas dos Estados Unidos e Alemanha, com consumo per capita de 2,5 kg/ano. De janeiro a setembro de 2015, a produção caiu 10% em relação ao mesmo período de 2014.

“A retração é reflexo da atual crise econômica brasileira, que trouxe como consequências o aumento da inflação, PIB cada vez menor, aumento do preço de combustíveis e crescimento de desemprego”, conclui Ubiracy Fonseca, vice-presidente de chocolate da Abicab. “O total ficou estável se comparado a 2014, quando foram produzidas 19,4 mil toneladas do alimento. O volume de 2016 ainda não está fechado, pois as indústrias ainda estão produzindo os ovos de Páscoa e outros produtos de chocolate”, afirmou Fonseca.

Camilo Lima diz que palha italiana ou brigadeiros gourmet são opções viáveis diante do atual cenário econômico. Foto: Arquivo Pessoal
Camilo Lima diz que palha italiana ou brigadeiros gourmet são opções viáveis diante do atual cenário econômico. Foto: Arquivo Pessoal

Alternativas
Se você, diante de todo o cenário econômico, inflação alta e aperto no orçamento, resolver não comprar o famoso, tradicional e caro ovo de chocolate, tem soluções interessantes para a data não passar em branco. A proposta é a mesma: demonstrar seu carinho com delícias pagando mais em conta, afinal a decisão de comprar ou não ovos de Páscoa é sua. Se quiser, vale deixar para comprar depois do dia 27, já que as redes varejistas liquidam os ovos, na maioria das vezes quebrados.

“Não temos mais tempo para encomendas de Páscoa. Diante da crise na economia, muitas pessoas estão preferindo dar outros tipos de produtos à base de chocolate, como brownies, brigadeiros gourmet e palhas italianas”, conta o empresário Camilo Lima, 33, um dos proprietários da Dona Palha, especializada na fabricação de palha italiana. Esta opção, segundo ele, é bastante viável diante do atual cenário econômico. “Temos caixas personalizadas com quatro e oito unidades de palhas italianas, nos sabores chocolate e leite ninho, entre R$ 12 e R$ 20”, conta Lima.

Rafaella Magna, 27, jornalista de formação e também empresária, aponta outros fatores para os consumidores recorrem a brigadeiros gourmet. “São alternativas acessíveis que despertam a curiosidade o paladar das pessoas”, destaca. Magna é proprietária da Brigadeli Gourmet e fabrica brigadeiros, tortinhas e brownies. Este ano, os consumidores têm como alternativas potes e caixas com preços interessantes. “Há potes com brownies ou brigadeiros com o hastag especial da Páscoa, por R$ 16. Nas caixas, as opções são quatro ou 12 brigadeiros, de R$ 10 a R$ 24. A procura tem sido muito grande, já que os ovos estão mais caros.  

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