Impacto da Lava Jato BTG Pactual corre para vender empresas Além da fatia de 12% da rede D'Or, que já está em conversas avançadas com o fundo soberano de Cingapura

Por: Agência Estado

Publicado em: 01/12/2015 09:41 Atualizado em:

O BTG Pactual está acelerando a venda de seus ativos considerados mais atraentes no mercado para levantar recursos em momento considerado crítico para o banco. Além da fatia de 12% da rede D'Or, que já está em conversas avançadas com o fundo soberano de Cingapura, o GIC, as vendas das participações do banco na rede de estacionamentos Estapar, no Uol e na Petro África também estariam em andamento, apurou o jornal "O Estado de S. Paulo". Fontes dizem que o banco talvez tenha de aceitar deságios de 15% a 20% para encontrar compradores.

O banco pretende se desfazer de todos os negócios que estão sob o guarda-chuva de "principal investments", que incluem investimentos diretos do BTG em participações em empresas, títulos e ativos imobiliários, informou uma fonte próxima ao banco.

Entre 2010 e 2012, o BTG entrou em mais de 40 negócios, nos mais variados setores, de óleo e gás a mineração, de lojas de departamentos a redes de farmácias.

Algumas das empresas que o BTG tem participação já estavam à venda, mas a prisão do banqueiro André Esteves, na quarta-feira passada, 25, dentro da Operação Lava Jato, que investiga corrupção na Petrobras, acelerou o processo.

O primeiro ativo a ser vendido, como publicado no domingo, 29, no portal de internet do jornal O Estado de S. Paulo, é a rede D’Or, que administra hospitais. É considerado o melhor ativo em private equity (fatias de companhias) do BTG - a fatia de 12% que a instituição detém valeria cerca de R$ 2 bilhões.

O principal interessado no ativo é o fundo soberano de Cingapura o GIC, que adquiriu 16% da D’Or em maio, por R$ 3,2 bilhões.

À venda

Depois da D'Or, a rede de estacionamentos Estapar, que está no portfólio do banco desde 2009, é a que atrai mais interesse. Segundo apurou o jornal O Estado de S. Paulo, o ativo poderia render cerca de R$ 400 milhões à instituição (o BTG tem 75% da empresa). O banco também estaria negociando sua fatia de 5,4% na empresa de mídia UOL e a Petro África, parceria com a Petrobras que administra refinarias em países africanos.

A venda da rede D’Or tem chances de sair mais rápido porque o GIC já conhece bem o ativo. "Eles estão muito satisfeitos com o investimento", diz uma fonte com conhecimento do assunto. A Estapar também já teria interessados, incluindo a rede de estacionamentos concorrente Moving.

Apesar desta negociação, a aposta do mercado é que a venda do negócio ainda leve algum tempo. "Acho que não deve sair imediatamente", afirma uma fonte.

Procurado, o BTG não quis se pronunciar. Rede D'Or e Estapar não quiseram comentar o assunto. O GIC e o UOL não retornaram os pedidos de entrevista da reportagem até o fechamento desta edição. A Moving não foi encontrada.

Problemas
Parte do restante do portfólio de empresas do BTG é considerado problemático pelo mercado - o interesse de investidores pelos demais ativos é limitado. A BR Pharma, braço de varejo farmacêutico do banco, tem dívida superior a R$ 800 milhões e problemas de administração. A instituição havia se comprometido a aportar mais R$ 600 milhões para dar nova vida ao negócio.

O investimento deveria ser formalizado agora em dezembro, mas, de acordo com fontes, a prisão de Esteves deve inviabilizar a operação.

Outro negócio de varejo, a rede fluminense Leader, também é vista como uma compra ruim do BTG e está passando por um processo de reestruturação comandado por Enéas Pestana, ex-presidente do Grupo Pão de Açúcar.

A BR Properties, empresa de ativos imobiliários e que tem o grupo canadense Brookfield como um dos fortes interessados, vai fazer nesta terça-feira, 1º de dezembro, em Bolsa venda de um bloco de ações - 17,8 milhões de papéis ordinários (ou 5,9% do total) como forma de levantar recursos rapidamente para a operação. Procurada, a BR Properties não retornou os pedidos de entrevista.

Na opinião de fontes ouvidas, mesmo esses ativos pouco atraentes precisariam ser vendidos o mais rápido possível pelo BTG. "Se alguém quiser levar, mesmo pagando muito pouco, seria vantagem, pois o banco poderia desativar a área de private equity e cortar custos", diz uma fonte de mercado. "Não dá para o BTG fingir que está fazendo essas vendas em condições normais."

Credibilidade
Correr contra o tempo para vender ativos nunca foi posição vantajosa para banco algum, ponderou outra fonte do setor. "O BTG está fazendo o que deve ser feito para resolver o problema de curto prazo (venda de ativos), mas não sabemos se será suficiente para recuperar a credibilidade perdida com a prisão de André Esteves", disse um banqueiro à reportagem.

Mesmo que o banco arrecade o suficiente para manter a operação e a participação de Esteves seja comprada, outro banqueiro diz que há a questão da credibilidade da marca. "São muitos escândalos juntos. Será que os investidores terão coragem de confiar seu dinheiro ao BTG?", questiona. As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".

MAIS NOTÍCIAS DO CANAL