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Observatório econômico Acredita em duende?

Publicado em: 27/03/2016 08:00 Atualizado em: 01/04/2016 19:35

Fernando Dias é Professor do Departamento de Economia da UFPE. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação
Fernando Dias é Professor do Departamento de Economia da UFPE. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação
Por Fernando Dias*

Na mitologia irlandesa duendes são criaturas mágicas que, se capturadas, podem render um pote de ouro. Muito astuciosas e inteligentes, contudo, capturá-las já seria um feito e conseguir o pote de ouro seria um milagre. Já no Brasil empresários, investidores e economistas se debruçam em uma tentativa quase mágica de tentar prever os rumos de nossa economia pois, afinal, sem previsões razoáveis não há investimento. Já sem investimento, a recessão de hoje se perpetua na recessão de amanhã.

Por maior que seja o arsenal de métodos que os analistas têm hoje é muito difícil prever, a médio e longo prazo, o comportamento da economia brasileira. Mesmo removendo da equação a crise política que por si já cria um componente errático nas previsões, ainda assim a sinalização que é dada pelo Estado destrói qualquer modelo razoável. Apenas para pontuar a atual situação, considere-se alguns elementos que surgiram nos últimos 24 meses.

A economia brasileira se estagnou desde 2014, com aceleração da inflação via aquecimento da demanda em anos anteriores, e deterioração das finanças públicas em função do descompasso entre os gastos e as receitas. Em um ambiente eleitoral, o atual governo pregou a manutenção dos gastos públicos em níveis elevados para acelerar o crescimento e expandir os gastos sociais. Iniciando o novo mandato, o mesmo governo optou por uma política restritiva dos gastos e revisão dos gastos sociais sob alegação de que a inflação subiu em função da conjuntura externa negativa em um momento em que o mundo crescia.

Um pouco mais adiante, com falta de resultados de sua política inicial, o governo troca o comando da Fazenda e conduz o gestor da política de expansão dos gastos para gerenciar uma política de redução dos gastos. Paralelamente, o governo anuncia novos pacotes de obras públicas sem recursos, e conta com a arrecadação extraordinária de concessões de serviços públicos a parceiros privados, enquanto setores do próprio governo criticam essas concessões, apontando-as como causa das disfunções encontradas no mercado.

Enquanto isso, com a inflação resistente e o PIB descendo ladeira abaixo, o governo explica que a inflação subiu, em parte, porque o preço do petróleo caiu, e como os custos caíram os preços subiram. Já para o PIB, permanece em 2015 a explicação que se deve ao fato de os demais países do mundo estarem crescendo e com isso exportamos mais e o produto cai. Fechando o cenário, os economistas do partido do governo recomendam como saída para a crise a expansão dos gastos públicos e uma política monetária expansionista, pois, com isso, o déficit público vai cair, assim como a inflação. Entenderam??? Eu não, e acredito ser difícil alguém ter conseguido extrair a lógica de nossos tomadores de decisão e transformar isso em previsão viável.

A continuar desta forma, acreditar no governo se torna um pouco como acreditar que vai capturar um duende. Será quase impossível fazê-lo, e mesmo que o faça é quase certo que ele vai lhe passar a perna!

Para investir é preciso pensar no futuro, e é necessário mais que fábulas para sustentar a aposta.

*Professor do Departamento de Economia da UFPE

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