Bebidas Cresce no Recife a produção e o consumo de cervejas artesanais Mais recente lançamento, a Ekaüt chega com duas pilsners, inspiradas em receitas alemães e tchecas, e uma India Pale Ale

Por: Augusto Freitas

Publicado em: 15/01/2016 10:00 Atualizado em: 15/01/2016 17:15


Nos últimos três anos, mudou o cenário do ramo de cervejas e chopps no Recife, acompanhando uma tendência nacional onde os apreciadores da bebida passaram, também, a consumi-la na forma artesanal, fugindo das comuns vendidas nos bares e restaurantes. Com ingredientes exclusivos, receitas inspiradas em países de tradição, como Alemanha, Bélgica, Holanda, Irlanda e República Tcheca, entre outros, e excelente qualidade, as loiras geladas estão ganhando cada vez mais adeptos.

Ontem, Pernambuco ganhou mais uma nova marca de cerveja e chopp artesanais, a Ekaüt, que iniciará sua produção em uma fábrica na Guabiraba, Zona Norte do Recife. À frente da empreitada estão os empresários Diogo Chiaradia e André Turton, que apresentaram ao mercado cervejeiro duas pilsners, inspiradas em receitas alemães e tchecas, e uma India Pale Ale (IPA) irreverente, feitas com insumos de altíssima qualidade, vindos de conhecidos recantos cervejeiros do mundo. A empresa também vai trabalhar com matérias-primas vindas da República Tcheca, Bélgica e Estados Unidos. Confira vídeo especial sobre a Ekaüt.

 

Empresários Diogo Chiaradia e André Turton apresentaram ao mercado cervejeiro duas pilsners, inspiradas em receitas alemães e tchecas, e uma India Pale Ale. Foto: Peu Ricardo/Esp. DP
Empresários Diogo Chiaradia e André Turton apresentaram ao mercado cervejeiro duas pilsners, inspiradas em receitas alemães e tchecas, e uma India Pale Ale. Foto: Peu Ricardo/Esp. DP

Para produzir as bebidas, a cervejaria convocou a mestre cervejeira Kátia Jorge, uma das mais requisitadas do país e com formação nas mais tradicionais escolas europeias. Os produtos fabricados pela Ekaüt serão comercializados em forma de chopp e em garrafas, tudo com o selo premium que a marca propõe. Inicialmente, o produto estará apenas no mercado pernambucano sob a forma de chopp, mas os planos são ousados e incluem a expansão para outros estados e exportação. A Ekaüt foi lançada oficialmente no recém-aberto pub Beerdock, na Madalena, na tarde de ontem.

Das mesas da capital às do interior
O mercado do segmento cresce a todo vapor. No Recife, há desde lojas que comercializam vários rótulos de diferentes produtores até estabelecimentos com a oferta de insumos, como malte, lúpulo e levedura, e equipamentos, a exemplo de moedores, panela de fundo falso, termômetro, densímetro, espumadeira e outros mais específicos. Na loja da Mestre Cervejeiro.com de Boa Viagem, os apreciadores encontram 70% de rótulos nacionais e 30% internacionais. O local é comandado pelos empresários Newton César Neto e Manuela Kirzner.

“Hoje temos mais rótulos nacionais por conta da alta do dólar. Das cervejas e chopps artesanais locais, oferecemos a DeBron, em chopp, e Capunga, já envasada. Mas a ideia é expandir com outras marcas, como Estrada, produtora da Rota 66, Duvália e a Ekaüt. Em lojas franqueadas, só podemos comercializar produtos já certificados pelos órgãos de legislação sanitária”, diz Newton César.


Newton César Neto e Manuela Kirzne comandam a Mestre Cervejeiro.com, em Boa Viagem, com extensa variedade de rótulos nacionais e internacionais. Foto: Breno Pessoa
Newton César Neto e Manuela Kirzne comandam a Mestre Cervejeiro.com, em Boa Viagem, com extensa variedade de rótulos nacionais e internacionais. Foto: Breno Pessoa

O boom do mercado, segundo Newton, ocorreu em 2015. Dados da Associação Brasileira de Cerveja Artesanal (Abracerva) apontam um crescimento de 20% no último ano, sinal de que mesmo com crise econômica os brasileiros continuam apreciando boas cervejas artesanais nacionais. “Um ano atrás não havia pubs no Recife que vendessem cervejas e chopps artesanais locais, mas o cenário mudou e elas vieram para ficar”, reforça Newton. Na Mestre Cervejeiro, o consumidor encontra chopps com preço médio de R$ 7, R$ 8, e cervejas entre R$ 16 e R$ 18, dependendo dos rótulos.

Na Zona Norte do Recife, há até encontro para os apreciadores da bebida, que se reúnem na CiBrew, uma loja especializada na venda de insumos e equipamentos para os que pretendem se tornar produtores artesanais. O estabelecimento está localizado na Avenida Norte Miguel Arraes de Alencar, em frente ao Pronto Socorro Infantil Jorge de Medeiros. “Já desenvolvemos um projeto-escola para novos produtores de cervejas artesanais e a ideia é nos tornarmos uma incubadora do segmento”, destaca Felipe Muniz, um dos sócios da CiBrew, ao lado de Manoela Constantino e José Oliveira.

Quem pensa que a produção se restringe à capital pernambucana se engana. Em Caruaru, o cientista social e bancário Sidartha dos Santos Duque, 40, possui uma pequena produção particular, mas tem planos de tornar o produto comercial. Considerado um pioneiro na produção de cerveja artesanal na Capital do Forró, ele está em fase de regularização da marca Duque Cervejeiro, com receitas caprichadas de American Pale Ale, witbier e uma lager, que intitulou de Indian Pilsen Lager, cujo rótulo é a Diablo Angel, em homenagem à banda musical do cunhado. Tem também a cerveja Duque, que fica pronta entre 21 e 45 dias.

“Minha produção é particular, mas hoje posso produzir até 300 litros por mês. E o mais engraçado nessa história é que montei todo o equipamento com uma caixa de ferramentas e três furadeiras, do meu sogro. Quebrei todas pelo uso exaustivo, mas ele adora a cerveja. Para produzir a Duquesa, o processo é basicamente o mesmo: brasagem, fermentação, maturação e envase. O tempo de cada processo depende do estilo que estou fazendo. O segredo de fazer uma boa cerveja está na sanitização. Se não houver uma boa sanitização não vira cerveja, pois a levedura morre com o ambiente contaminado”, conta.

Projeto na Câmara

De acordo com a Agência Câmara, tramita na Câmara dos Deputados, deste 2013, um Projeto de Lei (5191/13), que regula o mercado de cervejas artesanais no Brasil. Pelo texto, fica definido que o estabelecimento produtor da bebida deve estar localizado em área urbana e que a produção anual não ultrapasse a marca de 30 mil litros. A proposta, porém, não tem obtido consenso nas discussões entre os parlamentares, tanto que o mérito da questão ainda não foi votado por nenhuma comissão.

Na Comissão de Desenvolvimento Econômico, foi sugerida a aprovação da proposta com uma emenda, alterando de 30 mil para 500 mil litros o limite de produção de cerveja artesanal por ano. Já na Comissão de Agricultura, houve um parecer contrário à aprovação do projeto, por entender que o conceito de cerveja artesanal está equivocado no texto. Para a  comissão, a produção artesanal não é definida pelo volume, mas sim pelo processo produtivo desenvolvido pelo artesão cervejeiro. Membros da Comissão de Agricultura defendem também que, além da regulamentação, o produtor de cerveja artesanal precisa, na verdade, ser taxado segundo as regras do Supersimples (tributação unificada), que reduziu os tributos das micro e pequenas empresas (MPEs), mas não beneficiou as pequenas cervejarias brasileiras.

A Abracerva discorda sobre os limites de produção, mas concorda sobre a melhor adequação tributária do setor, que tem nos impostos federais o seu principal problema. “Não há regras para o funcionamento de uma pequena cervejaria, atualmente. Mesmo assim, registramos no ministério da Agricultura todas as fórmulas das cervejas. Nosso principal problema, porém, é relacionado à questão tributária federal. Atualmente, pagamos 60% de tributos para apenas uma cerveja, o que é inviável para uma empresa pequena. Quem colocar todas as contas na ponta do lápis, hoje, certamente não vai abrir uma microcervejaria”, disse Jorge Gitzler, presidente da Abracerva, em entrevista recente à Agência Câmara.

Sem definição, a regulação das cervejarias artesanais continua sendo discutida na Câmara e a proposta será mais uma vez analisada pelas comissões de Agricultura e Desenvolvimento Econômico. Se aprovado for aprovado, o projeto será analisado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).

Concurso

Os apreciadores e produtores de cervejas têm até concursos para participar. O período de inscrições para a quarta edição do Concurso Brasileiro de Cervejas, que será realizado em março, em Blumenau (SC), acaba hoje. A organização do certame pede que os cervejeiros se apressem em suas inscrições e evitem ficar de fora na eleição das melhores cervejas brasileiras. Não serão aceitas inscrições fora do prazo.

Podem concorrer as cervejas produzidas em território nacional, cujos produtos estejam regularizados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Na edição 2016, foram implementadas novas regras e informações para quem já regularizou mas ainda não está comercializando.



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