Observatório econômico Agricultura

Publicado em: 07/03/2016 19:48 Atualizado em: 01/04/2016 19:28

Por Carlos Magno Lopes é Professor do Departamento de Economia da UFPE. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação
Por Carlos Magno Lopes é Professor do Departamento de Economia da UFPE. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação
Por Carlos Magno Lopes*

O USDA agricultural projections to 2025 (fevereiro, 2016), publicado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), faz estimativas de longo prazo animadoras sobre a agropecuária brasileira até 2025, que em nada lembram as perspectivas sombrias da economia do país, em particular da indústria, senão vejamos:

1) O Brasil continuará como o maior exportador de soja até 2025/2026, com acréscimo de área plantada superior a 6 milhões de hectares, mais da metade do total mundial. As exportações de soja aumentarão em 19,6 milhões de toneladas, alcançando 76 milhões de toneladas;

2) O Brasil continuará a ser o maior exportador de carne de frango até 2025/2026, com acréscimo nas vendas externas de quase 1,3 milhões de toneladas, um incremento de 32% em relação a 2016/2017. No tocante à carne suína, as estimativas indicam que o Brasil será o segundo maior país exportador, com exportações crescendo, em média, 4,0% a.a. até 2025/26. As exportações de carne bovina brasileira também devem aumentar em 2,8 milhões de toneladas, no mesmo período, tornando o Brasil o segundo maior exportador mundial, depois da Índia;

3) O Brasil exportou, em média, 25 milhões de toneladas de milho nos últimos cinco anos. Na safra 2025/2026, segundo as estimativas, as exportações atingirão 31,1 milhões de toneladas, perdendo apenas para os Estados Unidos;

4) A área plantada de algodão deverá crescer significativamente, contribuindo para exportações da ordem de 3,7 milhões de fardos até 2025/2026, segundo o USDA. Caso as previsões se confirmem, o Brasil será o maior exportador de algodão do mundo.

As projeções de longo prazo do USDA confirmam o que já se sabe: o Brasil é, de fato, uma potência agrícola mundial, além de ser o país com prognóstico mais favorável para aumentar a produção. Isso não é pouco, principalmente quando observadas as perspectivas sofríveis da indústria brasileira. Perguntará o curioso leitor: por que a trajetória desses setores projetam rumos tão distintos?
As políticas de desenvolvimento industrial no Brasil, desde pelo menos os anos 1950, regra geral, têm como fundamento a concessão de subsídios gigantescos e indiscriminados, além do protecionismo comercial ao setor. Políticas desse tipo travam a inovação, a produtividade e a competitividade nos mercados globais. É o atraso.

A descoberta de que as terras do cerrado não eram imprestáveis para agricultura, nos anos 1970, como se acreditava, representa o ponto de partida para a dinâmica agropecuária brasileira. Desde então, com foco na produção de excedentes exportáveis (o mercado doméstico não basta), na pesquisa, no comportamento dos empresários ante os riscos, em instrumentos eficientes de financiamento e na integração aos mercados mundiais, a agropecuária brasileira cresceu e o país se tornou uma potência agrícola. Foi simples assim.

*Professor do Departamento de Economia da UFPE

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