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Análise O Brasil tem jeito: as razões da crise econômica no Brasil No segundo dia da série, o economista Alexandre Rands, presidente do Diario e da Datamétrica, analisa as razões da crise econômica

Por: Alexandre Rands

Publicado em: 05/01/2016 08:05 Atualizado em: 08/01/2016 14:49

Apesar de ter sido propagado pelo governo federal que o Brasil não estava crescendo por causa da crise internacional, as razões de nossa recessão atual estão nos erros de condução da política econômica após 2010, sendo esta conduzida pela presidente Dilma Rousseff. Tanto que o Brasil cresceu em média apenas 1,03% ao ano entre 2010 e 2015, bem menos do que nossos pares na América Latina, que conjuntamente cresceram em média 2,80% nesse mesmo período (dados do TED, Conference Board). Ou seja, o crescimento brasileiro foi menor do que metade do verificado nos demais países da América Latina.

Quando a crise internacional foi gerada (em 2008), o Brasil ainda não havia esgotado a sua capacidade de crescimento puxado pela demanda, algo que tinha sido iniciado desde 2003. Ainda havia capacidade ociosa na economia, que se tornou ainda maior imediatamente após a crise internacional em 2008. Além disso, ainda contávamos com a possibilidade de aumentar a produtividade deslocando mão de obra de atividades menos eficientes, geralmente no setor informal, para outras mais eficientes.

Quando a demanda foi instigada, a produtividade do trabalho cresceu 7,16% entre 2008 e 2011, continuando processo que já vinha ocorrendo desde 2003. Apenas em 2012 a economia apresentou sinais claros de que havia esgotado sua capacidade de crescer sem que houvesse aumentos da produtividade total dos fatores de produção. Redistribuição de mão de obra entre atividades já não geraria mais crescimento da produtividade média. Essa mudança do padrão de crescimento possível a partir de então não foi percebida pelo governo federal.

A partir de meados de 2012, seriam necessárias políticas voltadas ao aumento da produtividade total dos fatores, como reforma da legislação trabalhista, simplificação dos processos tributários e desburocratização.  Políticas de incremento da demanda apenas gerariam inflação. Ao invés de adotar as políticas adequadas, a escolha do governo foi incentivar gastos com o intuito de elevar a demanda agregada. Para isso expandiu o crédito via bancos públicos e reduziu a taxa de juros, além de aumentar os gastos do governo. Ou seja, o governo adotou políticas que ao invés de aumentar a produtividade, apenas impulsionariam a demanda e a inflação. Para completar, tentando controlar a inflação, o governo ainda segurou os preços dos combustíveis e energia elétrica e interveio no mercado cambial (swaps) para reduzir o preço do dólar.

Com isso, criou ainda uma bomba relógio que se sabia teria que explodir em algum momento no futuro. Paralelamente, o governo intensificou sua política de intervenção discricionária em regras pré-estabelecidas. Criação de incentivos fiscais provisórios para setores específicos é um exemplo dessas intervenções. Como consequência dessas intervenções, aumentaram as incertezas na economia, o que reduziu a produção e a ampliação da capacidade instalada. Ou seja, o governo federal fez tudo errado para o momento em que o país vivia.

A consequência foi a queda sistemática da taxa de crescimento do PIB e elevação da inflação desde final de 2012. As distorções de preços relativos causados com as políticas discricionárias de benefícios setoriais ainda contribuíram para a queda da produtividade total dos fatores e freio dos investimentos. Ou seja, a economia brasileira logo começou a apresentar sinais de convalescência diante da medicina errônea para curar os problemas que ela efetivamente apresentava. O resultado foi a crise que vivemos neste momento, que é uma das maiores da história recente do nosso país.

Amanhã, a terceira das sete análises da série O Brasil tem jeito abordará O que foi feito pelo governo federal.


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